É comum dizer-se que os gatos são animais solitários ou pouco sociáveis. Mas será que esta ideia está de acordo com a realidade? É verdade que “os gatos são, geralmente, mais independentes do que os cães e tendem a ser muito mais subtis na forma como se expressam, seja nas manifestações de afeto, de alegria, de tristeza, mas também de dor, de desconforto, ou de que algo não está bem. São claramente animais mais difíceis de ‘ler’ e de interpretar”, como afirma Joana Pereira, médica veterinária da Royal Canin. Apesar de serem animais mais autossuficientes, — o que não significa que não possam ser extremamente meigos e apegados aos seus tutores —, se está a pensar em adotar um gato, é importante que não caia no erro de pensar que este animal não precisa de grandes cuidados. Faça do médico veterinário e das consultas de rotina os seus maiores aliados nesta nova aventura e siga os conselhos de quem sabe para garantir que dá ao seu animal de estimação tudo aquilo de que ele precisa e merece.

A partir de que idade pode um gato ser adotado?

Por muito que um tutor esteja ansioso por levar para casa o seu gatinho, é importante que não o faça cedo demais. “Segundo o The Kitten Checklist, os gatos deverão ficar com a progenitora e irmãos até, pelo menos, às oito semanas de idade, pois retirá-los antes pode originar alguns problemas comportamentais”, alerta a médica veterinária. Os primeiros tempos de vida têm um impacto muito significativo no desenvolvimento do gato: “O ambiente em que o gatinho vive entre as primeiras duas a nove semanas de idade, os estímulos a que está exposto e as experiências que vive nesta fase são essenciais para a sua socialização. É nesta altura que são mais sensíveis e recetivos a tudo o que os rodeia. Os gatos provenientes de criadores responsáveis só costumam instalar-se na sua nova casa pelas 12 ou 13 semanas de idade, garantindo que este período de socialização é mais prolongado e feito da forma mais adequada, reforçando certos comportamentos e traços de personalidade que sejam típicos e desejados para a raça”, esclarece Joana Pereira.

Preparar a casa para receber o animal

Ainda antes de trazer o gatinho para o seu novo lar, há alguns artigos que precisa de ter em casa para garantir a sua saúde, bem-estar e uma melhor adaptação. “Isto implica a criação de áreas de descanso, para se alimentar e beber água, mas também para fazer as suas necessidades, arranhar as unhas e brincar”, afirma a especialista. Para isso, de acordo com o especialista em saúde animal, os tutores devem adquirir previamente:

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  • Taças para a água e comida: devem ser separadas e idealmente em vidro/porcelana ou metal, pois a maioria não gosta dos cheiros que se associam às taças em plástico. Também pode optar por fontes de água, pois há muitos gatos que gostam mais de beber “água corrente”, além de ser um estímulo à brincadeira que ajuda a enriquecer o seu ambiente;
  • Caixote e areia: idealmente, deve equivaler ao número de gatos mais um. Ou seja, para um gato, deve ter dois caixotes de areia. Deve ter também uma pá para recolher e eliminar regularmente os dejetos. A caixa de areia deve ter uma boa profundidade e, se for coberta, ter espaço suficiente para o gato se virar lá dentro e tapar à vontade os seus dejetos;
  • Camas ou mantas que sirvam de zona de descanso;
  • Árvores ou ginásios com arranhadores, para subir e escalar, permitindo-lhes também brincar, descansar, esconder-se e observar tudo o que os rodeia de um ponto mais alto;
  • Caixa transportadora, para qualquer viagem que seja necessário fazer, como as idas ao veterinário. Idealmente, a caixa deve ser suficientemente grande para que o gato se consiga virar e mudar de posição facilmente; ter uma manta no interior para maior conforto do animal; e ser “desmontável” — ou seja, passível de remover a parte de cima, já que isso pode facilitar as consultas e todo o acesso do médico veterinário ao animal, sem ter de o retirar deste seu “pequeno território” que considera seguro, ajudando a que fique mais calmo durante todos os procedimentos.

