Na mesma semana em que se registaram temperaturas anormalmente altas no leste da Antártida, uma plataforma de gelo cuja área se assemelha à cidade de Roma colapsou.
A plataforma de gelo tinha vindo a reduzir de tamanho desde meados da década de 2000, mas esta diminuição tinha-se dado de forma gradual até ao início de 2020, explicou o The Guardian. Já no dia 4 de março, contudo, a plataforma aparentava ter apenas metade da sua área normal, quando comparada com o seu estado em janeiro deste ano.
Na semana passada, a estação meteorológica de Concordia registou um novo máximo na temperatura — 11,8 graus Celcius negativos — tendo este aumento sido registado, em parte, pelo rio atmosférico que acumulou temperaturas superiores ao normal no continente de gelo.
As plataformas de gelo são camadas flutuantes que cobrem o oceano desempenham um papel importante para impedir que o gelo presente no manto terrestre da Antártida derreta em excesso para o oceano.
“A Antártida como um todo tem estado fechada numa caixa de gelo”, esclareceu à CNN o glaciólogo da Universidade do Colorado, Ted Scambos. “Tem estado habituada a estar rodeada por esta camada de gelo do oceano, tem estado habituada a temperaturas mais que geladas.”
The final ~4.5 years of the now-collapsed Conger Ice Shelf, East Antarctica as seen by #Sentinel1. ????????@sentinel_hub @CopernicusEU @helenafricker @CapComCatWalk pic.twitter.com/q1OUCPgxQl
— Dr. Peter Neff (@icy_pete) March 25, 2022
“É um dos colapsos de plataformas mais importantes na Antártida desde o colapso da plataforma Larsen B no início dos anos 2000”, explicou ao jornal britânico Catherine Colello Walker, cientista na NASA e na Instituição Oceanográfica Woods Hole. “Provavelmente não terá grandes repercussões, mas é um sinal do que poderá estar por vir.”
Andrew Mackintosh, diretor do departamento da Terra, Atmosfera e Ambiente da Universidade Monash, acredita que o colapso da plataforma Conger pode ter sido influenciado pela quantidade de gelo da plataforma que estaria a derreter na parte de baixo do bloco, pelo contacto com o oceano.
Plataformas de gelo perdem massa como parte do seu comportamento natural, mas o colapso em larga escala de uma plataforma é um evento bastante incomum”, considerou ainda assim o diretor do departamento.
Dados por satélite demonstraram que o início do evento que culminou no colapso da plataforma de gelo ter-se-á dado entre 5 e 7 de março, contou Peter Neff, glaciólogo e professor assistente na Universidade do Minnesota.
A maior preocupação da comunidade científica, contudo, é o glaciar Thwaites, apelidado de “glaciar do juízo final”, uma vez que, cerca de 100 vezes maior que o antigo Larsen B, caso derreta, poderá fazer subir o nível das água do mar em mais de meio metro.