Pelo menos 27 migrantes morreram a tentar atravessar o Canal da Mancha, que liga França ao Reino Unido, após o naufrágio de um barco insuflável que levava cerca de 35 pessoas.

A informação foi confirmada pelo ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, na sua conta pessoal do Twitter, descrevendo o sucedido como um “drama”. Entre as vítimas mortais estão “crianças e pelo menos uma mulher grávida”, referiu ainda o ministro. O governante adiantou que duas pessoas foram resgatadas com vida, estando a ser tratadas numa unidade hospitalar, e uma foi dada como desaparecida.

Inicialmente, o ministro do Interior francês tinha avançado que seriam 31 vítimas mortais, mas o número de óbitos foi revisto em baixa na madrugada desta quinta-feira.

Em reação ao sucedido, Emmanuel Macron promete que não “vai deixar que o Canal da Mancha se transforme num cemitério”. Apelou ainda a uma “reunião de emergência” na União Europeia para discutir o “desafio das migrações”. O Presidente francês assegurou ainda que os responsáveis por organizar a travessia serão “encontrados” e “condenados”.

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Por seu turno, o ministro do Interior, que já se encontra perto do local do naufrágio, revelou que quatro pessoas já foram detidas (perto da fronteira belga) por suspeitas de envolvimento na organização da travessia, naquele que diz ser “a maior tragédia [de migrantes] que alguma vez viu”.

Já Boris Johnson está “chocado e profundamente triste” por aquilo que aconteceu no Canal da Mancha. Na sua conta pessoal do Twitter, o primeiro-ministro britânico diz agora ser o tempo “para parar com esses gangues” que estão a levar a cabo estes “assassinatos”.

Esta quarta-feira à noite, o primeiro-ministro britânico e o Presidente francês falaram ao telefone e discutiram ao assunto, prometendo “juntar esforços” para evitar as travessias e fazer de tudo para parar os gangues responsáveis por colocarem a vida de pessoas em risco, informa a Reuters.

A imprensa francesa relata que, por volta das 14h00 (13h00 hora em Lisboa), um pescador encontrou quinze corpos a flutuar ao largo de Calais. Dá ainda conta de que as autoridades da região de Dunkirk já abriram um inquérito para investigar os contornos da travessia. No local, estiveram três helicópteros e três barcos estão a ajudar as operações.

Esta tragédia é a mais mortal desde o aumento, em 2018, das travessias migratórias do Canal da Mancha, face ao crescente bloqueio do porto de Calais e do túnel utilizado até então por migrantes que tentavam chegar a Inglaterra.

Estas travessias são objeto de tensões regulares entre Paris e Londres, já que as autoridades britânicas consideram insuficientes os esforços desenvolvidos pelo lado francês para impedir os migrantes de embarcar, apesar do pagamento de uma ajuda financeira.

O Governo britânico apresentou para aprovação um polémico projeto de lei que reforma o sistema de asilo e planeia endurecer as penas para este crime — que podem chegar à prisão perpétua, contra os 14 anos atuais, a pena máxima incorrida pelos contrabandistas.

De acordo com registos franceses, nos primeiros 10 meses do ano 24.655 pessoas tentaram cruzar o Canal da Mancha ilegalmente para chegar ao Reino Unido, um número muito superior em comparação aos 9.551 em todo o ano de 2020.

Os serviços de resgate franceses salvaram 5.713 migrantes entre janeiro e outubro, nas diversas operações em que houve óbitos.

Artigo atualizado às 00h52 de dia 25 de novembro de 2021