Há pouco menos de um ano, Chelsea e Real Madrid defrontaram-se nas meias-finais da Liga dos Campeões. Na altura, depois de um empate em Espanha, os ingleses venceram em Stamford Bridge e carimbaram o passaporte para a final do Dragão onde acabariam por bater o Manchester City e conquistar o troféu. Pouco menos de um ano depois, agora nos quartos de final, Chelsea e Real Madrid voltavam a defrontar-se na Liga dos Campeões.

E a verdade é que, mesmo dentro da própria equipa inglesa, a importância dessa eliminatória de abril do ano passado tinha pesos distintos para cada pessoa. Para Pulisic, por exemplo, trazia confiança. “Podemos retirar confiança dos resultados do ano passado. Claro que não vai ser fácil mas conseguimos no ano passado e temos de nos sentir confiantes. Deve dar-nos confiança, ainda que não demasiada. Conseguimos e temos a experiência e a confiança de que precisamos neste tipo de jogos”, explicou o internacional norte-americano na antevisão. Mas para Tuchel, por exemplo, não trazia absolutamente nada.

“A época passada não tem nada a ver com este jogo. Nem sequer olhámos para os jogos do ano passado na preparação. Olhámos para os últimos jogos deles mas não para os do ano passado, contra nós. Temos de reagir depois de sábado e jogar da maneira certa, ser intensos, físicos e focados”, defendeu o treinador alemão, referindo-se à goleada sofrida contra o Brentford na última jornada da Premier League.

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Do outro lado, contudo, estava um Real Madrid na liderança da liga espanhola, um Real Madrid que ficou no primeiro lugar do grupo da Liga dos Campeões com mais cinco pontos do que o Inter Milão e um Real Madrid acabado de eliminar o PSG nos oitavos de final. Ainda assim, estava também um Real Madrid que foi recentemente goleado pelo Barcelona em pleno Santiago Bernabéu e onde a consistência não tem sido a palavra de ordem. A boa notícia, pelo meio, estava no banco de suplentes: depois de ter estado infetado com Covid-19 e de nem sequer ter viajado com a equipa para Londres, Carlo Ancelotti testou finalmente negativo num PCR já esta quarta-feira e estava presente em Stamford Bridge.

Dentro de campo, Thomas Tuchel lançou Jorginho no meio-campo, ao invés de Kovacic, e Pulisic e Mason Mount no apoio a Kai Havertz, com Ziyech, Lukaku e Werner a começarem no banco. Nos merengues, Ancelotti não mexia na espinha dorsal habitual, com Modric, Casemiro e Kroos, e colocava Valverde em conjunto com Benzema e Vinícius no trio ofensivo.

Em Stamford Bridge e sem surpresas, o Chelsea procurou agarrar o jogo desde logo e assumir a dianteira da partida. Havertz provou isso mesmo logo nos instantes iniciais, com um remate por cima depois de um grande passe de Kanté (5′), mas o Real Madrid parecia confortável com a ideia de apresentar um bloco baixo e coeso para depois soltar a vertigem no contra-ataque. O primeiro ensaio merengue apareceu à passagem dos 10 minutos, com Vinícius a acertar na barra na sequência de uma transição exímia (10′), e não foi preciso esperar muito mais para ver a equipa de Carlo Ancelotti aliar a eficácia à qualidade das saídas rápidas.

Mesmo com o Chelsea em clara superioridade numérica no momento defensivo, Benzema abriu em Vinícius na esquerda e o brasileiro devolveu ao francês, que com um cabeceamento fortíssimo numa zona ainda recuada da grande área acabou por abrir o marcador (21′). Sem que os ingleses tivessem conseguido sequer esboçar uma reação, escassos três minutos depois, a história repetiu-se: Modric tirou um cruzamento perfeito para a área e Benzema, novamente de cabeça e depois de fugir a Thiago Silva, bisou e aumentou a vantagem do Real Madrid (24′).

A perder por dois golos, o Chelsea subiu a intensidade e a agressividade e aproveitou o natural recuo dos espanhóis para se instalar no meio-campo adversário. Os blues relançaram a partida ainda antes do intervalo, com Havertz a reduzir a desvantagem de cabeça depois de um passe de Jorginho (40′), mas a primeira parte não acabou sem que Benzema tivesse mais uma oportunidade enorme para marcar (42′) e deixasse claro que o Real Madrid iria continuar à procura do golo.

Ao intervalo, de forma expectável, Thomas Tuchel mexeu e tirou Christensen e Kanté para lançar Kovacic e Ziyech. O problema? Benzema nem sequer deu tempo para o Chelsea se reorganizar. Mendy cometeu um erro colossal e falhou o passe para Rüdiger, com o alemão a não conseguir limpar a jogada antes de perder a bola para o avançado francês, que só precisou de atirar para a baliza deserta (46′). Benzema carimbou mais um hat-trick na Liga dos Campeões, depois do que já tinha feito na segunda mão dos oitavos de final contra o PSG, e chegou aos 12 golos nesta edição da competição europeia.

O Chelsea respondeu com um grande remate de Azpilicueta, para uma defesa igualmente extraordinária de Courtois (49′), e Tuchel voltou a mexer para tirar Jorginho e Pulisic e apostar em Loftus-Cheek e Lukaku. Do outro lado, Carlo Ancelotti fez uma substituição ao mesmo tempo mas apenas porque foi forçado — Éder Militão estava com problemas físicos, algo que já tinha acontecido na primeira parte, e deu o lugar ao polivalente Nacho.

Lukaku e Mount ainda tiveram boas oportunidades para reduzir novamente a desvantagem, com um cabeceamento ao lado (69′) e um remate que também falhou o alvo (70′), mas a verdade é que já pouco aconteceu até ao fim entre a ausência de discernimento do Chelsea e a segurança do Real Madrid. Benzema fez um hat-trick pelo segundo jogo consecutivo na Liga dos Campeões, leva 12 golos na competição e, com Ronaldo e Messi já eliminados, assume-se como o único Mr. Champions. E os merengues, por seu lado, levam uma vantagem preciosa para capitalizar na próxima semana no Santiago Bernabéu.