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A festa da expiação dos Linda Martini

Este artigo tem mais de 2 anos

Um novo álbum, uma nova formação, a mesma atitude: ouvimos "Errôr", conversámos com os músicos e fomos ao primeiro concerto da nova vida da banda para perceber para onde caminham os Linda Martini.

Os Linda Martini começam esta semana a apresentação ao vivo das canções de "Errôr", primeiro no Porto, depois em Lisboa
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Os Linda Martini começam esta semana a apresentação ao vivo das canções de "Errôr", primeiro no Porto, depois em Lisboa

Vera Marmelo

Os Linda Martini começam esta semana a apresentação ao vivo das canções de "Errôr", primeiro no Porto, depois em Lisboa

Vera Marmelo

A manhã tinha começado atordoada com as notícias de que a guerra tinha estalado durante a noite, com a invasão russa à Ucrânia. E este é um dado que faz a diferença, seja porque a música é o menos importante em alturas como esta, seja porque a música, a arte, é igualmente o mais importante em alturas como esta. Lembremo-nos do mantra tantas vezes partilhado nas redes sociais – e erradamente atribuído a Winston Churchill, foi inventado – a referir que a cultura é a melhor razão que temos para defendermos seja o que for. Lembremo-nos também do papel crucial da arte aquando dos confinamentos por causa da pandemia.

Conversámos com os Linda Martini, a propósito do lançamento do seu novo álbum, Errôr, no estúdio Haus, perto da estação de Santa Apolónia, onde iriam ensaiar a seguir, e, nessa altura, André Henriques, Cláudia Guerreiro e Hélio Morais não quiseram revelar quem viria a substituir Pedro Geraldes, que tinha saído da banda havia sete dias, disco já pronto, e já não iria integrar a digressão de apresentação, que começou esta segunda-feira no Porto, no Plano B, e segue, na quarta-feira, para Lisboa, no Musicbox. Ambos os concertos estão esgotados.

[ouça “Errôr” dos Linda Martini na íntegra através do Spotify:]

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Façamos então fast forward para o final de dia de domingo, no Lounge, em Lisboa, onde os Linda Martini deram um pequeno concerto de apresentação do álbum para alguns amigos e fãs que tinham comprado o disco em avanço e onde se revelou o elemento óbvio que irá preencher o lugar da guitarra deixada por Pedro Geraldes: Rui Carvalho, também conhecido por Filho da Mãe.

“Não houve divergências estéticas, nem musicais. Houve um desencontro, que é no fundo o que acontece com as relações”, explicou em entrevista André Henriques a saída de Pedro Geraldes. “Se às vezes já é difícil manter uma relação a dois – toda a gente já passou por encontros e desencontros desse tipo –, ter uma banda é ter, neste caso, uma relação a quatro. Nós que já fomos cinco”, referindo-se ao guitarrista Sérgio Lemos.

“Eu nem vi/ Que eu sem ti/ Sou só eu/ Sem ti”, começa por ouvir-se, gravado, o coro iniciático de “Eu Nem Vi”, no Lounge. Os Linda Martini vão tocar o álbum na íntegra. Esta é a primeira canção do disco e é, à semelhança de temas como “Mulheres a Dias”, “Dá-me a Tua Melhor Faca” ou “Amor Combate”, um clássico instantâneo, no que tem de mais melódico, de mais pop.

Cláudia Guerreiro, Rui Carvalho, Hélio Morais e André Henriques: os Linda Martini em 2022 (Fotos: Vera Marmelo)

Vera Marmelo

No Lounge estão essencialmente duas gerações a ouvir o disco, uns encostados ao bar, alguns sentados nas mesas: a dos jovens, na casa dos vintes, e a dos membros da banda, nos quarentas. Os dos vintes são quem faz headbanging, tímido, que o espaço não é grande. Os Linda Martini tinham tocado pela primeira vez, há 16 anos, neste mesmo local. Os dois guitarristas, o André e o Rui, e a baixista, a Cláudia, gerem, entre a intensidade e a inexistência de espaço, os movimentos dos seus corpos e o banging que fazem com as guitarras e os braços das guitarras, por entre pés de microfones.

