Problemas naturais de organização tendo em conta os tempos de pandemia que ainda se vivem, a habitual resistência dos principais clubes europeus em ceder os seus melhores jogadores para uma competição que pode no limite afastar esses elementos durante um mês, muitos representantes nacionais nas delegações de Cabo Verde e Guiné-Bissau, atletas nas equipas do Gana, da Nigéria, da Guiné Equatorial, da Gâmbia ou do Mali, dois treinadores portugueses. Era nestes dois últimos, Carlos Queiroz no Egito e António Conceição nos Camarões, que se centravam as atenções. E com o segundo a ter o grande desafio pela frente.

Depois de ter começado a carreira de treinador na equipa B do Sp. Braga, tendo passado de forma interina pelo comando do conjunto principal em 2003, António Conceição passou por clubes da Primeira e Segunda Liga nacionais antes de viver várias experiências no estrangeiro entre Roménia (Cluj, em três momentos diferentes, Brasov e Astra Ploiesti), Arábia Saudita (Al-Faisaly), Chipre (Nea Salamina) e Camarões, onde assumiu pela primeira vez uma seleção em 2019 sucedendo a Clarence Seedorf e renovando há alguns meses com dois objetivos claros: ganhar a Taça das Nações Africanas e chegar ao Mundial.

“O povo sente a seleção e quer vê-la na final. É um sentimento comum a toda a gente, desde a equipa técnica, aos jogadores e à Federação. Temos um historial grande nesta competição e há um longo caminho pela frente, em que a primeira etapa é o apuramento para os oitavos de final. O grupo é muito equilibrado e, por isso, é necessário trabalhar muito. Este é o ponto alto da minha carreira. Um grande desafio. É o nosso foco e a dedicação será total, para encontrarmos caminhos de sucesso. Isso exige que aprimoremos as nossas capacidades, para tornarmos a nossa equipa mais forte”, comentara o treinador dos “Leões Indomáveis”, a alcunha da seleção dos Camarões, no lançamento do jogo com o Burquina Faso.

“Os níveis emocionais vão ser elevados porque é o jogo inaugural, com 80% da lotação do estádio garantida. Os Camarões precisam de ser muitos consistentes e a responsabilidade maior está do nosso lado. Sabemos que o adversário não tem nada a perder, apresentar-se-á motivado e nós temos, também, de estar muito motivados. O Burquina Faso é uma equipa muito bem organizada e precisamos fazer uma exibição de grande nível para conseguirmos a vitória na estreia”, acrescentara ainda António Conceição.

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O encontro começou com uma verdadeira entrada assassina de Steeve Yago logo aos 40 segundos, que lhe valeu um cartão amarelo mas que poderia ter redundado na expulsão mais rápida de sempre num jogo da Taça das Nações Africanas, e com os Camarões a tentarem assumir o domínio do encontro com algumas boas aproximações tendo o avançado Aboubakar como principal referência mas sem criar depois a partir disso oportunidades flagrantes. O Burquina Faso atacava menos mas atacava melhor, aproveitando um canto para criar a primeira ameaça e, na sequência do lance, inaugurar o marcador depois de uma saída mal calculada de Onana que Gustavo Sangaré, do Quevilly-Rouen, aproveitou ao segundo poste (24′).

O golo teve impacto no conjunto dos Camarões, que por alguns momentos perdeu o controlo do jogo e a sua organização em campo, mas a reviravolta chegaria ainda antes do intervalo também como reflexo da menor experiência do conjunto do Burquina Faso, com entradas duras, fora de tempo e às vezes sem necessidade que valeram duas grandes penalidades transformadas pelo capitão Aboubakar, antigo avançado do FC Porto que levava apenas um golo esta época pelo Al Nassr mas que bisou na abertura da CAN (40′ e 45+3′), carimbando o triunfo num encontro que vale a liderança do grupo A antes do Etiópia-Cabo Verde apesar de ter visto ainda um terceiro golo anulado na segunda parte que poderia ter dado o hat-trick.