Por outro lado, há um artigo que deve ficar fora da lista de compras: as coleiras com guizos. “Muitos tutores colocam-nas no pescoço do gato porque os ajuda a saber onde ele está, mas, na verdade, em nada contribuem para o bem-estar do animal, que, geralmente, fica muito incomodado com o barulho do guizo”, explica Joana Pereira, médica veterinária da Royal Canin.

Além disso, é também importante garantir que a casa é segura para o gato, “retirando do seu alcance tudo o que seja perigoso, como plantas tóxicas, acesso ao caixote do lixo, fios elétricos, medicamentos e  tóxicos, selando as janelas com redes mosquiteiras ou tendo o cuidado de não as abrir sem ter o estore para baixo (o que é particularmente importante para quem vive em andares altos)”, aconselha a especialista, reforçando ainda que, “nos primeiros dias, é até conveniente deixá-lo confinado a uma divisão da casa que seja mais tranquila, mas com acesso a todos os recursos de que precisa, para que se habitue aos sons e odores típicos da casa”. Assegurados todos estes cuidados, “é importante que o tutor o deixe explorar e orientar-se ao seu próprio ritmo, mas certificando-se de que se controla a existência de potenciais perigos”.

O processo de habituação e as apresentações

Quatro semanas. Este é, estima-se, o tempo que em média um gato demora até estar totalmente adaptado à sua nova casa. Contudo, “o tempo de habituação ao novo espaço não é linear e pode depender de fatores como a idade, vivências passadas e hábitos já adquiridos, a personalidade do gato e o contexto do novo ambiente”, explica Joana Pereira. E como podemos saber se o nosso gato se está a adaptar de forma tranquila? Há alguns sinais que o podem ajudar.

De acordo com a especialista, “um animal que se esteja a adaptar de forma adequada continua a comer e a fazer as suas necessidades, a dormir e brincar, ao mesmo tempo que vai procurando cada vez mais o contacto com os vários elementos da casa, aventurando-se a explorar cada cantinho a pouco e pouco. Vai também ‘marcando’ o território como seu, roçando o focinho nas várias esquinas da casa, deixando assim nesses locais as suas feromonas associadas ao bem-estar e marcando-os como ‘local seguro’”. E se houver outros animais na casa? Para garantir que corre tudo bem, “as apresentações devem ser sempre supervisionadas. Se não forem realizadas adequadamente, podem surgir confusões e confrontos quanto aos recursos e o espaço partilhado. Antes da apresentação, recomenda-se marcar uma visita ao médico veterinário, para que seja possível assegurar que o novo animal não é portador de nenhuma doença contagiosa que possa ser transmitida a outros animais de estimação”, recomenda.

Há algumas estratégias que, segundo a especialista, pode colocar em prática para facilitar a apresentação entre o recém-chegado gato e os restantes animais da casa:

  • Manter o novo gato isolado dos outros animais de estimação nos primeiros dias numa divisão sossegada, para que possa conhecer o seu novo ambiente gradualmente e permitir que os vários animais se vão “cheirando” e ouvindo através da porta;
  • Isolar o gato em todas as divisões sucessivamente, para que possa explorar gradualmente a casa e não sentir o desejo de se esconder debaixo da mobília;
  • Continuar a dar muita atenção aos outros animais e, nos primeiros dias, manter os privilégios do animal de estimação mais antigo (quer se trate de um cão ou de um gato);
  • Dar conforto aos animais de estimação existentes no seu território, amenizando qualquer ansiedade associada ao novo elemento;
  • Ir trocando as mantas ou camas usadas entre uns e outros, para que conheçam os seus odores (uma das principais formas de comunicação entre animais) antes de um primeiro encontro direto;
  • Recorrer a feromonas felinas (geralmente, sob a forma de um difusor, que se coloca na tomada, idealmente à altura do focinho do gato, mas também disponíveis em sprays) pode ser uma grande ajuda no processo de adaptação.

Durante as apresentações, “é importante que o tutor se certifique que não ocorram situações em que o gato se sinta encurralado num canto, pois o animal vai encarar a situação como uma ameaça à sua integridade física, o que pode originar reações de agressividade e criar experiências desagradáveis”, alerta Joana Pereira. Deste modo, “é essencial que se tenha sempre um ponto de fuga para o animal, e deve escolher-se uma divisão onde o animal se sinta confortável e onde existam lugares para se poder esconder”, completa.