“Eu acho que nós temos mais energia agora do que tínhamos. Ou melhor, não temos mais energia, mas temos mais energia em palco do que noutros tempos”, respondeu naquela manhã Cláudia Guerreiro, perante o desfasamento entre a idade que têm e a energia que o hardcore exige. “Fazermos a música que fazemos, continuarmos a estar no palco como estamos, é uma forma de continuarmos a sentir-nos jovens”, complementou Hélio Morais. André Henriques falou em catarse: “Acho que tem muito a ver com nós próprios, de nos surpreendermos de disco para disco. E procurarmos ir sempre para fora de pé.”

O álbum foi gravado no estúdio Namouche, em Lisboa, e contou, tal como no álbum anterior, Linda Martini (2018), com a produção do catalão Santi Garcia. “Toquei – mal – violoncelo, clarinete, melódica. O Hélio tocou piano”, explicou Cláudia Guerreiro, ela que fez também a capa de Errôr, lançado também em vinil. “Assim que tivemos ideias gravadas, com um som que desse para perceber, mandámos ao Santi. Rapidamente percebemos que tínhamos ali um disco um bocado escuro, pesado. Mais tenso do que os outros”, explicou Cláudia Guerreiro. “Como ele tem um passado parecido com o nosso, é guitarrista, tinha uma banda importante na cena hardcore, não é difícil a comunicação.” Hélio Morais é quem normalmente sugere o alinhamento dos temas para os discos, André Henriques diz que se deve ao facto de ser um bom DJ.

Depois dos temas “Horário de Verão” e “Super Fixe”, André Henriques dirige-se ao público, para introduzir o quarto tema que vão tocar, Rádio Comercial, um dos mais intensos do alinhamento: “Agora já não há Covid, só guerra. Sintam-se à vontade.” Entretanto alguém grita, de junto do bar, “mete If Lucy Fell!”, uma banda de pós-hardcore da qual fazem parte Hélio Morais e Rui Carvalho. A voz de André Henriques está um pouco baixa em relação aos instrumentos, mas essa é a atitude do punk e do hardcore: a mensagem passa-se pela intensidade da música, a insubordinação – ativista, política – sente-se nas vibrações do som que invadem o corpo de quem ouve.

O concerto de pré-apresentação do novo álbum (e que revelou o novo guitarrista) aconteceu no Lounge, em Lisboa

Vera Marmelo

Vamos agora para a sétima canção do disco e André Henriques diz: “A próxima saiu há um ano – sim, há um ano –, antes das eleições presidenciais. Chama-se ‘E Não Sobrou Ninguém’, esteve para chamar-se ‘Olho no Burro’.”

A maioria das letras foi feita já em contexto de pandemia. O disco foi gravado em janeiro do ano passado e apenas lançado agora porque passou a haver condições para tocá-lo ao vivo, as restrições foram liberadas. “Lembro-me de ser tema de conversa nossa, aos almoços ou aos jantares: ‘quando o disco sair, quando a pandemia estiver para trás das costas, será que as pessoas querem ouvir falar sobre isto?’”, contou André Henriques na entrevista. “Deliberadamente, não ouvi o disco durante uns tempos e só agora é que voltei a ele. E é interessante porque há referências literais, sobre as máscaras, sobre os confinamentos, etc., mas existem também muitas outras leituras que podes fazer.”

O guitarrista e vocalista da banda deu como exemplo o tema “Eu Nem Vi”, que pode ser sobre a distância entre as pessoas que deixaram de se ver durante o confinamento mas, noutro contexto, pode ser sobre o fim de uma relação de amor. “Tens obviamente um pano de fundo que é inescapável, mas tens também outros pontos de fuga e podes procurar no disco outras coisas que te interessem a ti.”

O concerto começou percebia-se ainda o dia e, ao décimo tema, “Objecções à Firmeza do Olhar”, é já noite cerrada. Cláudia Guerreiro apanhou entretanto o cabelo, a ventoinha que se encontra ao lado de Hélio Morais foi finalmente ligada. A seguir, Cláudia anuncia a última canção que vão tocar, “Taxonomia”. Rui Carvalho pergunta-lhe pelo copo de uísque, que se encontra no chão e não o vê imediamente, e liberta: “Isto está a ser muito divertido, pá!”

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