O imaginário do filme “O Clube dos Poetas Mortos”, protagonizado por Robin Williams, continua a ilustrar, mais de 30 anos depois, a relação mágica que pode ser criada entre mestres e aprendizes no espaço físico de uma sala de aula. Transpor essa dimensão imaterial para uma interface bidimensional, através de ecrãs e microfones, não é tarefa fácil e, para a maioria, é mesmo considerada impossível de replicar.

A experiência tem permitido, por um lado perceber quais as soluções que funcionam melhor, mas por outro poderá criar anticorpos que dificultem a adesão aos modelos digitais, numa perspetiva de aplicação a curto prazo.  O ensino híbrido, conjugando as dimensões física e virtual, coloca múltiplos desafios a todos os intervenientes no processo educativo, particularmente ao nível da relação pedagógica.

Contudo, o mais difícil é lidar com os problemas de acessibilidade e de inclusão, de muitos estudantes e famílias, lembrando-nos que a equidade digital e a igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior continuam a ser uma lacuna persistente. O último relatório do Eurostudent demonstra que os estudantes portugueses são os que mais dependem das famílias, para financiar as despesas associadas à frequência do Ensino Superior. O inquérito europeu reforça a posição de Portugal como um dos países onde se verifica maior desigualdade e um dos poucos onde mais de 90% dos estudantes universitários pagam propinas.

Nos últimos anos, a importância do apoio familiar no financiamento dos estudantes tem vindo a aumentar na Europa. É comum os alunos receberem alguma ajuda para financiar os estudos, principalmente dos pais e dos cônjuges, mas, por cá, as famílias cobrem mais de 40 % das despesas mensais, bastante acima da média europeia. Portugal é o país europeu onde há mais alunos a frequentar o ensino superior, pertencentes a agregados familiares carenciados, que afirmam não ter forma de suportar despesas inesperadas. Portanto, é urgente encontrar medidas alternativas que evitem o abandono escolar por razões de ordem financeira.

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Um dos exemplos mais reconhecidos é o Santander Universidades que, através do Programa de Bolsas Santander Futuro 2021 , vai disponibilizar 436 bolsas destinadas a apoiar estudantes universitários com recursos económicos limitados. Até ao próximo dia 22 de novembro, podem concorrer os alunos matriculados em qualquer uma das 16 Instituições de Ensino Superior aderentes ao programa, que estejam determinados a iniciar, prosseguir ou terminar um ciclo da carreira académica.

As bolsas, num valor que pode ser de 500 ou de 1000 euros, têm como objetivo contribuir para uma estabilidade financeira potenciadora de um melhor desempenho escolar dos estudantes. O programa prevê a entrega de 178 bolsas de 500 euros e de 258 no valor de 1000 euros, perfazendo o montante total de 347 mil euros. O mérito escolar é um dos principais critérios, assim como a necessidade de apoio financeiro para prosseguir os estudos no 1º e no 2º ciclo do ensino superior.

Entre os critérios de elegibilidade dos candidatos às bolsas Santander Futuro 2021 incluem-se a situação de desemprego, comprovada através de registo no IEFP, a apresentação de comprovativo de situação económico-financeira, assim como o facto de residir a mais de 50 quilómetros da universidade.

De acordo com o regulamento, podem existir outros critérios definidos por cada uma das Instituições de Ensino Superior aderentes. Estas conhecem melhor a realidade social da comunidade em que estão inseridas e também a dos seus alunos, cabendo-lhes a missão de selecionar os alunos que demonstrem excelente desempenho escolar e elevada motivação para prosseguir a carreira académica. Durante a primeira edição deste ano, foram atribuídas 378 Bolsas Santander Futuro 2021 entre os alunos qualificados de 20 Instituições de Ensino Superior.

Mais apoios e mais estudantes

Em Portugal, encontram-se atualmente matriculados 411.995 alunos no ensino superior, englobando universidades e politécnicos, em ambos os subsistemas público e privado. De acordo com as estatísticas da Pordata, podemos afirmar que a população estudantil universitária quintuplicou desde 1978, ano em que o país contava com pouco mais de 81 mil alunos em cursos superiores. Mesmo assim, o país continua abaixo do valor da média europeia em termos de população qualificada com grau de licenciado.

Carla Sofia Santos, Mestrado Integrado em Medicina, UBI

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  1. De acordo com a sua experiência pessoal, quais foram as mudanças mais importantes no ensino durante a pandemia?

O facto de haver maior divisão de nº alunos/aula presencial e horários de aulas presenciais mais dispersos; existência de aulas online e aulas gravadas; higienização de todos os locais.

2 – Na sua opinião, quais são as que devem manter-se no futuro? 

Dever-se-ia manter a alternância entre as aulas presenciais e as aulas online. É menos cansativo para quem tem de viajar entre cidades, é possível ter aulas online em ambientes confortáveis, escolhidos pelos próprios alunos. Há maior possibilidade de concentração nessas aulas e há uma maior liberdade para gerir a agenda própria de cada um com essa alternância. Quanto às aulas online gravadas, estas são uma mais-valia para quem tira apontamentos e para quem tem uma agenda muito preenchida, tendo a possibilidade de ter acesso a essas aulas nos momentos de maior conveniência.

