São confissões inéditas na história da Casa Real belga. A rainha Paola, mãe do rei Filipe da Bélgica, confessa que tinha falta de maturidade quando aceitou casar-se com o rei Alberto II — com apenas 22 anos — e a traição num período da vida “em que todo estava mal” e, por isso, não se sente culpada. Com a duração de uma hora e meia e intitulado “Paola, côté jardín”, o documentário foi transmitido esta sexta-feira pela RTBF, sigla da rádio televisão belga da comunidade francesa.

Alberto e Paola (hoje em dia com 87 e 84 anos, respetivamente) conheceram-se em 1958 em Roma, por ocasião da coroação do Papa João XXIII. Oito meses depois, a 2 de julho de 1959, casaram-se na Catedral de São Miguel e Santa Gudula, em Bruxelas. Foi o primeiro casamento real na Bélgica após a Segunda Guerra Mundial. “A sua imagem deixou de pertencer a uma mulher jovem e bonita como uma artista de cinema, que veio de outro país para iluminar a corte belga, que parecia um pouco triste”, descreve o narrador, citado pelo El País.

Estava apaixonada, sim. Embora ache que a nossa adolescência foi incompleta. Eu gostaria de ter viajado e de ter visto um pouco do mundo antes; como fazem os meus netos”, explica diante das câmaras. “Não se pode comparar com o que acontece agora, é claro”, completa o marido, também presente nas imagens.

Em 1963, quando Paola tinha 26 anos, era mãe de três filhos e deu por si sem rumo e com o glamour a desmoronar-se. Envolvida em críticas ferozes da imprensa, era atacada por usar “uma saia muito curta, um biquíni com um decote indecente ou por frequentar demasiado clubes noturnos”. Sem poder responder, a situação ia se tornando cada vez mais insustentável: “Porque eu procurava a minha própria vida quando já era uma figura pública. Fiz esforços enormes que ninguém sabe”, afirma.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Durante dez anos, entre 1970 e 1980, teve um casamento infeliz. Na época, inclusive, foi fotografada na praia com um jornalista da revista francesa Paris Match. Nas imagens, enquanto olha para aquele que é o símbolo da infidelidade, não há remorsos: “Foi um amor um pouco egoísta. Noutra vida não voltaria a fazê-lo, mas não há arrependimento. Foi uma fase triste da minha vida, e estávamos à beira da separação”, reconhece.

O divórcio não chegou a acontecer pelos filhos. “Parecia injusto para mim”, diz o ex-rei, referindo-se ao facto de que, caso a separação acontecesse, Paola não ficaria com as crianças. “Fui um pai bastante autoritário, como o meu”, acredita. Houve, todavia, outro ponto de viragem: “Ele disse-me que sempre me amou, e tal emocionou-me“, relembra Paola. Agradece igualmente a reconciliação com o marido, que em 2020 admitiu ter uma filha fruto de um caso extraconjugal, a princesa Delphine Boël (não é mencionada no documentário).

Como mãe, crê que falhou e lamenta não ter compreendido a tempo a importância de demonstrar afeto aos três filhos: Filipe (atual rei junto com esposa, a rainha Matilde), Astrid e Lorenzo — todos marcam presença no documentário. Cada um à sua maneira, reconhece que a infância não foi fácil. “Todos nós sofremos muito. Mas hoje eles estão felizes e isso é, pelo menos, uma vitória. A reconciliação e o perdão é o mais difícil”, sublinha o atual rei Filipe. A mãe, que os observa com atenção, reflete: “Quando se aceita o que temos de fazer, ficamos livre”.