“Não é só uma coisinha engraçada, é um negócio sustentável” e que tem potencial para ser uma “revolução” na expansão do autoconsumo e da produção elétrica descentralizada. Foi nestes termos que o presidente executivo da Greenvolt, João Manso Neto, se referiu à nova empresa detida pelo grupo de energias renováveis. A Energia Unida, apresentada esta terça-feira, está direcionada para as comunidades de energia. Portugal foi um dos primeiros países a transpor para a legislação este conceito que permite dar escala à produção renovável para autoconsumo, através da adesão de vários consumidores que vão usar a energia partilhada por um ou mais produtores.
O modelo pressupõe que exista um produtor âncora da comunidade com espaço para instalar painéis solares, seja num terreno, seja num telhado. E que essa produção seja suficiente para abastecer mais clientes, o que implica estar rodeado de uma comunidade de residentes que possam vir a consumir a energia produzida em excesso. Desta forma consegue-se potenciar a escala dos projetos tradicionais de autoconsumo que ficam limitados às necessidades do produtor. Quanto maior for o espaço disponível para a instalação de painéis solares e menor o consumo do produtor, maior o potencial de adesão de clientes apenas consumidores.
A Energia Unida será a responsável pela gestão desta comunidade, disponibilizando o financiamento para o investimento inicial do produtor em painéis solares e estabelecendo a ligação aos outros membros da comunidade que podem ser só consumidores, mas também produtores. Estas comunidades podem funcionar até 2 km de distância quando está em causa um produtor ligado a baixa tensão, uma área que pode ser alargada para um raio de 4 km quanto está em causa a média tensão.
Áreas comerciais, escritórios, áreas comerciais, pavilhões desportivos, escolas e serviços públicos são exemplos de edifícios que podem ser utilizados para a instalação de painéis solares, desde que estejam rodeados de núcleos residenciais ou de outros consumidores.
José Almeida, CEO da Energia Unida, considera que esta oferta tem um grande potencial num contexto de grande instabilidade nos preços (que afeta mais os clientes empresariais) e até de incerteza no abastecimento, acentuado com o conflito na Ucrânia. Além de que permite o acesso “a uma energia limpa e mais barata” para todos os que estiverem ao alcance de um produtor inserido num comunidade.
Para um consumidor residencial, a adesão às comunidades pode ser feita a título individual. Por exemplo se residir num condomínio não tem de ser aprovado por todos a não ser que esteja em causa uma entrada como produtor a partir do espaço comum, seja telhado, seja terreno. O consumidor mantém o seu contrato com um comercializador de eletricidade e passa a receber duas faturas. A segunda irá incluir as poupanças obtidas por pertencer à comunidade de energia e ter acesso à eletricidade muito mais barata do que a disponível no mercado grossista. O cliente continua exposto aos preços de mercado, mas consegue proteger uma parte do seu consumo deste risco. De acordo com a informação veiculada em comunicado, a poupança na fatura total será de pelo menos 20%. A gestão será feita pela Energia Unida que disponibiliza soluções chave na mão.
A prazo, o objetivo é apostar no armazenamento da produção solar através de baterias — ainda muito caras — e associar a mobilidade elétrica.
A primeira comunidade gerida pela Energia Unida localiza-se em Lisboa associada aos escritórios da Greenvolt perto do Estádio da Luz tendo como produtor o telhado do edifício sede da Cofina (cujos principais acionistas são também investidores da Greenvolt). Mas a empresa tem mais comunidades em desenvolvimento, tendo já uma capacidade instalada de 3,1 MW. O lançamento desta área de negócios representará um investimento inicial de sete milhões de euros, mas João Manso Neto confia que a nova empresa terá um impacto positivo para os resultados da Greenvolt já a partir do próximo ano.