Josef S., um antigo guarda de um campo de concentração nazi, em Berlim, começou esta quinta-feira a ser julgado pelo assassínio de mais de 3.500 prisioneiros. Aos 100 anos de idade, Josef S. torna-se na pessoa mais velha a ir a julgamento pelos crimes cometidos pelo regime nazi. Esta sexta-feira, no segundo dia de julgamento, Josef S. afirmou perante o juiz que está “inocente”.
“Estou inocente”, disse Josef S., citado pela AFP. O homem de 100 anos está acusado de cumplicidade de 3.518 prisioneiros no campo de concentração de Sachsenhausen, em Oranienburg, a norte de Berlim. Quando questionado sobre as funções que desempenhou no campo, disse não saber “absolutamente nada” sobre o que lá se passou.
De acordo com a Deutsche Welle, Josef S., que também fazia parte das SS, desempenhou o cargo de guarda numa torre de vigia no campo de concentração de Sachsenhausen entre 1942 e 1945, tendo começado a exercer funções aos 22 anos de idade. Está acusado de ser cúmplice no assassínio de prisioneiros de guerra soviéticos e de prisioneiros envenenados com o gás tóxico Zyklon-B. No total, Josef S. é responsabilizado por 3.518 mortes. A acusação refere ainda que os prisioneiros do campo foram levados à morte através da “aplicação e manutenção de condições desumanas”.
No primeiro dia de julgmento, o homem de 100 anos chegou ao tribunal de cadeira de rodas, com uma pasta com a qual tapou o rosto.
O réu vive na área de Brandenburgo e nunca falou publicamente sobre as acusações de que é alvo. Antes do julgamento, uma equipa médica concluiu que, apesar da idade avançada, Josef S. tem condições para falar perante o tribunal. No julgamento, que deverá durar até janeiro, estão previstas 22 sessões, sendo que cada uma delas não poderá ultrapassar as duas horas e meia.
No tribunal em Berlim, estavam familiares de vítimas do regime nazi que estiveram no campo de concentração, mas também pessoas que passaram por Sachsenhausen. “É o último julgamento para os meus amigos, conhecidos e entes queridos que foram assassinados”, disse Leon Schwarzenbaum, um sobrevivente do campo de concentração, de 100 anos de idade, citado pela BBC.
“São muitas emoções. Não consigo falar”, disse à Reuters Antoine Grumbach, de 79 anos, filho de um combatente francês que morreu em Sachsenhausen.
Nos últimos anos, vários guardas e colaboradores do regime nazi têm sido levados a tribunal, algo que se tornou possível após o precedente aberto em 2011, com a condenação de John Demjanjuk, um ex-guarda das SS.
Na semana passada, Irmgard Furchner, uma antiga secretária nazi de 96 anos, deveria ter comparecido em tribunal para começar a ser julgada de cumplicidade na morte de milhares de judeus. No entanto, a mulher fugiu no dia em que se devia sentar pela primeira vez no banco dos réus , embora acabasse por ser detida horas depois, em Hamburgo. O seu julgamento foi adiado para 19 de outubro.
Notícia atualizada às 11h30 de 08/10 com as primeiras declarações de Josef S. em tribunal.