E se o tal animal residente for um cão? Nesse caso, além dos cuidados anteriormente referidos, “as apresentações iniciais devem ser feitas com o cão com a trela colocada e o gato solto. As apresentações controladas e repetidas permitirão que o cão e o novo gato encontrem uma forma de viver pacificamente em conjunto. Além disso, idealmente, o gato deverá ter acesso a áreas mais elevadas do que o cão para poder escapar se tiver receio”, explica, referindo ainda que, acima de tudo, é importante “respeitar os tempos e reações de cada um e, por isso, nunca se deve forçar o gato a entrar em contacto com o cão ou outros gatos”.

As idas ao veterinário são (muito!) importantes

Uma das prioridades ao trazer um novo animal para casa é a visita ao médico veterinário. Enquanto tutores, “devemos ter o cuidado de marcar um check-up logo que o novo animal se junte à família. Logo desde o primeiro exame médico, o veterinário pode ter uma visão geral do estado de saúde do gato e notar quaisquer mudanças preocupantes à medida que o gato cresce e o tempo passa”, explica a especialista da Royal Canin.

Caso adote um gatinho pequeno, “visitar o médico veterinário pode ajudar a tomar decisões importantes — em matérias, por exemplo, como a esterilização ou o esquema vacinal e de desparasitações internas e externas, bem como o calendário de consultas de rotina –, e a utilizar a nutrição como uma ferramenta para potenciar o bem-estar do animal desde pequeno”, salienta. A Royal Canin reconhece a importância de cuidados veterinários de rotina e foi por isso que desenvolveu a iniciativa #CAT2VET, cujo lema é “Leve o seu gato ao veterinário”.

Com isto, a marca “pretende incentivar os tutores a levarem os seus gatos às consultas com o seu médico veterinário mais frequentemente, transmitindo toda a informação de que os tutores precisam para compreender melhor a importância dos cuidados médicos preventivos e regulares nos gatos. O objetivo é aumentar a consciencialização para ajudar mais gatos a terem uma vida mais saudável, longa e feliz”, afirma Joana Pereira. E quanto à frequências das consultas? “Os gatos, tal como os cães, necessitam de check-ups que variam consoante a fase da vida, sendo mais frequentes durante o crescimento e fase de envelhecimento. Num animal adulto saudável, devem ocorrer pelo menos uma vez por ano”, aconselha.

Como escolher o alimento certo

Este é um dos temas abordados na primeira consulta (e não só) no veterinário. Este especialista “pode fazer toda a diferença ao indicar a melhor alimentação para cada gato – que vai depender sempre de fatores como idade, raça, peso, estatuto reprodutivo ou presença de patologias. Isto vai fazer com que a alimentação indicada varie muito consoante cada caso: o alimento que vai permitir a manutenção da saúde dos gatos vai ser diferente quando são pequenos, adultos ou séniores, mas também se forem esterilizados ou não.

Por outro lado, as gatas gestantes ou lactantes também precisam de uma alimentação diferente, rica em gordura e que promova a produção de leite de elevada qualidade para os gatinhos. De um modo geral, é importante oferecer ao gato uma dieta completa e equilibrada, com todos os nutrientes essenciais de que ele necessita e o aporte certo em calorias”, esclarece a médica veterinária.

Bons hábitos alimentares desde o primeiro dia

A adoção de uma dieta saudável é uma parte muito importante da vida do seu animal de estimação e é por isso que deve incutir bons hábitos desde o momento em que este chega à sua nova casa. Segundo Joana Pereira, “estabelecer desde logo bons hábitos alimentares vai ajudar a que os gatos mantenham um peso saudável”.

Para isso, a especialista recomenda, “devemos cumprir a porção diária recomendada de comida, pesando-a numa balança de cozinha, e garantir acesso constante a água limpa e fresca, o que vai ser particularmente importante para evitar problemas do trato urinário, como o desenvolvimento de cristais ou cálculos na urina, que nesta espécie é tipicamente muito concentrada, o que a predispõe a este tipo de problemas”. Quanto às recompensas e outros extras, estas podem fazer parte de uma boa alimentação, sim, mas com parcimónia, não devendo corresponder a mais de 10% do aporte calórico diário.

