Já alguma vez se questionou sobre o que faz uma marca de roupa de banho no inverno? “Vende biquínis!”. O mundo não está ao contrário, a resposta é das fundadoras da Latitid, Inês e Marta. Aliás, à conversa com o Observador contaram também que, durante a pandemia, a marca cresceu e que a única coisa que tem descanso é mesmo a licra, o material que dá forma às criações. Há 10 anos as duas irmãs acharam inacreditável que um país com tanta linha de costa tivesse tão pouca oferta de roupa de praia, por isso lançaram a sua própria marca.
Marta Fonseca é a mente criativa da Latitid. Estudou moda na ESAD (no Porto) e fez um mestrado em produção de moda e styling em Barcelona. Em 2008 participou no concurso Triumph Inspiration Award e ganhou a edição portuguesa, tendo ido representar o país na final internacional na China. “Comecei a ganhar o gosto por criar as minhas próprias peças.” Continuou a participar em concursos e diz que ‘o nervoso miudinho’ que acompanha essa experiência s se compara ao que sente atualmente, antes de lançar uma coleção. Como não encontrava roupa de banho que lhe agradasse, começou a desenhar fatos de banho ainda pela cidade catalã e foi lá que comprou as primeiras licras. Conta que várias pessoas lhe pediam as peças que desenhava para ela e, já de regresso a Portugal, com a ajuda da irmã, Inês Fonseca, que trabalhava em gestão, começou então a desenhar-se uma oportunidade de negócio. A elas juntou-se a tia, Fernanda Santos, que era agente têxtil e em 2013 lançaram a Latitid.
O nome também tem a sua própria história, resulta da fusão entre as palavras “atitude” e “latitude”, a primeira porque se inspiram numa cidade diferente em cada coleção. A única exceção foi em 2021, o ano da pandemia, em que a coleção se chamou ‘You’ e foi inspirada nas mulheres em geral. A palavra “Atitude” é porque faz parte da identidade que querem dar à marca. Design, qualidade e conforto são os três pilares da Latitid. Não fossem as licras italianas e espanholas e seria uma marca 100% portuguesa. Está dividida entre Lisboa, onde reside a criatividade e a gestão, e o Porto, onde se encontra toda a produção — que, atualmente, conta com quatro fábricas de biquínis e fato de banho, uma outra para peças de praia e ainda mais duas para acessórios.
Todos os anos o volume de produção aumenta e a marca cresce. Inês explica que a loja online tem um peso significativo, mais precisamente de 50% das vendas. Ou seja, tanto como as três lojas físicas juntas (em Lisboa: na Embaixada na Praça do Príncipe Real, nº 26; no Porto: Rua Senhora da Luz, 81; na Comporta: Casa da Cultura na Rua do Secador, 6).Em 2020, reduziram a produção em 20%, mesmo assim no final desse ano perceberam que a marca tinha crescido. À pergunta o que mudou com a pandemia, a resposta vai mais longe: “Mudou tudo! Mudou a marca, mudou o consumidor…”.
Atualmente o Instagram é um veículo muito forte porque atrai as clientes para o site e Inês confessa mesmo que não vivem sem as redes sociais. Explica que hoje, as pessoas não vão comprar uma peça porque uma amiga falou dela, mas sim porque viram a amiga com a peça no Instagram. Além disso, também as celebridades são fundamentais, destacando a parceria no ano passado com Cláudia Vieira, uma grande amiga da marca que algumas chegam a pensar ser também uma das fundadoras. A cliente Latitid é uma mulher, geralmente, urbana, que gosta de praia e de viajar, explica Inês. Têm muitas clientes adolescentes, mas “a grande fatia de consumidoras tem entre os 25 e os 55 anos. Primeiro esta é a faixa etária que mais consome e depois é a que mais se identifica com os modelos. Depois temos as clientes que têm 20’s e de 55 para cima.”
Em 2014 surgiu a marca Latitid Mini, com modelos para crianças e a pedido de muitas clientes. Oferecem a possibilidade de comprar peças iguais para mãe e filha e a fórmula revelou-se um sucesso. Também tem havido pedidos para uma coleção masculina, mas isso está fora de questão, “seria desvirtuar a marca”, afirmam as fundadoras. A Latitid é para mulheres. E é uma marca de moda que segue tendências, mas não se limita a elas, explica Marta, acrescentando ainda que a continuidade e a herança são também questões muito importantes. Ao longo de uma década, estas características ajudam a marca a ganhar forma e revelam-se fundamentais para fidelizar as clientes.
