O peixe, sobretudo o grelhado, vai bem com um pouco de molho de manteiga, uma pitada de sumo de limão ou até mesmo umas ervas aromáticas para abrilhantar o sabor. Mas há algo que todos os peixes criados no mar têm no seu interior que não entra de modo algum nos temperos dos chefs: os microplásticos. Apesar disso, segundo a revista Nature, 60% a 80% dos detritos na costa são constituídos por microplásticos, juntos com areia, pedaços de conchas e restos orgânicos que os peixes tendem a engolir.
Uma fonte importante dos microplásticos que acabam nos oceanos é a borracha dos pneus, que se degrada com o rolamento, deteriorando-se numa poeira invisível ao olho humano que se acumula nas estradas e bermas. Com a chuva, acaba por ir parar ao esgoto e, de seguida, ao mar. Aos plásticos resultantes da degradação dos pneus, há que juntar igualmente o desgaste do alcatrão que, embora menos impactante, não deixa de contaminar pelas partículas que emana para a atmosfera e que, mais cedo ou mais tarde, vão parar ao oceano.
Só na Alemanha, a circulação rodoviária gera anualmente 110.000 toneladas de partículas, todas elas capazes de provocar danos na saúde de animais e dos humanos que os ingerem. Como cada quilómetro percorrido por um automóvel moderno produz partículas, originadas pelos pneus e pelo revestimento das estradas, a Audi decidiu avançar com uma proposta capaz de atenuar o problema.
Em colaboração com a universidade de Berlim, a marca dos quatro anéis está a desenvolver um sistema de filtragem para resolver este problema. Os sistemas já testados visam operar ao nível da rua, mais precisamente nos esgotos, capturando os microplásticos antes destes se encaminharem para o mar e danificarem o ecossistema.
O sistema da Audi já está a ser testado nas ruas mais movimentadas de Berlim, não apenas recolhendo microplásticos, mas também invólucros de rebuçados, chocolates, sanduíches e maços de tabaco, bem como beatas. A funcionar há cerca de um mês, os filtros foram montados em nove locais, divididos por três zonas específicas da cidade, de forma a determinar onde são mais eficientes.
Os filtros concebidos pela Audi e pela universidade de Berlim, denominados UrbanFilters, já provaram a sua mais-valia em condições de pouca chuva, capturando partículas de borracha entre 20 e 1000 mícrons. O passo seguinte é expor os filtros a chuvadas mais fortes e optimizar o seu desempenho nestas condições.
Os UrbanFilters têm ainda a vantagem de funcionar 12 meses de forma ininterrupta, sem necessitar de assistência ou manutenção.