Se o CDS não conseguir pôr o “ressentimento” entre as suas fações de lado, este pode mesmo ser o último congresso do partido. A garantia é do antigo dirigente e deputado Hélder Amaral, que está sem surpresas ao lado de Nuno Melo, como explica em entrevista à rádio Observador, a partir do 29º congresso do CDS, em Guimarães. E avisa: aparecer, nesta altura do campeonato, mais um adversário contra Melo – que não tenha anunciado uma candidatura até agora – não seria uma surpresa, antes uma prova de “cobardia”.
[Pode ouvir aqui a entrevista de Hélder Amaral à Rádio Observador no 29º Congresso do CDS]
Congresso CDS. Hélder Amaral acredita que “candidato surpresa seria uma cobardia”
A referência é aos rumores que registam o regresso do antigo líder Manuel Monteiro ao partido – deve falar ao congresso esta tarde – e que lhe atribuem uma vontade de voltar a tentar a liderança, ou até de colocar, como dizem alguns portistas, um “cavalo de Tróia” na corrida para que a sua linha fique representada. Também existe uma parte do aparelho fiel a Rodrigues dos Santos — que conta com votos necessários para dificultar a vida a Melo, mas que até ver não tem um rosto disponível para encabeçar uma candidatura surpresa.
Ora esta hipótese é vista pelo antigo dirigente, cético quanto às hipóteses de reconciliação com monteiristas, com maus olhos. Mas as críticas duras que dirige também atingem com estrondo a direção de Rodrigues dos Santos: a direção, analisa agora, seguiu “um caminho totalmente errado”, que não sabia “de onde vinha nem para onde ia”, que chegou ao poder com base numa “rutura” e no “ressentimento” das bases (“Não se traz nada de bom com base em ressentimento”).
Mais: não só a direção não era forte, não tinha carisma (“prefiro um leão a gerir um exército de ovelhas que uma ovelha a gerir um exército de leões”) e “não conhecia o país e o partido”, como não tinha a experiência necessária: “Muitos dirigentes geriram até ao congresso apenas a mesada dos pais”, ironiza. “O CDS não é um partido novo, não surgiu agora, não se pode ler documentos e sair da faculdade e tentar gerir”.
Agora, na ótica de Hélder Amaral, cabe a Nuno Melo ser uma figura “agregadora” que consiga unir o partido, após a experiência dos últimos dois anos. Se não, as consequências podem ser irreversíveis.