O Kremlin ameaçou a Finlândia e a Suécia com “sérias repercussões militares”, no caso de as duas nações aderirem à NATO. Esta ameaça não surtiu efeito, tendo mesmo tido o efeito contrário: os dois países nórdicos estão cada vez mais inclinados para aderir à organização militar. Esta sexta-feira, Joe Biden encontrou-se com o seu homólogo finlandês, Sauli Niinisto, e discutiram a segurança coletiva no continente europeu. Outro dos temas em cima da mesa foi a possibilidade de uma maior aproximação de Helsínquia à NATO.

Os dois países ainda não tomaram qualquer decisão oficial, mas esta hipótese tem ganhado cada vez mais solidez não só junto dos partidos políticos, como também da população. As sondagens assim o mostram. De acordo com um estudo de opinião publicado pelo canal estatal finlandês (YLE) no final de fevereiro, 53% dos inquiridos concordaram com a entrada do país na NATO contra 38% que se opuseram — 19% continuam indecisos. Esta foi a primeira vez desde a criação da NATO que a maioria da população deseja fazer parte da organização militar. 

Finlândia e Suécia na mira de Putin? Rússia ameaça com “sérias repercussões militares” se países aderirem à NATO

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na Suécia, o resultado é idêntico. Numa sondagem publicada esta sexta-feira pela SVT (canal estatal sueco), 49% da população apoia que Estocolmo entre na NATO contra 27% que reprova a adesão à organização militar — 24% abstém-se e não tem opinião. Esta percentagem de apoio é a maior alguma vez registada, num país que tem preferido optar por um posicionamento neutral durante os últimos 200 anos.

A invasão da Ucrânia e as ameaças diretas da Rússia aos dois países foram duas das razões que levaram a esta mudança de opinião. A primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, respondeu diretamente ao Kremlin e recusou, de acordo com a ABC, que as suas ameaças possam representar uma coerção à política externa do país: “Quero deixar isto claro: é a Suécia que decide por si e de forma independente a sua política de segurança”.

A mesma ideia foi transmitida pelo Presidente finlandês, no discurso de Ano Novo. “O espaço de manobra e de liberdade de escolha da Finlândia também inclui a possibilidade de alinhamento militar e a adesão à NATO. Devemos ser nós a decidi-lo”.

Passados três meses, a abordagem também foi defendida pela primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, que sinalizou que a “situação de segurança mudou consideravelmente desde que a Rússia atacou a Ucrânia. É um facto que temos de assumir”, anunciando que o partido a que pertence (Partido Social-Democrata, de centro-esquerda) vai discutir a entrada na NATO.

Na passada sexta-feira, a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russa, Maria Zakharova, disse que a Finlândia e a Suécia “reafirmaram o princípio de que a segurança de alguns Estados não deve construir-se à custa da segurança de outros países”, acrescentando que era “evidente que a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO, que é um bloqueio militar, teria graves consequências militares e políticas que obrigariam a que o nosso país tomasse medidas recíprocas”.

Os dois países nórdicos decidiram não aderir à NATO. A Suécia preferiu adotar, desde há 200 anos, uma abordagem neutral aos conflitos externos, enquanto a Finlândia adotou a doutrina Paasikivi-Kekkonen, isto é, de não apoiar nenhum dos dois blocos durante a Guerra Fria.