O Papa Francisco pediu esta sexta-feira perdão aos povos indígenas do Canadá pelos abusos “deploráveis” sofridos em internatos geridos pela Igreja Católica no país, mostrando-se envergonhado e indignado com tudo o que viveram, e prometeu visitar o país em breve, talvez no final de julho, avança a AFP.
#BREAKING Pope says 'hopes' to visit Canada end of July pic.twitter.com/V19ipYhzzy
— AFP News Agency (@AFP) April 1, 2022
“Peço perdão a Deus” e “junto-me aos meus irmãos bispos canadianos para vos pedir desculpa a vós”, afirmou o Papa, numa audiência, no Vaticano, com representantes dos Métis, dos Inuit e das Primeiras Nações.
O Papa Bento XVI já tinha pedido desculpa pelo ocorrido nas residências escolares estabelecidas pelo Canadá no final do século XIX dedicadas à população indígena e que funcionaram até 1997.
No entanto, a descoberta, nos últimos meses, de centenas de sepulturas de crianças anónimas junto aos edifícios desses internatos geridos pelas igrejas Católica e Anglicana reavivou a tragédia dos povos originários do Canadá e o seu pedido de justiça.
Papa Francisco reúne-se com indígenas canadianos no âmbito dos abusos em internatos católicos
Entre o final do século XIX e os anos 1980, cerca de 150.000 crianças indígenas foram levadas à força para mais de 130 internatos em todo o país, onde foram isoladas das respetivas famílias, da sua língua e da sua cultura.
Milhares delas nunca regressaram a casa — as autoridades estimam esse número entre 4.000 e 6.000. Em 2015, uma comissão de inquérito nacional classificou tal sistema como um “genocídio cultural”.
Na segunda-feira, o Papa Francisco ouviu o testemunho de duas delegações indígenas do Canadá, num encontro apresentado como “histórico”, para recordar o drama dos internatos geridos pela Igreja naquele país.
“O Papa escutou-nos. Ele ouviu três histórias das muitas que temos para contar” e “acenou com a cabeça enquanto os nossos sobreviventes contavam as suas histórias”, declarou à imprensa, na segunda-feira, Cassidy Caron, presidente do Conselho Nacional dos Métis, no final do encontro.
“Senti uma certa tristeza nas suas reações (…) As únicas palavras que proferiu em inglês foram: “verdade, justiça, reparação”. Encaro-as como um compromisso pessoal”, acrescentou a representante dos Métis.
“Esperamos que a resposta do Papa, na sexta-feira, na audiência geral, mostre que ele reconhece o que partilhámos hoje” e que “isso leve a um pedido de desculpas quando ele for ao Canadá”, sublinhou então.