Carros, autocarros, árvores: a água levou tudo à frente em Petrópolis, no Brasil. A cidade, localizada na zona montanhosa a norte do Rio de Janeiro, foi atingida por chuvas torrenciais e está irreconhecível.

Além da tragédia humana — com dezenas de mortes a lamentar —os mais de 200 deslizamentos de terras causaram também danos ao centro histórico. A Avenida Koeler e a Praça Dom Pedro II foram completamente tomadas pela lama, e pontos turísticos, como a Casa da Princesa Isabel também foram afetados, com queda de um muro. Os casarões históricos da Avenida Koeler ficaram com as caves completamente inundadas e a água ficou muito próxima de atingir os andares principais.

Fortes chuvas causam pelo menos 136 mortos na cidade brasileira de Petrópolis

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O jornal brasileiro Último Segundo descrevia assim o cenário desolador na cidade imperial: “Ali perto, a estátua de Dom Pedro II parecia olhar triste e contemplativa para a destruição na praça que leva seu nome. Totalmente tomada por lama e lixo atraiu a atenção dos pedestres, que lamentavam o ocorrido”.

Esta não é a primeira vez que a cidade é atingida por uma tragédia do género: em 2011 mais de 900 pessoas morreram quando deslizamentos de terras atingiram Petrópolis e cidades vizinhas.

Com cerca de 307 mil habitantes e a 800 metros acima do nível do mar, Petrópolis foi fundada em 1843 pelo imperador D. Pedro II, filho de D.Pedro I, o rei português que foi também o primeiro imperador do Brasil. Nos meses mais quentes do ano, a cidade era destino da corte portuguesa, que chegou ao Rio de Janeiro em 1808, atraída pelo clima ameno, gerado pela proximidade da serra. Mas não foi só no século XIX que Petrópolis foi destino de férias da elite: até ao mandato do Presidente brasileiro Costa e Silva (1967-1969), todos os chefes de Estado do país passaram férias no Palácio Barão do Rio Negro.

Esta herança faz com que Petrópolis se tenha tornado um destino turístico de eleição. Na lista de edifícios históricos destacam-se a Catedral de São Pedro de Alcântara, em estilo neogótico, o Museu Imperial e o Palácio de Cristal. A cidade, que chegou a ser capital do estado do Rio de Janeiro, concentra em si símbolos de várias épocas históricas e políticas, desde o período colonial, ao imperial e republicano.

Catedral de São Pedro de Alcântara, Petrópolis

Catedral de São Pedro de Alcântara, Petrópolis. Rodrigo Soldon/Flickr

Petrópolis foi também refúgio de vários artistas ao longo dos anos: durante II Guerra Mundial, por exemplo, foi aqui que viveu o escritor austríaco Stefan Zweig, um dos mais importantes da primeira metade do século XX. Zweig acabou por se suicidar em Petrópolis por acreditar, nessa altura, que os nazis iam vencer a guerra.