Vai ser julgada por quatro crimes de maus-tratos, dois deles agravados por terem resultado em morte, e por um crime de profanação de cadáver, a proprietária de um lar ilegal em Riachos, Torres Novas, onde três idosos morreram no espaço de três meses.

No ano passado, o cadáver de uma das utentes do lar foi encontrado por um sobrinho, na cama, num quarto que era partilhado com duas outras utentes que passaram pelo menos 12 noites com o corpo e um “forte odor cadavérico” dado o “avançado estado de decomposição e aparente esqueletização”, lê-se na acusação do Ministério Público, citada pelo Correio da Manhã. O corpo estava aconchegado como se estivesse a dormir.

A sobrinha de uma outra utente tentou depois ver a tia, mas percebeu que também já estava morte há alguns dias. O corpo tinha sido escondido pela proprietária. Em ambos os casos, os cadáveres apresentavam “emagrecimento acentuado, com sinais de subnutrição”. O Ministério Público alega que a proprietária do lar não alimentava as utentes “de forma conveniente” e “apenas tinha uma sopa aguada para lhes servir”. Também não garantia apoio médico e não tinha equipamento adequado para os banhos.

No mesmo processo, também está a ser julgado um médico de 68 anos, residente em Torres Novas. O homem passou a certidão de óbito de um outro utente do lar, identificando a causa da morte como a doença de Alzheimer sem o ter visto “antes ou depois da sua morte”. O médico cobrou 50 euros para o efeito. Neste caso, não houve indícios de crime na morte do utente.

No apartamento viviam mais duas mulheres, de 85 e 87 anos, que foram encaminhadas para o hospital após a descoberta dos cadáveres, com sinais de subnutrição e de “maus cuidados”. Cada utente pagava 600 euros por mês para estar no lar.

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