Luís Graça esteve ausente durante várias semanas, não respondeu a mensagens nem a telefonemas e apareceu no Facebook para assegurar que não foi afastado do partido e que saiu pelo próprio pé. O até há pouco tempo presidente da Mesa do Conselho Nacional dá conta de que se sentia “desconfortável” com o facto de ser funcionário remunerado do partido e atira-se aos “parasitas” que estão a tomar conta do Chega.

O ex-dirigente assegura que a demissão foi apresentada a André Ventura “no dia 1 de outubro” e argumenta que, “para esclarecimento de todas as partes”, já antes disso tinha falado com o líder do partido e com o secretário-geral, Tiago Sousa Dias, para lhes dizer que pretendia “deixar de ser funcionário do partido”.

“Nunca quis ser funcionário do partido. Era uma situação em que me sentia desconfortável“, realça, criticando que a existência de honorários para funcionários do Chega “foi uma forma encontrada para algumas pessoas na assessoria a André Ventura”.

Luís Graça faz questão de assegurar que não foi “destituído” do cargo, como foi noticiado pela Visão, e que a demissão foi um assumir de “responsabilidades” devido a “um erro numa caixa de email em que não [enviou] um anexo”. O erro valeu ao Chega uma ação no Tribunal Constitucional, que invalidou os atos do partido desde o congresso em Évora e que obrigou à marcação de um congresso extraordinário para regularizar a situação.

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O ex-presidente da mesa do Chega lamenta ainda que o Tribunal Constitucional não tenha “enviado uma carta registada ou contactado a Assembleia da República” e justifica até que “mais pessoas tinham acesso a essa caixa de email”, mas admite que cometeu o erro: “Eu, como todos os líderes devem fazer, assumi essa responsabilidade e pedi a demissão.”

A direção do Chega, numa nota enviada ao Observador, “nega veemente” as declarações de Luís Graça e desafia o ex-presidente da mesa a apresentar provas de que fez o pedido. “É falso que tenha pedido a sua demissão, tanto que a direção nacional o desafia a apresentar as provas do seu pedido de demissão, provas essas que não existem porque não houve pedido de demissão”, pode ler-se na mesma nota.

Mais do que desmentir a informação, o órgão encabeçado por André Ventura refere ainda que, “depois de ter desaparecido sem dar satisfações, Luís Graça reaparece agora com o intuito de se desresponsabilizar e de atirar o nome do partido para a lama”.

Graça diz que deu “tudo” ao Chega e critica “parasitas”

Dei tudo pelo partido, despedi-me do meu antigo trabalho. Só fazia Chega”, afirma no vídeo que publicou no Facebook. Agora, Graça sentiu que “tinha de seguir outro rumo profissional” e diz estar em Rio Maior. E mais: garante que “nunca” esteve em parte incerta. Apesar da declaração nas redes sociais, o Observador, por várias vezes, tentou contactar Luís Graça, sempre sem sucesso.

Várias fontes do partido, nomeadamente dirigentes, confirmaram ao Observador que o até ali presidente da mesa estaria “desaparecido” há várias semanas, sem responder a chamadas, mensagens ou e-mails. De tal forma que o Conselho Nacional acabou mesmo por substituir Luís Graça, temporariamente, por Jorge Valsassina Galveias até ao próximo congresso.

No Facebook é possível ver que a última publicação de Luís Graça tem a data de 14 de setembro e referia que o partido já tinha respondido ao Tribunal Constitucional, afastando a ideia de um novo congresso e pedindo foco nas eleições autárquicas. Já passaram quase dois meses e meio desde essa publicação, o congresso já está marcado e nem há publicações alusivas aos resultados das autárquicas.

Ainda no vídeo que publicou esta segunda-feira no Facebook — e onde prometeu mais conversas com os seguidores — Luís Graça critica que tenham “penetrado” no Chega o comunismo e o socialismo, mas prometeu manter-se útil para o partido: “Estarei cá para não defraudar os portugueses e para que os portugueses vejam no Chega uma alternativa e uma oportunidade de mudar o país e não o partido que está a ser infiltrado por parasitas que estão a cavalgar um partido que é antissistema, eles próprios que vêm do sistema e que veem aqui uma oportunidade de resolver as suas vidas.”

Luís Graça, apesar de ser uma das pessoas mais conhecidas no partido desde o início, teve um confronto interno com Manuel Matias para a liderança da mesa do partido. Apesar de André Ventura nunca ter garantido o apoio de ninguém, Matias faz parte do núcleo duro do líder do Chega e esta foi considerada uma derrota para a direção e uma vitória para Graça.

[Notícia atualizada com a nota da direção do Chega]