A Rússia assegurou este sábado ter usado um míssil hipersónico Kinzhal na Ucrânia pela primeira vez. A revelação foi feita por um porta-voz do ministério da Defesa, que diz que Moscovo destruiu um armazém subterrâneo que, alega, guardava mísseis e “munições de aviação” que seriam usadas pelas tropas ucranianas. O que são, afinal, os mísseis hipersónicos e quem está a desenvolvê-los?
A velocidade hipersónica é definida como uma velocidade acima de Mach 5 — ou seja, mais de cinco vezes a velocidade do som. Só que nem todos os equipamentos que viajam a uma velocidade hipersónica são considerados mísseis hipersónicos, explica o The Wall Street Journal.
Para ser considerado um míssil hipersónico, é preciso que o armamento tenha duas caraterísticas essenciais, de acordo com um artigo do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia: além da velocidade superior a Mach 5, deve ser capaz de fazer manobras (verticais e horizontais) antes de atingir o alvo — ou seja, não tem uma trajetória fixa.
Estes mísseis suportam um elevado fluxo de calor quando voam através das camadas densas da atmosfera terrestre, o que torna a sua construção particularmente difícil (e cara). Em janeiro, os mísseis foram notícia quando a Coreia do Norte disse estar a testá-los. Apesar das dúvidas de que a afirmação fosse, de facto, verdadeira, dados analisados pelas autoridades japonesas mostraram que o míssil alterou bruscamente a trajetória antes de amarar, o que sugere que se tratava, efetivamente, de um míssil balístico hipersónico.
De acordo com o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo, há dois tipos de armas hipersónicas: os mísseis de cruzeiros hipersónicos e veículos planadores hipersónicos (estes últimos não têm motor). Os primeiros têm uma velocidade hipersónica constante e são alimentados durante todo o percurso (daí que não sejam planadores).
Já os segundos são, normalmente, lançados a partir de mísseis balísticos, deslizando depois até ao alvo a velocidades hipersónicas, com a possibilidade de mudarem sozinhos a trajetória ao longo do voo. Estes mísseis precisam, assim, de complexos sensores e capacidades computacionais sofisticadas que lhes deem um certo grau de autonomia durante o percurso. Como se movem através de camadas mais espessas da atmosfera a uma velocidade muito elevada, criando uma significativa carga de calor, a estrutura do veículo sofre uma enorme pressão, o que, a par dos resistentes sistemas de propulsão, complica a sua construção.
Além disso, escreve o Instituto, “a nuvem de plasma gerada pelo veículo planador hipersónico que se move a velocidade hipersónica torna muito difícil para qualquer tipo de sensor detetar” o míssil. Ou seja, a velocidade, a possibilidade de serem manobrados e a altitude tornam os mísseis hipersónicos difíceis de seguir e intercetar. O The Wall Street Journal acrescenta que os mísseis começam geralmente a descer a altitudes mais baixas do que outros mísseis balísticos, o que lhes pode permitir voar abaixo da área de cobertura dos sistemas de deteção de radar terrestres ou marítimos.
Segundo a Al Jazeera, Vladimir Putin disse, em dezembro, que a Rússia era líder global em mísseis hipersónicos. Em 2018, Moscovo anunciou ter feito “avanços significativos” no desenvolvimento de novas armas — onde se incluíam, precisamente, os mísseis hipersónicos. Este armamento já tinha sido transportado para a Síria, em 2016, para a realização de exercícios militares na região. Putin já terá chamado ao míssil Kinzhal uma “arma ideal”.
Há também notícias de que a China esteja a desenvolver estes mísseis, e o Reino Unido e a Índia também estão a investigá-los. E onde ficam os EUA no meio disto tudo? Segundo o The Wall Street Journal, os EUA têm em curso vários programas focados no desenvolvimento de veículos planadores hipersónicos, mas dois testes falharam em 2021.
Ainda assim, o desenvolvimento destes mísseis é visto como uma prioridade para o país pela defesa. Os EUA também firmaram contratos com três empreiteiros, em novembro de 2021, para o desenvolvimento de mísseis que intercetem os mísseis hipersónicos. Mas as autoridades norte-americanas já disseram que, provavelmente, só em meados desta década é que será possível chegar a tal armamento.