O avião ainda estava parado na placa do aeroporto de Lisboa e os calços também continuavam nas rodas, a impedi-lo de avançar, mas a porta da aeronave da TAP já estava fechada e assim se manteve, deixando do lado de fora, já com o check-in feito, Borut Pahor, o Presidente da Eslovénia, e a respetiva comitiva, que esta quarta-feira tentava regressar a casa depois de uma visita oficial de dois dias a Portugal.

Apesar dos pedidos insistentes de elementos do Protocolo de Estado, que acompanhavam o grupo de 15 pessoas, o comandante do avião manteve-se irredutível e recusou alterar as regras para deixar entrar o Presidente daquele país, que apenas um dia antes tinha estado com Marcelo Rebelo de Sousa, a inaugurar um simbólico “Banco da Paz e da Amizade”, em Belém, junto ao Tejo.

No final, e não existindo qualquer alternativa viável a sair da Portela rumo a Liubliana, a comitiva acabou por descolar de Tires, a bordo de um jato privado cujo frete custou cerca de 40 mil euros — quem pagou foi o Estado português.

A notícia está a ser avançada esta sexta-feira pelo Correio da Manhã, que diz que, para lá do considerável gasto extra, a “intransigência” do piloto, mesmo perante os pedidos da própria embaixadora responsável pelo Protocolo de Estado, que também estava no aeroporto, “esteve perto de causar um incidente diplomático” entre os dois países na quarta-feira, dia 16.

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Contactado pelo Observador, o Ministério dos Negócios Estrangeiros não quis comentar o assunto, mas o Observador sabe que a situação, resolvida na hora, acabou por não causar mossa nas relações entre Portugal e Eslovénia.

Sindicato diz que piloto “cumpriu todas as regras a que está obrigado”

Questionado pelo Observador sobre a identidade do piloto e sobre uma possível reação ao incidente, a Direção do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil emitiu um comunicado repudiando “uma notícia, hoje publicada no Correio da Manhã, sobre um incidente na madrugada de 16 de fevereiro, no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa”.

Afirmando lamentar o “incidente” devido ao “transtorno causado aos intervenientes”, a Direção do SPAC critica “a injustiça que resulta para toda a classe dos pilotos e para a TAP da forma como a notícia foi redigida”. E diz mais:

O Comandante da TAP e Associado do SPAC envolvido no incidente cumpriu todas as regras a que está obrigado no âmbito das suas responsabilidades legais e deveres profissionais, enquanto piloto da aviação civil.”

No comunicado, a Direção do sindicato lembra a reação da TAP ao incidente. Ao Correio da Manhã, a TAP reagira lamentando o “transtorno causado” pelo episódio mas assegurando também que “todas as fases do processo foram aplicadas e cumpridas as normas e legislação em vigor”.

O SPAC nota que “da leitura de toda a notícia facilmente se confirma, pelas declarações da TAP, seu empregador, que o Comandante foi a todo o tempo acompanhado pelas áreas operacionais aplicáveis, validando todo o processo de tomada de decisão, na madrugada de quarta-feira”.

Acresce que, na interpretação da direção do sindicato, “a notícia faz tábua rasa do facto de esse Comandante ter agido sempre e apenas no devido cumprimento das normas da Indústria do Transporte Aéreo, em vigor também em Portugal e na TAP SA, da mesma forma que em todas as companhias, no Mundo, criadas para garantir a Segurança de todos!”