Mas falemos daquilo que realmente cativa as fãs Latitid: as suas peças de roupa de banho. Como é, afinal, o percurso de um biquíni desde uma simples ideia até à mão da cliente? Tudo começa com uma pesquisa para perceber qual será o caminho da coleção. Depois parte para os desenhos no papel, seguem-se os desenhos técnicos já no computador e a ficha técnica onde são descritos todos os procedimentos para montar a peça. O próximo passo é ir às fábricas apresentar a coleção onde é feito um primeiro protótipo com uma licra que já sabem à partida que vai entrar na coleção. Esta peça de teste vai sendo aperfeiçoada até corresponder à ideia da designer. Depois, cada peça “vai para coleção”, o que significa fazer uma peça de amostra em cada licra final e em cada cor também. De seguida faz-se a escala de tamanhos. E só depois de tudo isto é que a coleção começa a ser produzida: as licras são cortadas e os seus pedaços cosidos até se tornarem os biquínis e fatos de banho que veremos na loja. Pelo meio há controladores de qualidade e até períodos de descanso, porque a licra é material com algum temperamento e precisa de relaxar para estabilizar.
A Latitid faz uma coleção muito grande por ano, que é lançada em dois momentos diferentes. O primeiro na primavera, quando as pessoas começam a pensar em ir para a praia e depois no começo do verão. O verão, para quem está nos bastidores, da marca, acaba no final de julho. Agosto já é um mês com pouca expressão a nível de vendas, explicam as fundadoras. E para quem se questiona o que é que uma marca de roupa de praia faz no inverno a resposta é fácil: “Vende biquínis!”. Na verdade, vendem todo o ano, porque quando as pessoas viajam fora da época de verão e precisam de roupa de praia, as marcas especializadas são a solução.
O mês de novembro é forte por causa da Black Friday. Já em dezembro são os presentes de Natal que potenciam as vendas. Janeiro é, normalmente, um mês mau para todo o comércio, mas logo de seguida vem fevereiro, altura em que as pessoas começam a procurar a coleção nova e a pensar em viajar. “Nós também aproveitamos o inverno para nos aliarmos a causas sociais.” A primeira parceria foi com a Liga Portuguesa Contra a Fome, durante a pandemia e houve uma recolha de alimentos nas lojas. A segunda foi com iMM – Laço Hub, um projeto que resulta de uma união entre o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e a extinta Associação Laço, projeto ao qual foi doado parte do valor de venda de um chapéu especial. Querem fazer destas parcerias um hábito e associar-se a uma causa diferente todos os anos.
Inês diz que 2022 vai ser um ano muito exigente, porque no anterior houve um grande estímulo. “No ano passado atingimos uma faturação de quase um milhão e meio de euros. Para nós foi uma surpresa. Todos os anos temos vindo a crescer, mas passámos essa barreira e foi muito especial.” Com a nova coleção deste ano bateram um recorde de produção e ultrapassaram as 20.300 peças, por isso acrescenta que era importante para a marca celebrar uma década.
A melhor forma de comemorar talvez seja com peças novas e, por isso, a festa começa com o lançamento da coleção The Iconics, uma seleção de 10 modelos icónicos de biquínis e fatos de banho, um por cada ano da marca. Cada modelo tem três a quatro variações de cores ou padrões. Para as clientes da marca há uma novidade que era há muito esperada: alguns modelos vão oferecer a possibilidade de conjugar diferentes tamanhos de partes de cima e partes de baixo. As celebrações não ficam por aqui. Há ainda um livro, que se chama “3650 Days of Sun” (49 euros), e é como um álbum visual das coleções e inspirações destes 10 anos de Latitid. Estes Icónicos já estão à venda com preços que variam entre os 98,50 e os 130 euros, mas é apenas a primeira parte da coleção de 2022, ou seja, virão aí mais novidades no final de abril.
Quanto aos próximos 10 anos, Inês Fonseca confessa uma das lições que aprendeu nos últimos tempos, “eu gosto de planear, mas agora temos de ter o plano A, B, C e D.” Conta que a ideia é continuar o que estão a fazer em Portugal, contudo querem apostar na internacionalização da marca, através do site e das feiras. Quiseram primeiro solidificar a marca a nível nacional e só depois partir para fora de fronteiras, mas a curto prazo, as mudanças acontecem na loja de Lisboa, o que inclui mais provadores e um ponto de pick-up online, para que as clientes que compram pela Internet não tenham de estar na fila. Afinal, há muito sol para apanhar nas praias portuguesas.