Quando a sorte, o destino e a fortuna quiseram que o Bayern Munique calhasse com o Villarreal nos quartos de final da Liga dos Campeões, o desfecho foi rapidamente desenhado pelos mais desatentos: os alemães, poderosos em praticamente tudo, iriam eliminar tranquilamente os espanhóis e seguir em frente na competição. Mas este Villarreal está longe de ser uma simples nota de rodapé no percurso do Bayern.

E o primeiro a sublinhá-lo era Arnaut Danjuma, o avançado nascido na Nigéria e internacional pelos Países Baixos que tem sido uma das grandes revelações da atual edição da Liga dos Campeões. Para o jogador de 25 anos, que já passou pelo PSV, pelo Club Brugge e pelo Bournemouth, o truque está na refrescante honestidade — mesmo que essa honestidade implique defender que é um dos melhores avançados do mundo.

“Se olharmos para aquilo que já fiz esta temporada, acho que é justo e factual dizer que estou entre os melhores avançados do mundo”, referiu Danjuma em entrevista ao The Guardian, onde reconheceu que ninguém antecipava que o Villarreal pudesse eliminar a Juventus como aconteceu nos oitavos de final. “Acho que muita gente não esperava. Mas nós estávamos à espera. Temos Unai Emery como o capitão do nosso navio e ele tem sempre um masterplan. Quando jogas contra a Juventus, em Itália, tens de se saber que eles ficam um bocadinho impacientes se não marcam golos. Sabíamos que ia aparecer uma oportunidade. Foi isso que aconteceu — aquilo que Unai previu”, acrescentou o neerlandês, que já leva 15 golos em 32 jogos em 2021/22.

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Era neste contexto, depois de ter eliminado a Juventus nos oitavos de final, de ter ficado no segundo lugar do grupo que tinha o Manchester United e a Atalanta e de ter conquistado a Liga Europa na época passada, que o Villarreal recebia o Bayern Munique esta quarta-feira. No Estadio de la Cerámica, os alemães procuravam prolongar a superioridade e poderio apresentados na segunda mão dos oitavos contra o RB Salzburgo, onde golearam os austríacos por 7-1 numa clara demonstração de força. Contudo, e apesar desse resultado, Julian Nagelsmann tinha um ponto assente: Manchester City e Liverpool, pela regularidade, são os grandes favoritos a conquistar a Liga dos Campeões.

Assim, em Espanha, Danjuma era naturalmente titular ao lado de Gerard Moreno, no ataque, e Lo Celso, Capoue, Parejo e Coquelin formavam a linha do meio-campo. No Bayern, Gnabry e Coman eram os escolhidos para fazer companhia a Müller no apoio a Lewandowski, com o jovem Jamal Musiala a começar também de início ao lado de Kimmich, e Leroy Sané era suplente.

Sem que ainda não estivessem cumpridos 10 minutos de jogo, Danjuma fez questão de mostrar o porquê de ter dito tudo o que disse na entrevista ao The Guardian: Moreno soltou Lo Celso na direita e o argentino colocou em Parejo na grande área; o médio rematou, embora fraco e sem grande direção, e Danjuma arriscou ao esticar a perna e desviar a bola, enganando Neuer e abrindo o marcador (8′). A perder, e claramente surpreendido com a forma competente como o Villarreal se apresentava em campo, o Bayern Munique assumiu naturalmente a posse de bola, subiu as linhas e procurou encostar os espanhóis ao próprio meio-campo — mas estava a fazê-lo da maneira errada.

Os alemães tentavam criar momentos de finalização essencialmente através de cruzamentos, pelo ar e pelo chão, mas esse aspeto particular é precisamente um dos pontos fortes da defesa do Villarreal. O primeiro lance mais perigoso do Bayern apareceu já perto da meia-hora, com Lucas Hernández a rematar ao lado (28′), e o Villarreal foi aproveitando o avançar do tempo para se soltar, subir cautelosamente as linhas e apostar nas transições rápidas. Coquelin ainda colocou a bola novamente na baliza de Neuer, com um cruzamento que saiu mal e foi direitinho à malha lateral (41′), e Capoue rematou ao lado já nos descontos (45+1′).

No fim da primeira parte, o Villarreal estava a vencer o Bayern Munique, que tinha de readaptar a estratégia e intensificar as dinâmicas em todos os setores, e ia beneficiando essencialmente da eficácia de Danjuma e da exibição de Lo Celso. O argentino, que está emprestado aos espanhóis pelo Tottenham, estava a ser o melhor em campo e desequilibrava ofensivamente para depois ser fulcral nas tarefas defensivas.

Ninguém mexeu ao intervalo e o Bayern Munique apresentou-se mais concentrado e ligado ao jogo, acumulando oportunidades por Alphonso Davies (48′) e Lucas Hernández (51′) e obrigando o Villarreal a juntar as linhas mais perto da baliza de Rulli. O poderio da transição rápida dos espanhóis, porém, continuava a fazer estragos e viu Moreno a atirar forte de fora de área para acertar em cheio no poste de Neuer (53′).

Unai Emery mexeu à passagem da hora de jogo, ao trocar Coquelin por Pedraza, e Julian Nagelsmann respondeu ao tirar Müller (que teve dos jogos mais apagados da carreira na Liga dos Campeões) e Gnabry para lançar Goretzka e Sané. A dinâmica do encontro partiu à medida que o relógio avançou, com mais espaço a ser criado no meio-campo e a porta a abrir-se a contra-ataques rápidos e transições a poucos passes — contudo, e apesar de ambas as equipas terem estado diversas vezes perto do golo, transparecia a ideia de que o Villarreal estava sempre mais perto de aumentar a vantagem do que o Bayern o estava de empatar.

O Villarreal venceu o Bayern Munique em Espanha, impondo a primeira derrota dos alemães fora de casa na Liga dos Campeões desde 2017: a última havia sido contra o PSG, quando o treinador dos franceses era… Unai Emery. Os espanhóis levam uma magra mas valiosa vantagem para a segunda mão no Allianz Arena, já na próxima semana, e viajam com a certeza que o resultado no La Cerámica até pecou por escasso. Danjuma tinha avisado: este Submarino Amarelo tem sempre um masterplan.