Numa semana, três jogadores de futebol de dois clubes ingleses e um moldavo colapsaram no campo na sequência de problemas cardíacos, o que alimentou a especulação de que os episódios estariam de alguma forma relacionados com a vacina contra a Covid-19. Mas, de acordo com o The Telegraph, um conjunto de cientistas rejeita essa ideia.

Charlie Wyke, avançado do Wigan Athletic Football Club, foi o jogador de futebol que mais recentemente se sentiu mal, depois de ter colapsado durante um treino no início da semana, o que levou à sua hospitalização — o jogador de 28 anos continua a ser monitorizado e estará indisponível para jogar num futuro imediato. Mas antes dele, houve outros dois casos: o internacional escocês John Fleck, do Sheffield United, que foi transportado de urgência para o hospital durante um jogo frente ao Reading, e Adama Traoré, do Sheriff Tiraspol, colapsou frente ao Real Madrid.

Depois de ex-jogadores agora no papel de comentadores desportistas terem sugerido existir uma ligação entre estes colapsos e a vacina — a rádio TalkSport, por exemplo, tirou Trevor Sinclair do ar quando este levantou a dúvida, se John Fleck teria sido recentemente inoculado —, cientistas responderam alertando estas figuras para a sua “responsabilidade pública”.

“Dado o histórico de certos jogadores de futebol ativos face as crenças antivacinas, é totalmente irresponsável fazer esses comentários infundados”, disse o professor Keith Neal, especialista em epidemiologia de doenças infecciosas na Universidade de Nottingham. Já Robert Dingwall, especialista em saúde pública da Escola de Ciências Sociais da Universidade de Nottingham Trent, recorda ao jornal já citado que “existem muitas razões pelas quais podem ocorrer colapsos em campo” e que é preciso “cuidado” para não atribuir uma causa em particular até que estas “tenham sido devidamente investigadas”.

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“Pode ser tentador culpar as vacinas contra a Covid-19, mas os especialistas têm a responsabilidade pública de não alimentar a hesitação face à vacina sem qualquer evidência real de que este é um fator comum em eventos amplamente separados”, continua Dingwall.

O mesmo jornal lembra que, após a paragem cardíaca de Christian Eriksen, durante o Euro 2020, muita foi a desinformação disseminada, com o Inter de Milão a confirmar posteriormente que o jogador ainda não tinha sido inoculado de todo. Também Charlie Wyke não recebeu a vacina e todos os testes para a Covid-19 foram negativos.

Em 2007, o britânico The Guardian dava conta que, em apenas 10 dias, três jogadores colapsaram em campo (dois deles perderam a vida).