Cristiano Ronaldo fez sempre questão de colocar os títulos coletivos acima dos prémios individuais mas teve na sua carreira, nomeadamente na Bola de Ouro, esse ponto comum de um andar sempre com o outro: nos anos em que conquistou a Liga dos Campeões, foi também o galardoado. E a par disso andou sempre numa corrida contra os recordes, aqueles que um dia disse que o perseguiam mas que nunca se coibiu de correr atrás como ainda hoje acontece aos 36 anos. Ao longo de quase duas décadas, o avançado fez tudo, ganhou tudo, conseguiu tudo. Ou quase. E uma dessas barreiras está mesmo a tornar-se intransponível.
“Cristiano Ronaldo só tem uma ambição: quer retirar-se com mais Bolas de Ouro do que Messi. Foi ele mesmo que me disse”, confidenciou Pascal Ferré, jornalista e chefe de redação da revista France Football, que antes da cerimónia contara também a vários meios a forma como se controla o vencedor do prémio antes de ser anunciado. “Temos muito cuidado. O vencedor da Bola de Ouro é um grande segredo. Não creio que exista uma situação comparável no mundo do desporto. Luka Modric chorou como uma criança quando lhe liguei”, revelou, recordando o prémio para o médio croata do Real Madrid no ano de 2018.
Aos 36 anos, e como já era previsível, o português volta a não conquistar o prémio ganho nos anos de 2008, 2014, 2016, 2017 e 2018, quando ganhou a Liga dos Campeões com Manchester United e Real Madrid. Mais do que isso, as tentativas que fez para ganhar uma segunda vida acabaram por não ter o efeito pretendido, nem a nível coletivo, nem no plano individual: na Juventus, ao longo de três temporadas, ganhou dois Campeonatos, uma Taça de Itália e duas Supertaças mas falhou sempre o objetivo da sexta Champions (e nem a uma meia-final foi); no Manchester United, para onde voltou este verão, as coisas tiveram tudo menos um início promissor nos resultados, apesar de por exemplo ter marcado em todas as cinco partidas da Liga milionária realizadas até ao momento. Agora, o cenário vai-se complicando cada vez mais.
O ano de 2019 começou nessa perspetiva a ser o da viragem: Virgil van Dijk sagrou-se campeão europeu de clubes pelo Liverpool, terminou em segundo aquela que foi uma das mais espectaculares edições da Premier League (ganha pelo Manchester City) e foi à final da Liga das Nações com os Países Baixos; Ronaldo foi o campeão italiano pela Juventus, ganhou a Liga das Nações por Portugal e marcou 28 golos em 43 jogos feitos no primeiro ano nos bianconeri, para onde se transferiu com 33 anos por mais de 100 milhões de euros; Lionel Messi venceu a Liga espanhola, foi o melhor marcador e acabou a época de 2018/19 com mais golos (51) do que jogos (50). Contas feitas, o argentino acabou por receber a Bola de Ouro com mais sete pontos do que o neerlandês, deixando o português em terceiro a uma considerável distância do topo.
Todavia, apesar de todas essas declarações, Ronaldo passou ao lado de possíveis considerações, fez questão de desmentir que tenha proferido essa frase, disse também que era mentira o argumento de que não estaria na gala por uma alegada quarentena e destacou que dá sempre “os parabéns a quem ganha”.
“O desfecho de hoje explica o porquê das declarações de Pascal Ferré na última semana, ao afirmar que eu lhe confidenciei que tinha como única ambição terminar a minha carreira com mais Bolas de Ouro do que Lionel Messi. Pascal Ferré mentiu, usou o meu nome para se promover e para promover a publicação para a qual trabalha. É inadmissível que o responsável pela atribuição de tão prestigiado prémio possa mentir desta forma, num absoluto desrespeito por alguém que sempre respeitou a France Football e a Bola de Ouro. E mentiu novamente hoje ao justificar a minha ausência da Gala com uma alegada quarentena que não tem nenhuma razão de ser”, começou por dizer o avançado numa publicação nas redes sociais.
“Desejo sempre os parabéns a quem ganha, dentro do desportivismo e fair play que norteiam a minha carreira desde o início, e faço-o porque nunca estou contra ninguém. Ganho sempre por mim e pelos clubes que represento, ganho para mim e para aqueles que me querem bem. Não ganho contra ninguém. A maior ambição da minha carreira é conquistar títulos nacionais e internacionais pelos clubes que represento e pela Selecção do meu país. A maior ambição da minha carreira é ser um bom exemplo para todos aqueles que são ou desejam ser futebolistas profissionais. A maior ambição da minha carreira é deixar o meu nome escrito a letras de ouro na história do futebol mundial”, prosseguiu o jogador do Manchester United.
“Termino dizendo que o meu foco está já no próximo jogo do Manchester United e em tudo aquilo que, juntamente com os meus companheiros e os nossos adeptos, ainda podemos conquistar esta época. O resto? O resto é apenas o resto…”, concluiu o capitão da Seleção na mesma publicação esta segunda-feira.