O ex-secretário de Estado socialista Ascenso Simões pediu esta quinta-feira aos deputados que se questionem se estão à altura dos tempos, alertando para os desafios globais e para os efeitos negativos da instabilidade com ciclos curtos de governação.

Este desafio foi transmitido pelo cabeça de lista socialista no círculo de Vila Real, nas eleições legislativas de 2015 e 2019, no último discurso que proferiu na qualidade de deputado perante a Assembleia da República.

Ascenso Simões, que não se candidatará a deputado nas próximas eleições legislativas, advertiu para as consequências nefastas de um percurso com “governos curtos, instabilidade e ausência de sentido político”.

Um percurso que “já nos obrigou a um caminho penoso, que introduziu tristeza e fez estagnar muitas das forças mais dinâmicas da nossa sociedade”, apontou.

Ascenso Simões referiu em seguida que em 2020, quando o país estava “a iniciar a libertação da crise social e económica, afundou-se de novo com tudo o que a pandemia do século trouxe”.

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E, quando Portugal se preparava para aplicar em simultâneo três programas europeus, o Governo viu o seu Orçamento reprovado. Nenhum cientista político encontrará as razões para este triste tempo”, sustentou.

Depois, o antigo secretário de Estado socialista deixou um desafio, sobretudo dirigido aos futuros deputados.

“Estamos no final de uma legislatura única. Importa olhar para vossas excelências e questionar a vossa consciência. Que país queremos? Estaremos à altura do tempo em que vivemos?”, perguntou.

Para o deputado do PS, cabe aos políticos do atual regime democrático “organizar a esperança”, algo que disse ser impossível quando o país “entra em instabilidade política, com ciclos curtos de governação”.

“Organizar a esperança exige um Governo forte, capaz e sustentado parlamentarmente”, advogou.

Entre outros desafios, o deputado transmontano do PS avisou que o país “tem de estar preparado para novas e mortíferas pandemias, sejam elas as decorrentes da nossa sociedade pasmada, ou da circulação de pessoas e de animais”.

Outro desafio, segundo o ex-secretário de Estado, é a promoção do risco na sociedade portuguesa.

“Se há obrigação que devemos assumir é não querer que os nossos jovens sejam marcados pela normalização. Deixemos os jovens ganharem para si o país. Não queiramos marcar-lhes o futuro”, declarou.

Ascenso Simões defendeu também que Portugal, entre outras missões, deve “continuar a construir pontes entre continentes na sua lógica multilateral; encontrar soluções para combater a pobreza; defender o diálogo religioso; e combater a corrupção moral e económica”.

No seu discurso, o deputado socialista destacou também questões como uma nova política para a água, uma outra visão sobre o valor económico dos resíduos, o desenvolvimento do mundo rural e a existência de” opções energéticas que sustentem uma visão integrada de soberania, com os recursos minerais a serem explorados com critério e equidade”.

“Fazer dos professores gente grande e não escravos da burocracia”, assim como “uma profunda reforma do Ensino Superior e das políticas de investigação”, foram outros desafios colocados por Ascenso Simões no seu último discurso como deputado perante a Assembleia da República.