António Pires de Lima e Luís Nobre Guedes, duas figuras de relevo na história do CDS-PP, reagiram à atual situação do partido num fim de semana particularmente agitado, este domingo à Rádio Observador.
António Pires de Lima, militante histórico do CDS e antigo presidente do conselho nacional, afirmou à rádio que já não é militante do CDS e que não está “em condições de recomendar o voto no CDS liderado por Francisco Rodrigues dos Santos nas próximas eleições legislativas.” Explica que este “é um partido onde não existe liberdade. Eu estou a mais. E aquilo que se passou nas últimas 48 horas, nomeadamente a decisão do presidente do CDS de cancelar um congresso, que já estava marcado e que era completamente compatível com os timings da realização das eleições legislativas, foi determinante para a minha decisão.”
Em reação às declarações Filipe Anacoreta Correia, presidente da Mesa do Conselho Nacional do CDS, que defendeu a legitimidade do conselho nacional para adiar as eleições, Pires de Lima diz não ter interesse nem nestas declarações, “francamente, a mim já não me interessa nada aquilo que diz o Dr. Filipe Anacoreta Correia ou qualquer outra pessoa da atual direção do CDS, precisamente devido ao tipo de comportamento do presidente do partido e também de outros membros que o acompanham.” O economista disse ainda esta tarde ter-se afastado para recuperar a sua liberdade interior e não querer prejudicar o partido onde foi militante durante mais de 30 anos.
Relembrou que foi membro do governo em representação do CDS e ocupou cargos como a presidência da assembleia municipal de Cascais, ou a presidência do conselho nacional do partido e acrescenta “quando eu lá estive nunca se passaram as coisas que agora se passam em termos de desrespeitos, ofensas, agressões.” E aponta como única solução para ajudar a acalmar as divergências a realização do congresso que, segundo o próprio, já estava marcado e que não vê “razão nenhuma para desmarcar”. Conclui que se abriu um precedente muito grave.
Confrontado com as declarações de Ribeiro e Castro, nas quais o antigo presidente do CDS- PP fala de uma morte anunciada, Pires de Lima não comenta, assim como o eventual regresso de antigos líderes. Afirma que a vida profissional atual não é compatível com “uma vida política ativa” e explica que as declarações que tem dado na sequência da sua saída do CDS, são um “parêntesis” para explicar a sua decisão aos militantes e a quem acompanhou a sua vida política no passado. Contudo Pires de Lima não põe de parte um regresso à política no futuro.
Também à Rádio Observador, Luís Nobre Guedes adota uma posição oposta. Diz que a instituição “vive um momento muito difícil, muito complicado, muito penoso até, mas é nesses momentos que a gente deve estar presente”. O antigo presidente do partido reage às saídas de militantes de relevo durante este fim de semana “com tristeza e preocupação”, mas recusa a ideia de “atirar a toalha ao chão” e diz que “há que mudar as coisas e encontrar vias de compromisso”. Vê como fundamental que se deixem para trás “guerras, ajustes de contas e ódios pessoais”, para o CDS se apresentar a eleições como uma alternativa à direita.
Nobre Guedes põe a responsabilidade em Rodrigues dos Santos e Nuno Melo, que devem encontrar um compromisso benéfico para o partido porque acredita nos objetivos de “recuperar tudo e todos e conquistar quem não conquistamos”. Em relação à intervenção de antigos líderes afirma que “todos os contributos, sejam dirigentes, sejam líderes, seja de quem for. Todos os contributos são bons se forem no sentido de apaziguar e tentar encontrar um compromisso entre as partes”. E acrescenta “esse compromisso é possível!”.