Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá, União Europeia. Todos num só dia impuseram sanções à Rússia. Sanções massivas e sem precedentes, prometeram durante o dia os líderes dos vários países.

No final, as maiores foram do lado financeiro. Já havia bancos na lista negra dos vários blocos, mas agora a mão caiu mais pesada. O Reino Unido tinha imposto, antes, sanções a cinco bancos: Banco Rossyia, Banco do Mar Negro para o Desenvolvimento e Reconstrução, General Bank, Promsvyazbank e IS Bank; os Estados Unidos visavam o Promsvyazbank, e o VEB e a União Europeia o Rossiya, o Promsvyazbank e o VEB.

Agora a extensão é maior.

Bancos, políticos e oligarcas. Quem está na lista de alvos das sanções contra a Rússia?

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Os Estados Unidos baniram, esta quinta-feira, o Sberbank — que detém cerca de um terço dos ativos bancários russos — do sistema financeiro norte-americano, colocando sanções ao VTB, o segundo maior banco russo, e a mais três instituições: Bank Otkritie, Sovcombank OJSC, e Novikombank.  E o Reino Unido impôs o congelamento de ativos aos maiores bancos, com efeito imediato ao VTB que tem ativos de cerca de 154 mil milhões.

Aliás, o VTB conforme avançaram a Sábado e o Expresso é acionista, em Portugal, do Financia.

Mas as sanções visam individualidades também, na tentativa de conter o poder financeiro dos apoiantes de Kremlin.

Além disso, já anteriormente os aliados restringiram a compra de dívida russa. Biden cortou, esta quinta-feira, a possibilidade de se financiarem no mercado norte-americano a 13 empresas públicas russas, além de já ter limitado as emissões do próprio estado. Sberbank, AlfaBank, Credit Bank of Moscow, Gazprombank, Russian Agricultural Bank, Gazprom, Gazprom Neft, Transneft, Rostelecom, RusHydro, Alrosa, Sovcomflot, e Russian Railways ficam impedidas de se financiarem em Wall Street. Também não se conseguirão financiar na City, já que o Reino Unido avançou com as mesmas limitações.

O Reino Unido já estabeleceu um limite de 50 mil libras de depósitos nos bancos britânicos por parte de cidadãos russos.

Foi do Canadá que se ouviu o que já se sabia. Estas sanções visam limitar a obtenção de financiamento quer do Estado russo, quer de empresas ou personalidades que o apoiem. E sem acesso ao mercado internacional, a Rússia pode vir a sofrer, já que as reservas — que andou a acumular nos últimos anos — tenderão a acabar, expressou a ministra dos Negócios Estrangeiros do Canadá, Melanie Joly.

As sanções atingem já também companhias e personalidades da Bielorrússia.

Para já, nem Estados Unidos, nem a União Europeia avançaram para o bloqueio da Rússia ao SWIFT, embora haja elementos nas lideranças europeias a pedir que esse acesso ao sistema de transações financeiras mundial seja cortado.

A sanção “nuclear”. O que é o SWIFT e que consequências teria um bloqueio à Rússia?

Tecnologia já está limitada

Uma das novidades das sanções desta quinta-feira são as ligadas à tecnologia. As importações de algumas tecnologias ficaram limitadas pelos Estados Unidos, pelo Reino Unido e pelo Canadá. Reino Unido e Canadá suspenderam a utilização de licenças das exportações para a Rússia, nomeadamente componentes eletrónicos e militares. Boris Jonhson anunciou que dentro de dias lançará legislação para proibir um conjunto alargado de exportações de alta tecnologia para a Rússia.

A arma tecnológica já havia sido referida por alguns analistas como uma das próximas, tal como aconteceu, aliás, na Guerra Fria. Joe Biden, no anúncio do alargamento das sanções, deixou claro que “isto vai impor custos severos à economia russa, custos imediatos e a longo prazo”. O departamento do Comércio vai impor controlos às exportações em certos produtos para a Rússia, incluindo semicondutores, computadores, equipamentos de telecomunicações, componentes para aeronaves e marítimo.

“Com estes controlos, nós, em conjunto com os nossos aliados e parceiros, estamos a isolar tecnologicamente a Rússia e a degradar as capacidades militares do país”, declarou o adjunto do ministro do comércio, Thea Rozman Kendler, citado pelo Politico.

E o Reino Unido ainda baniu a possibilidade da companhia aérea Aeroflot de aterrar no país.

Nord Stream II não debita gás para a Europa

No lado da energia, os Estados Unidos não avançaram com mais sanções, além das que já tinha anunciado, impondo sanções à empresa que gere o Nord Stream 2, o pipeline novo que iria abastecer a Europa, em particular a Alemanha, de mais gás natural. A Alemanha, por seu turno, parou a certificação desta infraestrutura que, assim, não vai debitar gás para o país. Mas os gasodutos que já estavam em operação assim continuam.

União Europeia promete “sanções dolorosas”

Só perto das duas da madrugada de sexta-feira foram anunciadas as sanções da União Europeia, após seis horas de reunião do Conselho Europeu. Ursula von der Leyen divulgou um pacote de “sanções em massa” que serão “dolorosas para o regime russo”, baseado em cinco pilares:

Setor financeiro: Será cortado à Rússia o acesso aos mercados capitais mais importantes, visando 70% do mercado bancário russo, mas também as principais empresas estatais, incluindo o campo da defesa. Vão aumentar os custos de empréstimo da Rússia e a inflação.

Incluída está, também, “a elite russa, restringindo os depósitos para que não possam continuar a esconder o seu dinheiro em portos seguros na Europa”, acrescentou.

Setor energético: a UE vai banir um conjunto de exportações no setor do petróleo que impedirá a Rússia de modernizar as suas refinarias. O setor deu “à Rússia receitas de exportação de 24 mil milhões de euros em 2019”.

Setor dos transportes: fica proibida a venda “todas as peças sobressalentes e equipamento aeronáutico às companhias aéreas russas, o que degradará o setor chave da economia russa e a conectividade do país”

Tecnologia: a UE vai limitar o acesso à Rússia de tecnologia “crucial”, como semicondutores.

Diplomacia: diplomatas, grupos e empresários ligados à Rússia não terão qualquer acesso privilegiado à UE.

“O Conselho Europeu apelou aos órgãos apropriados para que tomassem as medidas legais para as sanções”, adiantou Charles Michel, falando em conferência de imprensa no final do encontro de chefes de Governo e de Estado da União Europeia.