Depois de esta manhã ter dito que é preciso apurar um suposto “atravessamento de via não sinalizada” e que era “apenas um passageiro” no carro que matou um trabalhador na A6, Eduardo Cabrita convocou uma conferência de imprensa para fazer um balanço do mandato e anunciar a demissão do cargo de ministro da Administração Interna. António Costa já reagiu confirmando que aceitou a demissão de Cabrita e já a comunicou a Marcelo. “É um ciclo que termina”, afirmou o primeiro-ministro.

António Costa sobre demissão de Cabrita: “É um ciclo que termina”

Diz Eduardo Cabrita que se manteve no cargo nos últimos meses contando com a solidariedade de António Costa, mas que a partir de hoje não pode permitir que o “aproveitamento político absolutamente intolerável” seja utilizado para “condicionar a atuação do Governo”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Só a lealdade, tempo e circunstâncias que enfrentávamos e a solidariedade do primeiro-ministro me determinaram a prosseguir estas funções”, disse, acrescentando que “a partir de hoje” não pode permitir que o “aproveitamento político” seja utilizado para “condicionar a atuação do Governo”, António Costa “ou mesmo o Partido Socialista”.

“Entendi solicitar hoje a exoneração das minhas funções de ministro da Administração Interna ao senhor primeiro-ministro”, afirmou.

“No dia 18 de junho a viatura que me transportava foi vítima de um acidente que tragicamente determinou a perda de uma vida. Mais do que ninguém lamento essa trágica perda irreparável. A única situação verdadeiramente irreparável. A minha solidariedade para com a família da vítima”, enquadrou Cabrita antes de anunciar a decisão de se afastar do cargo lembrando que viu com “grande sacrifício pessoal e estupefação o aproveitamento político de uma tragédia pessoal”, acrescentando ainda que não seria “legítimo fazer qualquer comentário” antes de ter sido conhecida a acusação do Ministério Público.

“Queria aqui dizer que tal só reforça a minha confiança no estado de Direito, no funcionamento das instituições. é nesse quadro que os factos devem ser esclarecidos”, apontou.

“Agradeço profundamente ao primeiro-ministro António Costa a oportunidade de partilhar estes seis anos de dedicação intensa à causa pública e sobretudo estes quatro anos que me tornaram desde há alguns dias o ministro da Administração Interna com o mais longo mandato em democracia”, afirmou o ministro lembrando um “ministério particularmente difícil, exigente e sujeito diariamente à incerteza e imprevisto”.

Antes, na conferência de imprensa, Eduardo Cabrita passou em revista o mandato na pasta que tutelou nos últimos anos. “Sou ministro da Administração desde outubro de 2017, assumi estas funções num contexto particularmente difícil para o país em verdadeira situação de trauma nacional na sequência dos incêndios que provocaram a morte a mais de uma centena de portugueses. Desde então tenho trabalhado intensamente para assegurar que Portugal é um país seguro nas suas várias dimensões”, começou por dizer o ministro.

Falou da reorganização do sistema de Proteção Civil e que “nenhum civil perdeu a vida” nos quatro anos. “Esta sequência de quatro anos positivos concluiu-se este ano com uma área ardida de 78% inferior ao da Europa”, afirmou o ministro acrescentando detalhes sobre as várias áreas que tutelou nos últimos anos.

“Na resposta à pandemia que mudou as nossas vidas desde março de 2020 o ministro da Administração Interna assumiu a responsabilidade das medidas exigidas em Estado de Emergência”, lembrou o ministro acrescentando que as forças de segurança foram “essenciais para assegurar a paz pública nos dois anos tão difíceis”.

Cabrita diz que é preciso apurar “atravessamento de via não sinalizada”. MP refere “atividade devidamente sinalizada”

O motorista que conduzia o carro onde seguia o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e que atropelou mortalmente um trabalhador na A6, foi acusado de homicídio por negligência e de duas contra-ordenações. Segundo o despacho de acusação a que o Observador teve acesso, o condutor seguia na via da esquerda a uma velocidade de 163 km/hora.

https://observador.pt/2021/12/03/motorista-de-cabrita-acusado-de-homicidio-por-negligencia-carro-seguia-a-166-km-por-hora/

No processo que correu no Departamento de Investigação e Ação Penal de Évora, e que já não está em segredo de justiça, a procuradora do Ministério Público diz que o motorista Marco Pontes não teve uma “condução segura”, conduzindo sempre pela via da esquerda e não prevendo como possibilidade o “embate da viatura”. O que veio a acontecer ao quilómetro 77,6 da autoestrada, no sentido Marateca. No carro estava o ministro, três outros ocupantes e o motorista. Vinham todos da Escola da GNR de Portalegre.

Francisca Van Dunem substitui Eduardo Cabrita e acumula pasta da Justiça com a da Administração Interna

O Presidente da República já anunciou que será a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, a desempenhar o cargo de ministra da Administração Interna. A governante vai acumular funções até às próximas eleições.