O plano da tarde em que seria oficialmente conhecida a composição do novo Governo era bem diferente e previa que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa se encontrassem em vários momentos: primeiro, no Pátio da Galé, em Lisboa, para abrirem lado a lado as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril; depois, Costa passaria pelo Parlamento para se reunir com os deputados do PS e acabaria o dia em Belém, de novo com Marcelo, para lhe dar a conhecer os nomes que vão compor o novo Executivo.

Acontece que os jornais se adiantaram e o plano saiu furado. Com várias versões do elenco governativo que Costa escolheu a circularem pela imprensa, Marcelo não hesitou em mostrar o seu desagrado por não ter conhecido a lista primeiro. Ainda o Presidente andava em Belém, antes de se deslocar até ao Terreiro do Paço para o primeiro evento, quando foi questionado pela SIC sobre a lista dos próximos nomes. E não escondeu o incómodo.

“Pelos vistos, fiquei a saber pela comunicação social”, resumiu. Mais: se “aquilo que corre [na comunicação social]” estivesse confirmado, a audiência tardia com Costa seria de “dispensar”.

“Disseram-me que já saiu uma lista na comunicação social, não vi a que saiu na televisão. No caso de ser correta até facilita a minha vida porque mais rapidamente estou à vontade, a sessão [das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril] vai ser longa e depois temos um concerto… se for correta, a lista está feita, está feita”, realçou, frisando que é o primeiro-ministro que “escolhe a orgânica mais adequada”. Assunto arrumado: Marcelo entrou no carro e dirigiu-se ao Terreiro do Paço.

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Foi ali que recusou falar mais aos jornalistas sobre o assunto — só falaria, explicou, do 25 de Abril — e que Costa adiantou mais uma novidade: a lista já teria sido, entretanto, entregue ao chefe de Estado, estando esse passo tratado; caberia a Marcelo dizer se mesmo assim haveria reunião.

Pelas 19h, estava em curso o último ato: fonte de Belém avisava os jornalistas de que não haveria mesmo audiência entre o Presidente da República, irritado com a forma como o processo decorreu, e o primeiro-ministro. Momentos depois, seguiria a lista oficial dos ministros que entrarão no novo Governo — publicada pelo site oficial da Presidência da República, sem mais.

António Costa ainda teria oportunidade de comentar a irritação de Marcelo — que assegurou partilhar. À entrada da reunião com os deputados do PS, no Parlamento, o primeiro-ministro foi questionado sobre a irritação do Presidente e disse estar de acordo: “Se houve uma fuga é lamentável” e os jornalistas, ironizou, estarão “de parabéns” por isso.

De resto, não há preocupações quanto à relação com Marcelo daqui para a frente, assegurou: “Sabe que a fuga não veio de mim, do meu gabinete ou de ninguém que dependa de mim”. O que depende, garantiu Costa, é olhar em frente. Por isso frisou que Marcelo aceitou “um Governo de combate, conciso, com forte núcleo político” mas também com pessoas com experiências relevantes “na academia” e noutras áreas — e essa seria a boa notícia do dia em que a relação entre os dois pareceu azedar.