Talvez valha a pena esperar uns minutos antes de começar a eleger os melhores discos do ano. Novembro esmerou-se em novos álbuns e, a confirmar o estatuto de último mês do ano recheado de novos lançamentos (antecedendo um dezembro já menos dinâmico em edições novas), pode vir baralhar as contas.
Tal como tem vindo a fazer desde o início do ano, o Observador volta a selecionar os melhores discos do mês — integrando uma canção de cada álbum novo que nos captou a atenção numa playlist, como exemplar desse mesmo álbum.
Nesta seleção, incluímos um conjunto de discos internacionais com alguma aproximação à canção de estirpe mais clássica, como a nova investida rhythm and blues no cancioneiro americano de Nathaniel Rateliff & The Night Sweats (The Future), o novo disco do compositor e cantor de soul, rock e R&B Curtis Harding (If Words Were Flowers) e a derivação eletrónica da pop de Damon Albarn, vocalista e escritor de canções dos Blur que surpreende com o álbum a solo The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows.
Ainda nesta playlist, cabem também exemplares dos novos discos da cantora, compositora e guitarrista australiana Courtney Barnett (Things Take Time, Take Time), das canções densas e negras mas agora em registo acústico de Emma Ruth Rundle (Engine of Hell), do indie-rock de Snail Mail (Valentine) e de uma espécie de country-folk, mas condimentada a funk e R&B, de Leo Nocentelli, antigo músico da histórica banda de funk The Meters que agora edita um álbum gravado há 50 anos intitulado Another Side — um disco há muito perdido e só recentemente e fortuitamente descoberto.
Num mês em que tivemos também direito a um álbum natalício — Merry Christmas From José James, do cantor de jazz, soul e R&B com o mesmo nome —, a música portuguesa voltou também a dar sinais de vitalidade. Nesta playlist há vários destaques nacionais, que vão de um disco de homenagem a Tozé Brito até aos novos álbuns da banda Atalaia Airlines (disco homónimo), do cantor e compositor Dino D’Santiago (Badiu), de Jorge Palma (70 voltas ao Sol – ao vivo com orquestra), do grupo Pimenta Caseira (Cais, Vol. 1) e do popular e enigmático rapper e artista Chico da Tina (E Agora Como É que É).
Há ainda espaço para mini-álbuns (ou EP) nacionais, que apresentam pela primeira vez o grupo instrumental Expresso Transatlântico e a rapper Silly e que nos recordam o talento para o hip-hop de Harold (membro dos GROGNation), e para discos com maior preponderância da guitarra elétrica e de uma sonoridade rock, como CRAWLER, dos britânicos Idles, e Buds, dos norte-americanos Ovlov.
Novembro foi especialmente rico, porém, em discos instrumentais, nem todos eles do universo jazzístico. Fora do jazz, destacamos um belo álbum a solo ao piano do norte-americano Phil Cook (All These Years) e as paisagens contemplativas de Ben Chasny (conhecido sobretudo pelo seu projeto Six Organs of Admittance ) em The Intimate Landscape.
Já mais próximos do jazz encontramos álbuns como Open the Gates, do grupo de jazz político e interventivo Irreversible Entanglements, Deciphering the Message, uma revisão feita pelo baterista e produtor Makaya McCraven de temas (hoje clássicos) de jazz editados na discográfica norte-americana Blue Note Records até aos anos 1960, o surpreendente Years From Now, de um duo composto pelo grego Zenjungle (Phil Gardelis) e pelo canadiano Valiska (Krzysztof Sujata), Boxed In, do músico britânico Daniel Casimir, e UMDALI, do vocalista e multi-instrumentista (desde logo, mas não apenas, trombonista e pianista) sul-africano Malcolm Jiyane Tree-O.