Declarada contumaz há 15 anos, só esta quarta-feira a freira Maria da Conceição Magalhães admitiu no Tribunal de S. João Novo, no Porto, que desviou cheques no valor de 48 mil euros. A religiosa responde no processo por burla qualificada, por ter desviado mais de uma centena de cheques na ordem dos 400 mil euros.

Na base do desfalque que lesou o Centro de Bem-Estar Infantil e Juvenil do Coração de Jesus terá estado um jogo de sedução entre Augusto Cunha e a freira, que justificou a burla como uma forma de “gratificação da amizade” com este, revela o Correio da Manhã desta quinta-feira.

O processo em causa tem quase 20 anos e remonta ao período entre 2001 e 2004, tempo esse em que a religiosa era responsável pela contabilidade da instituição, facto esse confirmado por outras freiras na audiência. Contudo, Maria da Conceição Magalhães afirmou ser administrativa na secretaria da instituição, mas que tinha poder suficiente para poder assinar cheques. Quando a sua prática foi descoberta acabou a fugir do país e a ser declarada contumaz desde então, tendo-se refugiado no Luxemburgo até agora. “Quando disse ao Augusto que podia ser descoberta, ele disse que eu já vivia numa prisão e, caso fosse presa, nada ia mudar. Fugi. Eu não sou uma pessoa normal”, confessou.

Augusto Cunha, cúmplice de Maria da Conceição foi condenado ainda em 2014 por estes factos a pena suspensa de quatro anos e meio de prisão.

A religiosa foi confrontada na quarta-feira pelas juízas que a questionaram se Augusto Cunha a “seduzia” e “arrastava a asa” por si, ao que a freira terá respondido afirmativamente admitindo que gostava. “Deixei-me enganar e manipular. Passei-lhe cheques sem haver qualquer fatura. Ele só me entregava listas de montantes e eu passava os cheques, que já estavam previamente assinados pela madre. Ele disse que precisava de dinheiro. Eu nunca tive a intenção de roubar ninguém”, explicou.

As juízas às quais foi presente acabaram por mostrar à arguida os mais de 100 cheques que constam no processo, aos quais a freira disse “não ter dúvidas” sobre a sua assinatura em alguns deles, enquanto que relativamente a outros  afirmou “ter muitas dúvidas” sobre ser a sua rubrica devido ao carimbo se sobrepor à mesma ou por a letra “estar muito tremida”.

Apesar de a burla ser na ordem dos 400 mil euros, apenas o desvio de 48 mil foi admitido por Maria da Conceição que diz desconhecer o que aconteceu à restante quantia de que é acusada, dizendo que apenas entregou o dinheiro a Augusto. “Mas eu achava que aquele dinheiro também era meu. Elas eram a minha família. Não posso ser responsável pelo que não fiz”, disse, citada pelo CM.

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