Foi a pior derrota de sempre do treinador português. E uma derrota inesperada perante a realidade de um 2-1 ao intervalo que só parou no 6-1 com três golos em dez minutos na parte final da partida. José Mourinho até pode não estar a atravessar propriamente o momento fulgurante da longa carreira mas se há algo a que habituou tudo e todos foi a reagir da melhor forma ao insucesso. Pode perder, pode perder até por muitos como aconteceu na Noruega, mas não se deixa enganar outra vez. Pelo menos era assim, pela Roma e contra o (até agora) desconhecido Bodo/Glimt deixou de ser. E os nórdicos continuavam a sair por cima.

Mourinho nunca tinha ido ao “lindo sítio” que é a Noruega e não deve querer voltar em breve: A Roma foi goleada pelo Bodo/Glimt (6-1)

Ainda na fase de grupos da Conference League mas no Olímpico da capital transalpina, a equipa norueguesa ameaçou nova vitória mas conseguiu mesmo assim repartir os pontos em disputa com um golo do central Ibañez a seis minutos do final. Agora, no reencontro a contar para os quartos da mesma competição, Lorenzo Pellegrini até adiantou a formação romana antes do intervalo mas um “frango” de Rui Patrício e um golo de Vetlesen em cima do minuto 90 na sequência de uma bola parada voltaram a dar a vitória ao Bodo/Glimt antes de uma segunda mão que prometia ser escaldante em Itália após tudo o que aconteceu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mourinho disse no final da goleada na Noruega que só 13 jogadores representavam a equipa mas nem eles conseguiram ganhar ao Bodo/Glimt

Depois de acusações dos dois lados sobre a confusão que se gerou no final da partida no túnel de acesso aos balneários, o jornal inglês The Independent publicou um vídeo que mostra tudo o que se passou e que fez com que a UEFA confirmasse o processo disciplinar que estava em curso e que levou à suspensão provisória de Kjetil Knutsen, técnico principal do Bodo/Glimt, e Nuno Santos, treinador de guarda-redes da Roma. Aí, não sobram grandes dúvidas: as agressões foram mútuas. E o ambiente crispado entre as duas partes antes da segunda mão era mais do que evidente, com os noruegueses a apontarem o dedo a José Mourinho.

“Cheguei a considerar até se era realmente uma boa ideia continuar a trabalhar no futebol. O que aconteceu está tão longe dos meus valores, dos valores do clube e do futebol norueguês. Nestas situações, é preciso encontrar forças para reagir da melhor maneira possível. A coisa mais importante para mim é conseguir olhar-me ao espelho. Se não o conseguisse fazer mais, realmente precisaria de considerar se isto ainda valia a pena. Este tipo de atitude [de Mourinho] é chocante. Os valores dele e a sua maneira de treinar estão muito longe do que eu represento. É incrivelmente desapontante ver um comportamento assim de um treinador tão titulado e que faz parte deste desporto há tanto tempo”, criticou o castigado Kjetil Knutsen.

“Não penso nisso, a UEFA pensa nisso. Eu não decido, a UEFA decide. Se algo podia ter sido feito de forma diferente? Claro que sim”, respondeu Mourinho, preferindo focar atenções na partida e na eliminatória que recomeçava com uma desvantagem de 2-1: “Não vejo os meus jogadores tensos. A primeira derrota foi histórica para o clube, mas tivemos um comportamento exemplar, tivemos fair play. Normalmente as pessoas reagem de forma negativa mas reagimos com honra, apesar da humilhação. Disputámos mais dois encontros com eles, não houve dificuldades e o que aconteceu na última quinta-feira foi fora de contexto, um episódio mau mas isolado. Espero um grande jogo, com essa vantagem de jogarmos em casa, diante dos nossos adeptos. Que ganhe a melhor equipa e estou convencido que a melhor equipa somos nós”.

Nada foi feito ao acaso, até o treino de grandes penalidades mesmo não sendo cenário desejado. E a ideia passou da teoria à prática com meia hora verdadeiramente avassaladora em que a Roma fez dez remates a consentir apenas um mesmo tendo menos posse de bola (47%): Tammy Abraham inaugurou o marcador aproveitando um ressalto na área após canto (5′), Zaniolo fez o 2-0 na sequência de uma fantástica jogada ao primeiro toque pelo corredor central que teve a assistência final de Abraham (23′) e o mesmo Zaniolo marcou o 3-0 após grande passe de Zalewski numa jogada rápida que começou num pontapé de canto do Bodo/Glimt (29′). À semelhança do que tinha acontecido no dérbi com a Lazio, quase tudo estava resolvido ao intervalo com o Olímpico de Roma a ser um autêntico vulcão em mais uma casa cheia.

Os vários adeptos noruegueses que se tinham deslocado a Itália com camisolas do Bodo/Glimt que tinham “Mourinho 6-1” nas costas recordando a goleada na fase de grupos já tinham perdido as razões para sorrir mas, apesar da gestão que marcou a última meia hora da partida, as contas não estavam fechadas e Zaniolo ainda foi a tempo de marcar o hat-trick num fabuloso remate cruzado de pé esquerdo (49′). E as melhores oportunidades até ao final pertenceram mesmo aos transalpinos, numa noite a todo o gás que valeu a passagem às meias-finais da Conference League onde surgirá agora pela frente os ingleses do Leicester, que venceram em casa o PSV por 2-1 após o nulo nos Países Baixos com um golo do português Ricardo Pereira.