3 – Qual foi o impacto da bolsa Santander na progressão dos seus estudos?

Permitiu-me não ser um encargo económico para os meus pais e ter já algum “pé-de-meia” para o futuro, como a renda ou contas mensais associadas na mudança de cidade devido ao trabalho.

4 – Relate uma experiência/episódio que foi possível ou facilitado pela bolsa.

Consegui pagar algumas mensalidades da Residência Universitária da UBI, onde eu estava alojada. E consegui pagar outras despesas mensais como, por exemplo, a alimentação, o que me possibilitou a dispensa da procura de empregos em part-time para pagar certas contas associadas aos meus estudos por estar a morar numa cidade longe da minha família. Este ponto possibilitou-me ter mais tempo livre para estudar e também para descansar e assim triunfar no fim do meu percurso académico.

5  – Que recomendações pode dar aos alunos que estão a entrar no ensino superior?

Novos alunos do ensino superior: estudem, divirtam-se e nunca desistam, pois esta altura académica passa mais depressa do que pensam e vai ser das melhores alturas das vossas vidas! Mesmo que tenham dificuldades, desistir dos estudos não é uma solução. Há sempre uma maneira de “dar à volta à situação” e a bolsa de estudos do Santander é uma boa ajuda.

Em matéria de apoios sociais, em 2020, existiam 79.249 estudantes no ensino universitário e politécnico, público ou privado, a receber bolsa de estudo. Mais de sete vezes o valor medido em 1991, o primeiro desde que há registo, quando apenas 10.943 estudantes do superior eram bolseiros. De facto, o envolvimento do setor privado e a promoção da responsabilidade social das empresas tem permitido multiplicar iniciativas de apoio à educação e ao ensino, entre as quais a atribuição de bolsas a estudantes em situação desfavorável.

O Santander Universidades atribui especial importância à criação de oportunidades para estudantes com baixos recursos económicos, com necessidades especiais ou que integrem comunidades vulneráveis. A experiência acumulada permite demonstrar que as bolsas de estudo são fundamentais para prevenir o abandono do ensino universitário, sendo um fator de estabilidade financeira dos estudantes, favorecendo melhores desempenhos e potenciando o sucesso escolar.

O Grupo Santander é a empresa privada que mais apoio dá ao Ensino Superior em todo o mundo. Em Portugal, através do Santander Universidades, estabeleceram convénios com 50 Universidades para apoiar estudantes, investigadores e empreendedores. Foram investidos cerca de dois milhões de euros em iniciativas de apoio a estudantes universitários e às famílias, dando resposta às necessidades sociais, económicas e de saúde pública decorrentes da crise pandémica. No âmbito da Educação, mais de 3500 pessoas beneficiaram das ações promovidas pelo Santander Universidades, abrangendo bolsas de cariz social e apoios à transição digital.

Da escola para o ecrã

A transição digital teve de acelerar com a pandemia. Inovar e transformar os métodos pedagógicos passou a ser mandatório para todos os modelos de aprendizagem. A velocidade a que se passou para o ensino remoto não deixou margem para grandes reflexões. Era preciso agir e seguir o princípio de que uma má decisão é sempre melhor do que nenhuma. Ao longo do ano letivo, alguns estudos sugeriam que o ensino online aumenta a retenção de conhecimento em menos tempo, o que significa que algumas mudanças podem ter vindo para ficar. Estas seis tendências devem manter-se depois da pandemia:

1 – Aprendizagem Híbrida

O ensino híbrido já era comum em cursos de especialização, MBA’s e alguns cursos de mestrado com aulas a distância. De forma resumida, o ensino híbrido conjuga as aulas online com as presenciais, permitindo diferentes metodologias ativas ao mesmo tempo que estimula a autonomia dos estudantes.

2 – Novos Métodos de Avaliação

A avaliação também precisa de adotar novas formas de validar o conhecimento adquirido. Além de enviar testes, também é possível avaliar os alunos através de exercícios de resolução de problemas, jogos ou quizzes e apresentações.

3 – Metodologias Ativas

Nos modelos tradicionais, os alunos são agentes passivos que devem escutar, escrever e memorizar. Como a designação sugere, os métodos ativos transformam os estudantes em sujeitos construtores do seu próprio conhecimento, baseando a aprendizagem na experiência. E o papel do professor também se altera, passando a atuar mais vezes como orientador e como figura inspiradora para os seus alunos.

4 – Inovação e Tecnologia Digital

As tecnologias adotadas devem permanecer nas salas de aula e em casa, mesmo após a pandemia. Além de rentabilizar os investimentos em multimédia, computadores e outros dispositivos, o uso da tecnologia permite enriquecer as aulas com vídeos e animações, tornando os conteúdos mais atrativos. As instituições também devem investir no desenvolvimento de competências digitais dos docentes, de modo a eliminar eventuais lacunas na dinâmica de interação com os alunos.

