Passado o verão, com os festivais a regressar, as digressões mundiais de 2022 à porta e um próximo verão que se espera mais agitado, a edição de discos já acelera neste outono. O efeito da retoma do setor da música ao vivo sente-se já no lançamento de álbuns novos e outubro foi um mês repleto de novos discos.

Como tem vindo a fazer desde o primeiro mês do ano, o Observador continua a agrupar os melhores lançamentos musicais numa playlist mensal, com uma canção a servir de exemplar a cada disco novo.

A comprovar a aceleração da indústria musical nesta fase, a playlist com canções dos melhores discos deste mês é a mais longa do ano — e, mesmo assim, foi preciso deixar de fora vários discos nacionais e internacionais com valor para aqui estar, que provavelmente teriam destaque se tivessem saído em meses anteriores.

[A playlist com os melhores discos de outubro:]

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Outubro foi o mês em que o mestre da canção brasileira Caetano Veloso regressou com um novo álbum de canções originais, o seu primeiro em quase dez anos. Intitulado Meu Coco, o disco chega nove anos depois de Abraçaço, anterior álbum de canções novas e inéditas, e mostra um avô quase octagenário (tem 79 anos) ainda em plena vitalidade criativa, a confirmar o rótulo de camaleão musical permanentemente inovador.

Mas outubro foi também o mês em que um outro camaleão musical de origem sul-americana, Roberto Carlos Lange — e que o mundo conhece melhor pelo nome artístico Helado Negro —, voltou a provar que da sua música pode sempre esperar-se a surpresa. Nascido na Flórida mas filho de emigrantes equatorianos, Helado Negro ganhou notoriedade nos circuitos indie com o seu disco anterior This Is How You Smile (de 2019). No novo Far In, volta a trabalhar a canção de forma plástica, como se estivesse a brincar com plasticina mas sempre tendo em vista alguma coesão melódica e identitária.

Se este foi o mês de Caetano Veloso e de Helado Negro, foi-o também da banda dinamarquesa Efterklang, grupo de indie-rock e pop eletrónica capaz de oscilar entre as batidas e os sons pop mais desviantes e sons de baladas mais ternas, só piano e voz, como se prova no novo Windflowers. É um dos discos destacados nesta playlist, tal como as novas aventuras no indie-rock dos experientes My Morning Jacket (álbum homónimo) e dos mais jovens Parquet Courts (Sympathy For Life).

Procurando ser eclética, como em meses anteriores, a playlist de outubro dá destaque a música de vários estilos, a parte da nova produção musical portuguesa — e sobretudo aos novos discos do fadista Camané (Horas Vazias), dos Cassete Pirata (A Semente) e dos Sensible Soccers (Manoel) — e a álbuns de outras latitudes.

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Aqui destacados estão, por exemplo, discos do coletivo Dos Santos (City of Mirrors), oriundos de Chicago mas com elementos com várias origens geográficas e inspirados (entre outras coisas) por ritmos latinos, da parceria entre o produtor britânico Quantic e a cantora colombiana Nidia Góngora (Almas Conectadas), da banda sueca Dina Ögon e do duo de músicos mexicanos mas há muitos anos residentes no Brasil, Francisco, El Hombre (o disco chama-se Casa Francisco).

Há ainda espaço para as canções mais íntimas e de baixa rotação de Lana Del Rey (Blue Banisters), de Taylor Vick — mais conhecida pelo nome artístico Boy Scouts (o disco chama-se Waynfinders) — e de Bedouine (Waysides), Grouper (Shade) e Marissa Nadler (The Path of the Clouds).

A música instrumental ou levemente inspirada, ou fortemente ancorada no jazz de Bremer/McCoy (Natten), Craig Taborn (Shadow Plays), André Carvalho (Lost in Translation) e The Rite of Trio (Free Development of Delirium) também é aqui destacada, tal como o são as diferentes abordagens ao hip-hop de Wiki (Half God), Young Thug (Punk), Lute (Gold Mouf) ou JPEGMAFIA (LP!).