Uma dieta pouco saudável pode resultar em obesidade

É verdade. É importante que nada falte ao seu gato, mas os excessos alimentares também podem ter consequências negativas na sua saúde e bem-estar. “O problema que mais frequentemente se verifica é mesmo o excesso de peso ou obesidade, com todos os problemas de saúde que podem surgir associados a essa condição – como é o caso da diabetes mellitus, maior propensão para a formação de cálculos urinários e problemas osteoarticulares —, o desgaste das articulações vai ser maior em animais que tenham de carregar mais peso”, alerta a especialista.

Há alguns fatores que podem aumentar a tendência de um gato para ter excesso de peso ou obesidade. Segundo a médica veterinária, dois deles são:

  • Ser esterilizado: há certas mudanças que ocorrem no seu metabolismo, que fica mais reduzido relativamente a um animal não esterilizado. Por outro lado, o seu apetite aumenta bastante, juntando ainda o facto de geralmente ficarem mais calmos e não se mexerem tanto;
  • Ser um gato de casa, com um estilo de vida mais sedentário ou que viva num ambiente com poucos estímulos.

O que pode fazer para promover um peso adequado

O tipo de alimentação e a prática de exercício físico são dois aspetos que podem fazer uma grande diferença na saúde do gato. De acordo com a médica veterinária da Royal Canin, “há vários detalhes a que os tutores devem dar atenção para garantir que o animal de estimação mantém uma silhueta elegante e um peso saudável toda a vida. Alguns exemplos são ajudar o gato a exercitar-se — fomentando eventualmente o seu instinto de caça e fazendo-o correr atrás dos croquetes ou utilizando dispositivos ou brinquedos dispensadores de alimento —, além de estabelecer bons comportamentos alimentares e ajustar a dieta para atender às necessidades do animal”.

A título de exemplo, falemos dos animais esterilizados: “O recurso a alimentos especialmente dedicados a animais esterilizados permite prevenir o aumento excessivo de peso, pois são produtos já com alguma restrição calórica e que promovem a sensação de saciedade e o controlo da fome, além da manutenção da massa muscular”, explica. Por outro lado, “em animais que já têm um ligeiro excesso de peso, os produtos ‘Light’ podem efetivamente ajudar a voltar ao seu peso saudável. Em animais já em situação de obesidade, ou seja, mais de 20% acima do seu peso saudável, apenas dietas específicas para promoção da perda de peso segura e saudável — como as da gama Satiety, da Royal Canin — devem ser tidas em conta, devendo ser apenas utilizadas sob a supervisão da equipa veterinária que acompanha o animal”, aconselha.

Outros cuidados que deve assegurar ao seu gato

Um dos adjetivos que usamos muitas vezes para descrever os gatos é “asseados”, o que não está longe da verdade. De acordo com a médica veterinária, “os gatos são animais extremamente ‘limpos’, que têm a capacidade de tratar da sua própria higiene” desde que tenham disponíveis caixotes de areia em número e local adequado. Isto não significa que o tutor não tenha qualquer papel na higiene do animal. Um dos cuidados que deve ter é, por exemplo, a escovagem do pelo. É importante também garantir que há “interação com o animal, com mimos e brincadeiras”, afirma Joana Pereira.

Outro aspeto a ter em consideração é que os gatos “são muito sensíveis a mudanças nas rotinas dos seus tutores e do ambiente, ao contrário da crença geral. Principalmente, quando falamos de gatinhos, que estão numa fase inicial da vida e da adaptação ao novo ambiente e rotinas, este contacto regular e estruturado é de vital importância para uma convivência saudável e duradoura ao longo de toda a sua vida”, esclarece. Para terminar, ao adotar um gato há um fator muito importante que, segundo a médica veterinária, deve ser respeitado: os gatos “são animais com uma noção de ‘espaço pessoal’ bastante bem definida e nem sempre gostam de ser agarrados e definitivamente não gostam de ser forçados a fazer nada. É vital que se respeite o seu espaço e os seus ritmos, deixando-lhes a liberdade para decidirem se e quando se querem aproximar”.