A chanceler cessante alemã, Angela Merkel, antecipou esta quinta-feira que o cumprimento das metas da União Europeia para reduzir as emissões que causam o aquecimento global será “um trabalho muito difícil” nos próximos anos.
O chamado Acordo Verde Europeu (“Green Deal”), alcançado em dezembro passado pela União Europeia, estabelece um plano para reduzir as emissões de gases em 55% durante esta década e tornar este bloco de 27 países neutro em termos de carbono até 2050.
Prevejo que será um trabalho muito difícil a adoção deste ‘Green Deal'”, disse Merkel, ao receber o prémio Prémio Carlos V numa cerimónia em Espanha.
O galardão, entregue pelo Rei de Espanha, Carlos VI, foi instituído pela Fundação Academia Europeia e Ibero-americana de Yuste e reconhece o longo percurso de Merkel “ao serviço da Europa” e a sua posição como “firme defensora do processo de integração europeia e do importante papel estratégico da Europa na cena internacional”.
Num discurso proferido depois de ter recebido o galardão, Merkel também estimou que “só uma Europa unida é uma Europa forte” e advertiu que se as “forças centrífugas” que surgem em alguns países não forem detidas, a UE “acabará por ter problemas”.
A política alemã apelou a “mais soberania europeia” para garantir e reforçar a coesão da UE e para impedir que os interesses nacionais prevaleçam a curto e médio prazo.
“Só uma Europa unida é uma Europa forte”, sublinhou o chanceler cessante.
Por seu lado, Felipe VI afirmou que Angela Merkel ficará na “história da UE com letras maiúsculas” por ter representado “o espírito da melhor Europa unida” e pela sua procura de acordo entre todos, “muito afastada do protagonismo e dos extremos”.
Merkel é a terceira mulher a receber o Prémio Europeu Carlos V, depois da ex-presidente do Parlamento Europeu Simone Veil, em 2008, e da fundadora do programa Erasmus, Sofia Corradi, em 2016.
Esta é também a segunda vez que o prémio é atribuído a um chanceler alemão – depois de Helmut Kohl, já falecido, o ter recebido em 2006 -, sendo que a homenagem coincide com a saída em breve de Merkel do Governo de Berlim, na sequência das eleições de 26 de setembro e após 16 anos a liderar o país.
A Fundação Yuste atribui o Prémio Europeu Carlos V desde 1995 com o objetivo de reconhecer personalidades, iniciativas, instituições e projetos que se tenham destacado pelo seu empenho na União Europeia ou pelo seu contributo para a valorização dos valores culturais, científicos ou históricos da Europa.
A lista de premiados conta com dois nomes portugueses — o antigo Presidente Jorge Sampaio (2004) e o ex-presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso (2014), além de outras personalidades internacionais.
Entre os galardoados contam-se Jacques Delors (1995), Wilfried Martens (1998), Felipe González (2000), Mikhail Gorbachev (2002), Helmut Kohl (2006), Simone Veil (2008), Javier Solana (2011), Sofia Corradi (2016), Marcelino Oreja Aguirre (2017), Antonio Tajani (2018) e o projeto ‘Itinerários Culturais do Conselho da Europa’ (2019).
A cerimónia de entrega dos prémios acontece, desde 2016, sempre no dia 9 de maio, Dia da Europa, mas a crise da Covid-19 atrasou os prazos administrativos.