Uma derrota, duas vitórias meio tremidas ou nos descontos, três empates a um consecutivos com um deles a ter depois eliminação da Taça da Inglaterra nas grandes penalidades. Tudo com um ponto comum: Ronaldo sempre utilizado, como titular ou saído do banco, mas sem golos nem assistências (até com penáltis falhados à mistura). A crise estrutural de resultados do Manchester United, refém de títulos desde a primeira época de José Mourinho no comando e agora a lutar pela qualificação para a Liga dos Campeões, cruzou-se com uma crise conjuntural do avançado português que não tinha uma “seca” assim há mais de uma década. Com isso, e de forma inevitável, os últimos dias mais não foram do que um desfilar de opiniões sobre ambos.

Ronaldo leva seis jogos sem marcar e aproxima-se do pior jejum da carreira. E o Manchester United continua sem ganhar

“Cristiano deve estar a pensar no que é que se meteu. É um jogador incrível, um dos melhores que já pisaram o planeta, mas já tem 37 anos. Não gosta de ficar de fora porque a sua essência é a vontade incomparável de ganhar e a determinação de nunca sair derrotado. Ter o Cristiano na equipa devia ser como viver um sonho para os mais jovens. Para mim, isto é uma falsa narrativa. A grande pergunta que tem de ser respondida é o porquê daquela defesa patética. Ronaldo está furioso por este caos e está a pedir melhor”, comentou Alan Shearer. “Este não é o Ronaldo de há 19 anos, este é o Cristiano que tem 37 anos. Pensámos que ia ser uma boa influência mas limita-se a correr para o túnel e expressa o seu desapontamento de forma infantil. Ele está a dar um mau exemplo”, argumentou Paul Ince. “É uma parte importante do problema. Quando foi a correr para o balneário depois de ter dado um sermão à equipa sobre o líder que ele pensa que é, como fomenta o espírito de equipa no balneário? Deveria marcar mais”, advogou Gary Neville.

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Os comentários podiam seguir mas, focando apenas em antigos internacionais ingleses e dois deles com um grande passado em Old Trafford até como capitães, percebe-se que não existe propriamente um consenso sobre o momento que os red devils atravessam. Unânime, à partida, é a escolha ao lado da opção para ficar com a equipa após a saída de Solskjaer e até à chegada do treinador que vai abrir um novo ciclo no clube. E se a vida de Ralf Rangnick, que no final da temporada passará a consultor técnico, não estava fácil, um alegado conflito com Ronaldo noticiado pelo As em nada terá ajudado nos últimos dias de trabalho.

De acordo com a publicação, que nunca perdeu propriamente a ligação ao avançado português mesmo após a saída do Real Madrid, “a divisão entre os dois é total” com o número 7, segundo as fontes ouvidas, a ter a opinião que Rangnick “não tem nível para treinar uma equipa como o Manchester United”. Outro dos pontos que terá desgastado ainda mais a relação foi a afirmação do treinador alemão em relação ao capitão da Seleção dizendo que deveria marcar mais golos do que aqueles que tem (nenhum no ano civil de 2022). De recordar que, desde que substituiu Solskjaer no comando técnico dos red devils, Rangnick já realizara um total de dez jogos na Premier League até esta terça-feira, com cinco vitórias, quatro empates e uma derrota.

Da parte do jogador, tudo na mesma. Segundo alguns tabloides britânicos, Ronaldo foi o primeiro a chegar este domingo (dia seguinte ao empate em casa com o Southampton) a Carrington logo pelas 9h20 e só saiu cinco horas depois, às 14h20, sendo o último a deixar o centro de treinos. Vontade de redenção não faltava mas ainda sem aquele clique que algumas vezes o português foi descrevendo como o “fenómeno ketchup” – a partir do momento em que aparecesse o primeiro, todos os outros sairiam de uma forma natural. E era nesse contexto que surgia a receção ao Brighton, uma das agradáveis surpresas da Premier League com um lugar estável a meio da tabela. Agora, falta o resto: 47 dias e 589 minutos depois, ele apareceu.

Os sinais iniciais pareciam trazer um Manchester United diferente, com uma jogada poucas vezes vista nos últimos tempos que nasceu de um erro crasso da defesa do Brighton com Ronaldo a combinar com Jadon Sancho e o remate do inglês na área a ser bem travado por Robert Sánchez (6′). No entanto, a primeira parte foi mais do mesmo: futebol previsível, pouco rasgo, pouca intensidade em termos ofensivos, mais um livre em zona perigosa batido por Ronaldo contra a barreira, nenhum golo e David de Gea a ser novamente a figura da partida com uma defesa fantástica a cabeceamento de Moder numa descida pela direita (39′).

Seria preciso algo diferente para desfazer de vez os maus resultados e, durante dez minutos após o intervalo, a forma como o Manchester United se entregou ao jogo e a dinâmica sem bola que conseguiu ter em zonas mais adiantadas permitiram não só que Ronaldo voltasse aos golos com um grande remate após recuperação de McTominay (51′) mas também que Dunk visse o cartão vermelho direto depois de mais um erro do setor defensivo (54′). A partir daí, Sánchez evitou o segundo de Ronaldo, o avançado assistiu depois Bruno Fernandes para nova oportunidade falhada mas seria o Brighton a ter uma bola na trave de Moder num fantástico remate de fora da área (78′) e mais uma chance flagrante em cima dos 90′ por Welbeck antes do 2-0 no sétimo minuto de descontos que teve Bruno Fernandes a fazer mais de meio-campo até ao golo.