O Presidente são-tomense apelou ao espírito de resiliência e solidariedade dos são-tomenses para apoiar os afetados pelas fortes chuvas que, disse, deixaram a ilha de São Tomé com um cenário de pós-guerra e alto nível de destruição.

“Há infraestruturas destruídas e quem vê pela primeira vez parece que saímos de um cenário de guerra, tal a destruição”, afirmou Carlos Vila Nova na tarde de quarta-feira, após visitar várias comunidades dos distritos de Lobata e Lembá, no norte da ilha de São Tomé, que sofreram alto níveis de destruição devido às chuvas que assolaram o país nas últimas 48 horas.

Os Serviços de Proteção Civil e Bombeiros, e as forças militares e paramilitares, incluindo a Polícia de Segurança Pública, ainda estão no terreno a calcular os dados reais dos prejuízos causados pelas inundações.

No centro da cidade, dezenas de comerciantes e trabalhadores ainda limpam os restos de terra e águas que invadiram vários estabelecimentos comerciais em níveis nunca antes vistos.

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Ontem [quarta-feira] nem dava para entrar na loja. Hoje estamos aqui ‘leve-leve’ a limpar a lama e água que entrou na loja. Várias coisas ficaram molhadas e vamos ter que deitar fora”, conta uma funcionária.

“Está tudo inundado. Dentro de casa, não tem como dormir”, relatou uma moradora da localidade de Bom Bom, no distrito de Mé-zóchi. Segundo conta, o nível da água acumulada subiu e deixou submersa a sua viatura que estava estacionada no quintal.

“Tenho que esperar a água baixar para depois chamar o mecânico para ver o motor do carro. Da maneira que a água entrou no carro, não sei como é que vai ser. Isto vai ser difícil”, lamentou.

“A água chegou a mais ou menos 40 centímetro por dentro da loja. Só agora, que começou a baixar, é que conseguimos entrar para limpar. É um prejuízo muito elevado. Somos investidores estrangeiros. Estamos aqui para ajudar o povo são-tomense e esperemos que o Governo tenha olhos nisso e que apoiem os empresários que tiveram este prejuízo”, apelou o gerente de um dos estabelecimentos perto da ponte de Água Grande, na capital.

Os pedidos de apoio chegam de várias partes do país, tendo o Presidente da República apelado à “solidariedade” e ao “espírito de resiliência dos são-tomenses”.

“Estou bastante sentido e espero que mais uma vez, todos nós, naquele espírito de resiliência de que somos capazes, naquele espírito de solidariedade, juntemos as mãos, porque a dimensão da tarefa que temos, ela é de todos, ela é enorme”, disse Carlos Vila Nova.

O chefe de Estado reafirmou os votos de “solidariedade e de conforto às famílias que perderam os membros” e também a “todos os sinistrados” que perderam os seus bens materiais.

O que vi ao longo do dia, não há muito que dizer, mas há muito que sentir e de facto eu sinto e preocupa-me imenso. Insto a todas as instituições para que elas sejam mais céleres possível“, afirmou o Presidente da República.

O rasto de destruição continua ainda ser apurados. O Governo encontra-se quinta-feira ao início da tarde reunido em Conselho de Ministros, após ter declarado, na quarta-feira, estado de calamidade para os próximos 15 dias.

Decidimos declarar estado de calamidade para os próximos 15 dias. Acionámos um fundo de contingência para fazer face às despesas e poder apoiar nalguns casos algumas famílias“, referiu o primeiro-ministro Jorge Bom Jesus.

No mesmo dia a ministra dos Negócios Estrangeiros são-tomense, Edite Ten Jua, reuniu-se com o corpo diplomático acreditado no país para informar da “situação muito complicada” registada no país e revelou que registou disponibilidade dos parceiros em colaborar com o executivo.

Em declarações à Lusa, o comissário da Proteção Civil e Bombeiros, Edson Bragança, referiu que as chuvas intensas provocaram a morte de duas crianças, tendo um dos corpos sido já recuperado.

O responsável disse quinta-feira à Lusa que ainda continuam as buscas para achar o corpo da menor desaparecida.

Por outro lado, dois dos seis pescadores que se encontravam desaparecidos já retornaram ao convívio familiar.