5 – Empatia, Motivação e Autonomia dos Alunos

É fundamental promover a autonomia, conceito fundamental para que os alunos alcancem maior proatividade e sejam capazes de tomar as suas próprias decisões, sem esperar por orientações. Cada vez mais, o aluno deve ser o protagonista do seu próprio processo de aprendizagem. Ao mesmo tempo, a nova etapa exige também que todos os atores no sistema educativo passem a estar mais atentos às alterações de comportamento dos estudantes, de modo a conseguir uma educação mais humanizada. Muitos estudantes perderam familiares ou vivem em situação de carência económica, com reflexos inevitáveis no seu desempenho.

Ilustração: Vasco Avillez

Ilustração: Vasco Avillez

Literacia digital deve aumentar

O paradigma da educação em Portugal, e no mundo, está a mudar a um ritmo acelerado e com efeitos benéficos que podem começar a surgir nos próximos anos. Um relatório da IDC (“IDC FutureScape: Worldwide Education 2021 Predictions”) revela que o crescimento do mercado online da educação vai acelerar nos próximos anos.

Observando apenas as previsões para o Ensino Superior, em 2023, 40% das universidades devem evoluir para novas pedagogias digitais e avaliar novos indicadores de desempenho que afetam os resultados de aprendizagem.

Ana Vale, estudante de mestrado em Ciências Biomédicas, UBI

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1 – De acordo com a sua experiência pessoal, quais foram as mudanças mais importantes no ensino durante a pandemia?

A pandemia começou no meu último semestre de aulas, ou seja, último semestre do 1º ano de mestrado e considero que as mudanças mais importantes foram a capacidade que os docentes e os alunos tiveram de se adaptar e a facilidade que houve de marcar aulas de dúvidas. No ano letivo 2020/2021 não tive aulas, logo não se aplica. Foi o ano todo em dissertação de mestrado.

2 – Na sua opinião, quais são as que devem manter-se no futuro?  

A facilidade de ter aulas, teóricas, em formato online para facilitar a presença de todos os alunos.

3 – Qual foi o impacto da bolsa Santander na progressão dos seus estudos? 

A bolsa da DGES para alunos de Mestrado não corresponde ao valor das propinas e a Bolsa Santander permitiu que eu pudesse pagar o restante valor das propinas bem como todos os gastos associados à dissertação de mestrado.

4 – Relate uma experiência/episódio que foi possível ou facilitado pela bolsa. 
Respondi juntamente com a pergunta 3.

5 – Que recomendações pode dar aos alunos que estão a entrar no ensino superior? 
Aproveitarem ao máximo o Ensino Superior e nunca desistir dos estudos, porque existem várias entidades que nos podem oferecer apoios.

Até 2022, 40% dos professores e 20% dos encarregados de educação devem ​​receber formação específica para desenvolver competências digitais que promovam um melhor envolvimento dos alunos, facilitando a aquisição de conhecimento e a retenção das aprendizagens

Para ajudar professores e alunos a lidar com as exigências do ensino à distância, 30% das instituições de ensino superior devem estabelecer programas digitais personalizados de aconselhamento e promoção do bem-estar, até 2023.

Até 2025, 40% das instituições de ensino superior vão beneficiar de recursos de inteligência artificial e automação de processos, que simplificando e tornando mais eficientes diversas operações rotineiras, libertam mais tempo para a aprendizagem.

Dos trabalhos de curso aos exames e às atividades extracurriculares, em 2025, 40% das instituições de ensino superior deverão usar perfis de Blockchain que acompanham os alunos ao longo da vida e permitem o acesso a percursos de certificação. O relatório da IDC inclui ainda outras previsões relacionadas com as questões da cibersegurança, gestão e investimentos em tecnologia, aquisição de hardware e software.

Números para memória futura

O ensino teve de mudar de forma radical para o e-learning. O cenário de isolamento físico e social, contranatura, transformou a vida académica de um momento para o outro.  Os estudantes, professores e funcionários tiveram de se adaptar à nova realidade de forma acelerada e, em muitos casos, improvisando soluções para conseguir dar resposta ao inesperado contexto de mudança e assegurar a continuidade das aprendizagens.

Em Portugal, com as aulas presenciais suspensas, as plataformas de ensino à distância registaram níveis de tráfego inéditos no Ensino Superior. Em março de 2020, a plataforma “Colibri” da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), exclusiva para universidades e politécnicos, ultrapassou as 100 mil aulas e reuniões online, num total superior a dois milhões de acessos. Um crescimento exponencial, sobretudo tendo em conta que apenas se realizavam, em média, 124 aulas online por dia, em 2019.

O mês de março de 2020 fica na história como o mês em que as escolas encerraram. Devido à pandemia de covid19, os governos dos países ordenaram o fecho de escolas e universidades em todo o mundo, afetando mais de 1,38 biliões de alunos. Os dados da UNESCO confirmam que os estabelecimentos de ensino foram encerrados em 185 países, em todos os níveis de ensino.

Agora, no regresso às aulas nas faculdades, é importante refletir sobre as mudanças provocadas pela crise de Covid-19, aferindo bem as vantagens de algumas das estratégias adotadas de modo a mantê-las como instrumentos de melhoria contínua.

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