Luís Marques Mendes considera que o reforço de poderes de Mariana Vieira da Silva, que passa agora a ser a número dois de António Costa e a acumular o Planeamento e a Administração Pública, pastas nucleares do Governo, é prova provada de que António Costa gostava de a ver um dia no cargo de secretária-geral socialista. “Assim se vê quem o primeiro-ministro gostava que lhe sucedesse. A questão é que não é o primeiro-ministro quem escolhe o seu sucessor como líder do PS”, afirmou o antigo líder social-democrata.

No seu habitual espaço de comentário na SIC, Marques Mendes apontou três grandes riscos que António Costa enfrenta depois de ter fechado o novo elenco governativo. “A ministra da Agricultura é uma inexistência. Mantê-la é um erro. Fica a ideia de que o primeiro-ministro não arranjou ninguém para a substituir”, começou por dizer o social-democrata.

“Catarina Sarmento e Castro é uma académica sem perfil para a Justiça. Precisava-se de uma ministra mais executiva, tipo Alexandra Leitão”, continuou o comentador, antes de deixar uma avaliação sobre António Costa e Silva. “Um excelente conselheiro. Culto, preparado, conhecedor, cheio de mundo. Receio é que seja mais um filósofo da economia que um ministro prático e eficaz. Acrescem duas contradições: é especialista em energia, mas não tutela a energia; é o ‘pai’ do PRR mas não vai tratar do PRR”, apontou.

Mendes deixou ainda críticas a João Gomes Cravinho, que transitou da Defesa para os Negócios Estrangeiros depois de, alegadamente, Marcelo Rebelo de Sousa ter impedido a sua continuidade no cargo. Para o comentador, Cravinho está irremediavelmente  fragilizado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Um meio ministro. Um ministro politicamente diminuído. [António Costa] tira-lhe metade do Ministério e logo a parte mais importante (Assuntos Europeus). Aceitou o que Santos Silva nunca aceitaria (ser meio ministro). Nunca mais será levado a sério. Nem pelo Presidente da República, nem pelo primeiro-ministro, nem pelo próprio Ministério”, disse Mendes.

O comentador acredita ainda que António Costa desenhou um Governo a pensar na sua saída para presidente do Conselho Europeu, em 2024. Sinal disso mesmo é a escolha de Tiago Antunes como secretário de Estado dos Assuntos Europeus, pasta que passa a estar sob a dependência direta do primeiro-ministro.

“O primeiro-ministro tem grandes hipóteses de ascender a Presidente do Conselho Europeu, cargo para o qual já foi convidado em 2019. Mas teria de deixar de ser primeiro-ministro. Só que a saída do primeiro-ministro pode dar origem a eleições antecipadas. O primeiro-minsitro tem a legítima ambição de exercer um cargo europeu e tudo ajuda, menos o calendário político.”

“De resto”, continuou Marques Mendes, “esta é uma das explicações para o primeiro-ministro ter dividido o Ministério dos Negócios Estrangeiros em dois e ter colocado o secretário de Estado dos Assuntos Europeus [Tiago Antunes] na sua dependência. Assim, controla melhor todos os contactos e negociações com vista à sua eventual ida para a Europa”, antecipou Marques Mendes.