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Portugal Fashion. A estreia de Catarina, a identidade de Carolina, a nação de Estelita e a loucura de Xiomara

Este artigo tem mais de 2 anos

No segundo dia do Portugal Fashion, Catarina Pinto mostrou a sua marca, Carolina Sobral manteve-se fiel ao conforto, Estelita Mendonça explorou o conceito de nação e Xiomara foi até à saúde mental.

Katty Xiomara, David Catalán, Estelita Mendonça e Carolina Sobral marcaram o segundo dia do Portugal Fashion
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Katty Xiomara, David Catalán, Estelita Mendonça e Carolina Sobral marcaram o segundo dia do Portugal Fashion

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

Katty Xiomara, David Catalán, Estelita Mendonça e Carolina Sobral marcaram o segundo dia do Portugal Fashion

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

Depois de Marcelo Almiscarado e das irmãs Maria Carlos e Inês Manuel Baptista apresentarem a sua primeira coleção em conjunto, onde o cavalo foi a peça chave, foi a vez de Carolina Sobral mostrar as suas propostas para a próxima estação outono-inverno. A jovem designer, que se deu a conhecer na plataforma Bloom, mantém-se fiel à sua identidade baseada no conforto, na funcionalidade e na longevidade das peças. “Nesta coleção misturei materiais de forma mais inesperada, como a fazenda com pelo num colete e uma saia plissada, mais cerimonial”, explica Carolina ao Observador, a respirar de alívio no fim do desfile.

As malhas continuam a dominar a maioria dos seus coordenados, assim como as silhuetas longas e oversized, marcadas por diferentes volumes e texturas, pensadas para o dia a dia de uma mulher real. Há botões forrados em casacos e sobretudos, brincos vistosos e ombros evidenciados em vestidos com decotes nas costas. Habituada a explorar uma palete de tons crus, que balança entre o branco e o bege, Carolina Sobral arriscou em cores novas, como o preto e os azuis. “Na estação passada usei o laranja, aqui o toque de cor passou por vários tons de azul e um toque dourada numas calças e numa carteira.”

Outro dos carimbos da sua marca homónima é a utilização de materiais sustentáveis e reciclados, como é o caso de algumas malhas. “É uma limitação boa, faço menos peças, mas acabam por ser mais exclusivas. Só trabalho por encomenda, mesmo em loja tenho apenas um modelo de cada peça, que depois acabo por adaptar e personalizar a cada cliente.”

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Na passerelle principal do Portugal Fashion seguiu-se uma estreia com o desfile da Nopin, a marca de Catarina Pinto. Tem 24 anos e cresceu entre os tecidos, as máquinas e os corredores da fábrica de confeção têxtil dos pais, em Gondomar. Em 2006, Paula Novais e Alfredo Pinto criaram a Nopin, uma marca de vestuário para homem e mulher, mas foi a filha que deu continuidade ao sonho antigo da família. “Em 2019 acabei o meu curso de moda na Escola Superior de Artes e Design e decidi pegar na marca, mantive o nome, que é a junção dos apelidos dos meus pais, mas alterei a oferta, direcionei-a apenas para mulher, e toda a imagem”, explica a jovem criadora ao Observador.

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Juntar o lado mais comercial com a moda de autor é a premissa da Nopin, que se inspirou nas obras da pintora surrealista Helene Meyer, repleta de elementos gráficos e padrões arrojados, para desenhar a nova coleção. Há macacões, vestidos e blazers com cinturas marcadas, transparências e acolchoados em materiais sustentáveis. “70% dos tecidos que trabalhamos são portugueses e temos uma preocupação ambiental, por isso optamos por sedas naturais, algodões orgânicos, poliéster feito com restos de tecidos e garrafas de plástico, lyocell, linho e botões em madre pérola ou em coco natural.”

Para já, a Nopin tem lojas físicas no Porto e em Braga, sendo que através do online chega a países como a Eslovénia, Alemanha, Dubai ou Estados Unidos da América. No futuro, Catarina Pinto revela que quer desenvolver linhas de acessórios, como carteiras e calçado, mas também swimwear, já próximo ano espera lançar coleções para homem e criança.

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

Nação, fronteira, território, casa e lugar, João Pedro Estelita Mendonça explorou todos estes conceitos na sua mais recente coleção. “É uma continuação do meu trabalho anterior, em que tratei esta ideia de fronteira, não apenas territorial, mas também pessoal e isso passa pela nossa própria roupa.” O tema pode fazer ainda mais sentido no momento atual, mas o criador assegura que a ideia de tocar nestes significados e, de alguma forma questioná-los, teve como ponto de partida a pandemia. “A coleção já estava pronta quando a guerra na Ucrânia começou, de certa forma parece que estamos a prever o que está a acontecer, espero não fazer nada sobre coisas nucleares na próxima estação.”

Fiel à sua matriz urbana e sporty, Estelita Mendonça usou e abusou de materiais nobres, como a caxemira, a lã ou a fazenda, conjugando-os com nylons e poliésteres, numa tentativa de mostrar silhuetas e texturas diferentes. São visíveis sobreposições, bolsos imponentes, golas trabalhadas, estampados gráficos, chapéus com brilho e uma evolução gradual na cor, que vai do preto aos azuis, passando também pelo laranja.

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

Quase a fechar a noite, Katty Xiomara apresentou “Lokura”, uma coleção sem estação, que teve como ponto de partida o próprio conceito da palavra ‘loucura’. “Não sabemos muito bem o que é loucura, continua a ser um grande mistério e uma incógnita. Até que ponte é que a loucura não é criatividade? Até que ponto o artista não precisa de ser louco para poder criar?” Além da desconstrução do significado literal, Xiomara recordou ainda as doenças mentais evidenciadas durante o período pandémico. “As doenças mentais ainda são muito estigmatizadas, muitas pessoas não acreditam que sejam propriamente doenças, outras acham que é uma escolha e há muitas uma interpretação diferente, mais ou menos pesada, em cada cultura ou país.”

O desfile começou com uma luz negra sobre a passerelle que permitiu ver alguns detalhes das peças, como pespontos e linhas, que com uma luz normal não seriam tão visíveis, já as manequins desfilaram numa espécie de jogos de cadeiras. “Esta luta pelas cadeiras é um jogo infantil, porque muitos de nós quando enlouquecemos também temos tendência a retrocedemos”, explica a criadora.

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

Os materiais variam entre tecidos leves e acolchoados mais pesados, misturam-se em sobreposições, rendas, atilhos, franzidos e padrões mais ou menos confusos. As saias e mangas em balão, as golas trabalhadas, os bolsos evidentes em quimonos e as franjas que dão movimento a vestidos compridos predominam em coordenados pincelados a branco, lilás, roxo e castanho. “O branco é um elemento comum a quase toda a coleção e transmite essa ideia de loucura e uma mente difícil de decifrar, já o castanho convida-nos a colocar os pés na terra.”

A noite do segundo dia do Portugal Fashion terminou com David Catalán, que depois de participar na semana de moda masculina de Milão, regressou ao Porto com uma coleção inspirada nos uniformes escolares britânicos dos anos 60 e 70 e na versatilidade e conforto do dress code inglês. Para a próxima outono-inverno, o designer espanhol apostou na desconstrução do belo, criando peças de vestuário mais utilitárias, onde o denim surge de forma mais rude.

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

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