No mesmo mês em que as raparigas afegãs foram proibidas de frequentarem a escola depois do sexto ano, o governo talibã implementou uma série de novas leis discriminatórias que parecem aproximar cada vez mais o Afeganistão do estado ‘medieval’ que imperou durante a década de 1990.
Na segunda-feira, os funcionários do governo que não estavam a usar turbante ou barba foram enviados para casa por membros do ministério talibã da Promoção de Vícios e Virtudes, segundo confirmou o porta-voz do ministério, Afik Muhajer à CBS News. Isto depois de ter sido enviada uma carta, um mês antes, a alertar os funcionários para o uso de barba no caso dos homens e de véu ou hijab, no caso das mulheres.
Os homens da Promoção de Vícios e Virtudes pararam-nos durante algumas horas e avisaram-nos de que devíamos regressar com uma barba longa da próxima vez, ou arriscávamos perder o nosso emprego”, afirmou ao mesmo canal de notícias Muhammad Sheer, um funcionário do governo em Cabul.
Também neste domingo o regime talibã anunciou que os parques públicos estariam abertos três dias por semana exclusivamente para mulheres, e os restantes quatro dias seriam apenas para os homens, segregando assim os dois géneros de frequentar o parque ao mesmo tempo.
As mulheres, contudo são quem tem sofrido mais com as novas regras adotadas pelo regime talibã. Segundo contaram à CBS News funcionários de uma agência de viagens e de uma companhia de aviação, foi esta semana transmitido às empresas do setor que mulheres sem um acompanhante masculino membro da família não poderiam viajar. Akif Muhajer, contudo, negou que tal medida tivesse sido aplicada.
Uma mulher que tinha agendado uma viagem num voo doméstico foi impedida de embarcar e perdeu o seu voo. Ela veio pedir um reembolso, e estava a chorar e a dizer que não tinha nenhum membro masculino na família”, explicou ao canal norte-americano o funcionário da agência de viagens.
No início desta semana, foram proibidos no país alguns programas do canal britânico BBC assim como do canal alemão Deutsche Welle. “O aumento de restrições à liberdade de imprensa e liberdade de expressão no Afeganistão são preocupantes“, afirmou o diretor da DW Peter Limbourg.
O facto de os talibãs agora criminalizarem a distribuição de programas da DW por parceiros nossos dos media está a impedir progressos positivos no Afeganistão. A imprensa independente é essencial para isto e vamos fazer tudo ao nosso alcance para continuar a providenciar ao povo afegão informação independente através da internet e das redes sociais”, concluiu Peter Limbourg.
Nem todos os elementos dos talibã, contudo, concordam com a adoção deste tipo de medidas. Uma fação mais velha apoia este tipo de leis baseadas de forma rígida na Sharia — a lei islâmica –, explicou à ABC News Torek Farhadi, um conselheiro de antigos governos talibã. Um grupo composto por membros mais novos do regime, no entanto, defende que as medidas adotadas devem ter em conta alguns princípios básicos universais, como o acesso à educação.
Os mais novos de entre os talibãs estão a resistir a estas leis, ou, pelo menos, a ignorá-las silenciosamente”, afirmou Farhadi. “O movimento talibã precisa de reformas. Está a ser feito de forma lenta e é frustrante para toda a gente envolvida, mas não devemos desistir”, concluiu.