As Festas do Povo de Campo Maior, no distrito de Portalegre, foram classificadas esta quarta-feira como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
A inscrição como Património Cultural Imaterial das festas comunitárias portuguesas, na vila de Campo Maior, na região do Alentejo, foi aprovada ao início desta tarde, na 16.ª reunião do Comité do Património Mundial da UNESCO, que está a decorrer em Paris (França), até sábado.
Tradição secular e realizadas pela última vez em 2015, as Festas do Povo de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, sobretudo no centro histórico, “engalanadas” com milhares de flores de papel, feitas pela população de forma voluntária.
Rui Nabeiro: “As nossas festas são a paz do povo. É um êxito, é uma vitória e é extraordinário”
Promovidos pela Associação das Festas do Povo de Campo Maior (AFPCM), os festejos na vila alentejana eram já reconhecidos internacionalmente pela sua originalidade e cariz popular, com os habitantes a prepararem a ornamentação das ruas durante meses a fio.
Esta tradição, identitária de Campo Maior, tem vindo a ser transmitida de geração em geração, oralmente e de forma informal, com os mais velhos a ensinarem aos mais novos os segredos da elaboração das flores que ornamentam os espaços públicos da vila.
A candidatura à UNESCO foi promovida pela Câmara, AFPCM e a Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo.
“O povo campomaiorense está de parabéns. Todos aqueles que até hoje trabalharam nestas festas, todos aqueles que têm muita vontade de continuar a trabalhar nelas, os campomaiorenses de uma maneira geral, estamos todos de parabéns”, congratulou-se o autarca de Campo Maior, Luís Rosinha.
Um dos coordenadores do dossiê, Joao Custódio, explicou à agência Lusa, no sábado, que a preparação da candidatura foi um trabalho “muito complexo” e “demorado”, focado em demonstrar as características “únicas” deste evento.
“Foi um processo demorado”, iniciado em 2014, e “muito complexo”, que “implicou uma equipa multidisciplinar”, com “sociólogos, historiadores, antropólogos, muita gente”, disse.
A elaboração do dossiê focou-se “numa série de aspetos” para “dar a conhecer” as festas da vila, que só se realizam quando o povo quer, e a forma como se tornaram “únicas” face a outros eventos onde existem também flores de papel.
A flor de papel não é algo exclusivo das Festas de Campo Maior, existem vários eventos que usam este tipo de decoração. Evidentemente, a qualidade do trabalho destas festas é um elemento muito importante, porque é, de facto, diferenciador”, argumentou.
Mas há também “outras características da festa que as tornam únicas e o dossiê focou-se muito nesses aspetos”, acrescentou.
O “elevado” número de voluntários que fazem flores, o facto de as festas só se realizarem quando o povo quer ou a figura do “cabeça de rua”, uma espécie de “capitão de equipa”, foram alguns dos aspetos mencionados na candidatura.
No dossiê enviado à UNESCO, foram também abordados outros temas que tornam estas festas “diferentes”, como “a arquitetura efémera” e a forma como a vila, “da noite para o dia, se transforma por completo” com as flores de papel.
A via pública passa “a ser quase privada, porque passa a ser a minha rua”, enquanto, em sentido contrário, “a propriedade privada passa a ser pública, porque a minha casa está praticamente aberta para os visitantes”, disse.
Durante o processo de investigação feito pela equipa multidisciplinar que preparou a candidatura, foi possível apurar que as festas têm uma ligação ao culto de São João Batista, que é o padroeiro da vila de Campo Maior, relatou o coordenador.