A Liga Portuguesa de Futebol vai avançar com uma participação disciplinar ao Conselho de Disciplina para tentar apurar o que se passou na partida entre o Belenenses SAD e o Benfica, algo que provocou uma “enorme consternação pela imagem extremamente negativa deu ao futebol nacional”.

Em comunicado divulgado esta segunda-feira, a Liga pediu, “com caráter de urgência”, uma reunião com a Secretaria de Estado da Saúde, Secretaria de Estado da Juventude e Desporto e Direção-Geral da Saúde, “para análise da atual situação e antecipar eventuais mudanças nos protocolos”.

Explicando que nenhuma das equipas quis adiar o jogo, a Liga dá conta de que, na sexta-feira, a diretora executiva do organismo, Helena Pires, recebeu o contacto de Rui Pedro Soares, presidente do Belenenses SAD, a dar conta da “existência de casos positivos e informando estar em contacto com as autoridades de saúde”. Ficaram, depois, 10 pessoas em isolamento.

“Informação posterior deu conta do isolamento profilático de 30 jogadores (dos quais 17 negativos) – neste cenário estariam oito jogadores disponíveis, dos quais dois estariam inaptos por motivos não relacionados com Covid-19, não tendo o clube os sete elementos mínimos necessários para a realização do jogo”, refere a Liga.

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Contudo, o organismo salientou que, embora o presidente do Belenenses SAD tivesse “conhecimento do número de jogadores disponíveis”, decidiu na mesma reforçar a sua intenção, em conferência de imprensa, “de se apresentar a jogo” e não solicitar o adiamento.

Horas antes da partida, às 19h17, a delgada de saúde retirou três jogadores do isolamento, passando o Belenenses SAD a ter nove atletas disponíveis, algo que apenas “oficialmente foi conhecido quando a ficha de jogo foi divulgada”.

“Imediatamente antes da reunião preparatória do jogo, o Delegado da Liga Portugal questionou os Delegados de Jogo dos clubes sobre a possibilidade de adiamento, tendo sido afirmado por ambos que essa hipótese não se colocava”, vincou.

Liga questiona critérios de autoridades de saúde

No mesmo comunicado, a Liga questionou ainda o critério que levou à Delegada de Saúde a “não considerar os nove jogadores disponíveis como contactos de alto risco, sendo que alguns deles tiveram, comprovadamente, contacto direto no jogo anterior com elementos positivos”, perguntando também às autoridades de saúde “quais foram os critérios seguidos para serem libertados três jogadores a menos de uma hora do início do encontro”.

Ao longo do encontro, a Liga Portuguesa também quer saber se os presentes no estádio do Jamor foram informados deste factos e dos riscos, perguntando “às autoridades de saúde quais foram os critérios seguidos para serem libertados três jogadores a menos de uma hora do início do encontro”.

“A Liga Portugal reitera a urgência de reunião com as autoridades de saúde, aguardando a resposta ao pedido efetuado na manhã de domingo”, lê-se no comunicado.

Governo quer que Liga acautele “organização e segurança nas próximas jornadas”

Após o pedido de esclarecimento daquilo que aconteceu no Jamor e uma reunião do secretário de Estado da Juventude e do Desporto — João Paulo Rebelo — com o presidente de Liga, o Governo pede que esta acautele “a preparação, a segurança e a previsibilidade dos próximos eventos desportivos”.

Na divulgado esta segunda-feira pelo Governo, lê-se que na reunião Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, prestou as “informações disponíveis” da partida entre o Belenenses SAD o Benfica, bem como foi discutido a “forma” como estão a ser enquadrados “a realização dos próximos encontros da I Liga”.

“Nesta reunião, a Liga Portugal, enquanto organizador, foi ainda sensibilizada para a necessidade de todas as partes envolvidas anteciparem todos os cenários sobre os quais a evolução da pandemia venha a impactar, garantindo que são tomadas as medidas necessárias e devidas, com previsibilidade, minimizando os riscos associados à propagação do vírus em contexto desportivo”, lê-se na nota.

Além disso, João Paulo Rebelo reafirma a sua intenção de manter “uma monitorização ativa sobre este ou outros acontecimentos”, estando “num compromisso para com a mitigação dos riscos de transmissão de Covid-19”.

Benfica diz que foi “obrigado a apresentar-se em campo”

O Benfica lamentou “profundamente” estar envolvido, “sem nenhuma responsabilidade própria, num dos episódios mais tristes da história do futebol português”.

Em comunicado emitido esta segunda-feira após o da Liga, os encarnados reforçaram que não foram “parte ativa na decisão de se ter realizado a partida”, sinalizado mesmo que foram “obrigados a apresentarem-se em campo sob pena de ser penalizados”.

“O Sport Lisboa e Benfica aguarda serenamente as conclusões do processo disciplinar e de apuramento de responsabilidades aberto pela Liga de Clubes e acatará as decisões que forem tomadas por parte das entidades competentes”, lê-se ainda.

Belenenses SAD acusa Liga de “má-fé”

O Belenenses SAD também já reagiu ao comunicado da Liga, acusando-a de “requintes de má-fé e falsidade indignos”.

“Na reunião preparatória do jogo, o CEO da Belenenses SAD, perante todos os presentes, disse que a realização do jogo era uma ‘vergonha e estava indignado'”, apontando ainda para o facto de não existir qualquer “reunião entre o delegado de Belenenses SAD, o delegado do Benfica e o delegado da Liga”.

Num comunicado publicado esta segunda-feira também depois do da Liga, o delegado do Belenenses SAD refere apenas “teve uma conversa de circunstância com o Delegado da Liga, sem jamais ter dito que ‘a hipótese de adiamento não se colocava’”.

“O Belenenses SAD afirma a sua intenção de reagir a este relatório mal fabricado com todos os nossos meios previstos na lei”, lê-se ainda.