Já está a caminho do espaço o maior e mais poderoso telescópio espacial da História. James Webb, um projeto milionário da agência espacial norte-americano, seguiu no interior de um foguetão Ariane 5 que levantou voo a partir da base de lançamentos de Kourou às 12h20 de Portugal Continental, menos cinco horas na Guiana Francesa.
Reveja aqui em baixo o momento em que o James Webb partiu “de uma floresta tropical para os limites do próprio tempo”. O segundo estágio do foguetão, que é o mais fiável no mercado e foi desenvolvido pela Agência Espacial Europeia, chegou a seguir a uma velocidade de quase 10 quilómetros por segundo, o que corresponde a 36 mil quilómetros por hora.
Quando se libertou, o telescópio seguiu finalmente sozinho para lá do Sol. Encaminha-se para o ponto L2, uma das cinco posições no espaço em que a força gravitacional do Sol e da Terra equilibram a força centrípeta (a que puxa o telescópio para o centro da trajetória) necessária para que o telescópio se mova em concordância com estes dois corpos celestes.
Here is that moment, preserved for posterity! #UnfoldTheUniverse #NASAWebb pic.twitter.com/p5KpZGVB1C
— NASA Webb Telescope (@NASAWebb) December 25, 2021
É o primeiro momento da missão espacial mais esperada do ano e aquela em que a NASA mais apostou nos últimos 25 anos: catorze anos depois da data inicialmente marcada para a libertação do Telescópio Espacial James Webb no espaço, e após um investimento só equiparável ao colocado no Grande Colisor de Partículas do CERN e no Telescópio Espacial Hubble, o projeto está finalmente pronto para explorar o universo.
E fá-lo-á como nenhuma outra plataforma espacial foi capaz até agora. O James Webb tem capacidade para detetar a radiação infravermelha que chega até este canto do universo após uma viagem milenar pelo espaço num comprimento de onda entre os 0,6 a 28 nanómetros. É radiação emitida pelas primeiras estrelas a iluminar o espaço, há quase 13,6 mil milhões de anos (até já morreram, mas a radiação que emitiram continuou a atravessar o espaço), e permite saber com maior precisão a idade do universo e a origem dos elementos que compõem hoje o mundo.
Além de explorar também os corpos celestes no Sistema Solar, desde Vénus até à lua saturniana de Titã, onde a comunidade científica ainda deposita esperanças de encontrar vida microbiana nas proximidades da Terra, o Telescópio James Webb vai lançar um olhar de lince sobre os exoplanetas espalhados pela Via Láctea em busca de sinais de vida extraterrestre na composição das suas atmosfera — como a presença de metano.
Durante o lançamento, e durante 29 dias até chegar a um ponto a 1,5 milhões de quilómetros da Terra que fica atrás do Sol, o telescópio permanecerá dobrado em partes para caber no módulo de carga do foguetão. Só depois é que o espelho com 6,5 metros de diâmetro, 25 metros quadrados de área e 700 átomos de espessura, feito de berílio banhado a ouro, se vai posicionar para começar a receber a radiação infravermelha.
Tanto o espelho como todos os aparelhos científicos a bordo do telescópio estão protegidos do calor solar por um escudo de alumínio e seda de aranha cor-de-rosa, com o tamanho de um campo de ténis. É tão eficaz em manter a plataforma em temperaturas criogénicas de -233ºC que suporta temperaturas dos -235ºC aos 125ºC. É como espalhar na pele um protetor solar com fator de um milhão.
Os primeiros dados recolhidos pelo telescópio devem começar a ser recolhidos seis meses após o lançamento. Para a NASA, este é um “momento Apollo”, uma missão de tanta complexidade e envolvimento da comunidade científica que pode alterar completamente a perceção que a humanidade tem sobre si mesma e sobre o mundo que a rodeia. Se tudo correr mal, James Webb será apenas um colosso a flutuar no espaço durante cinco a 10 anos.