Mais do que o que disse na mensagem de Natal, destaca-se o que o primeiro-ministro não disse por estar a cerca de um mês das eleições. Mas queria dizer. António Costa assumiu-o: “Portuguesas e portugueses, teria muito mais a dizer-vos.” E logo acrescentou, numa espécie de comentário ao próprio discurso: “Mas neste período pré-eleitoral, o primeiro-ministro tem um especial dever de ser contido. Por isso concentro-me no combate à pandemia.”
António Costa optou assim, como o próprio registou, por dedicar a mensagem natalícia ao combate à pandemia pelo segundo ano consecutivo. O primeiro-ministro apresentou-se como uma espécie de comandante supremo do combate à pandemia: “A vivência tão intensa nestes dois anos no posto de comando só reforçou em mim o meu orgulho nos portugueses e a minha confiança no SNS.”
O comandante Costa voltou a admitir que o Governo falhou no combate à pandemia, mas — a um mês das eleições — fê-lo com um maior eufemismo. Na mensagem de 2020 (ano em que morreram menos pessoas e em que o combate foi mais eficaz que em 2021), António Costa disse: “Não fizemos tudo bem, cometemos erros. Só não erra quem não faz”. Já na mensagem deste sábado, Costa foi mais leve com o seu Governo sem utilizar a palavra “erro” ou “falha”:”Seguramente, não conseguimos chegar sempre a tempo, nem sarámos ainda todas as feridas“.
Ainda assim, complementou esta espécie de mea culpa com um auto-elogio (que estendeu a autarquias, União Europeia, escolas, setor social e outras entidades), dizendo que o Estado (leia-se, neste caso particular, o Governo) fez “o possível e até o que tantas vezes parecia impossível para acorrer a todos nas diversas vicissitudes” que o país enfrentou.
Quando falava no esforço de recuperação da economia, António Costa não deixou de lembrar que esse foco acontece “apesar de o emprego já ter recuperado plenamente e termos retomado um crescimento robusto”. O chefe de Governo lembrou, no entanto, que a pandemia “não afetou só a nossa saúde” e apontou o “impacto brutal” que teve em várias áreas: “No dia a dia da nossa vida, no processo formativo das nossas crianças e na solidão dos idosos; na prática do desporto amador ou de formação, em todo o setor da cultura, na atividade das empresas, no emprego, no rendimento das famílias”.
“Esta guerra ainda não acabou”
Depois, na tal capa de gestor da pandemia, António Costa enalteceu as vantagens da vacinação, dizendo que “a vacina provou ser a arma mais eficaz no combate à pandemia”. Apesar disso, deixou um aviso: “Esta guerra ainda não acabou”.
Em matéria de vacinação, o primeiro-ministro não deixou de se congratular porque, desde o início da vacinação, “a população maior de 12 anos está vacinada e já 2,5 milhões de pessoas receberam a dose de reforço”, além de já ter sido iniciada a vacinação das crianças entre os 11 e os 5 anos. À boleia da vacinação, Costa deixou ainda um “muito, muito obrigado” aos profissionais de saúde em nome dos portugueses.
A pensar nos portugueses que passaram o Natal isolados, António Costa diz que “nem sempre é fácil”, mas lembrou que ele próprio passou por isso há um ano. Apesar de reconhecer que é difícil, o primeiro-ministro lembra que “verdadeiramente difícil é a dor de quem sofre a perda de um ente querido ou as privações de quem está doente, tantas vezes carecendo de internamento hospitalar”. As cautelas são, nesse caso, uma espécie de mal menor. E chega mesmo a dizer, em tom pedagógico: “O melhor presente que podemos dar a cada um dos familiares e aos nossos amigos é proteger a sua saúde.”