A ameaça foi feita, terça-feira passada, por carta diplomática. Se os Estados Unidos continuarem a armar a Ucrânia, haverá “consequências imprevisíveis” para a segurança mundial. O título da nota diplomática, enviada em russo e em inglês, ilustra bem o que se segue: “Sobre as preocupações da Rússia no contexto do fornecimento em massa de armas e equipamentos militares ao regime de Kiev”. O remetente foi a Embaixada da Rússia em Washington, o destinatário o Departamento de Estado — nenhum deles quis comentar a notícia avançada pelo The Washington Post, que teve acesso a uma cópia do documento.

O Presidente russo, Vladimir Putin, já tinha feito a ameaça. A 24 de fevereiro, no discurso televisivo em que anunciou a invasão da Ucrânia, avisou que o Ocidente enfrentaria “consequências maiores do que qualquer outra que enfrentou na história” se se envolvesse no conflito.

No documento agora enviado, o Kremlin acusa os Estados Unidos e os seus aliados de violarem “princípios rigorosos” que regem a transferência de armas para zonas de conflito e de ignorar “a ameaça de armas de alta precisão” que venham a cair na mãos de “nacionalistas radicais, extremistas e forças de bandidos na Ucrânia”.

Por outro lado, alega que a NATO está a pressionar a Ucrânia a abandonar as negociações de paz — onde, até agora, não se chegou a qualquer acordo — “para continuar o derramamento de sangue”.

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“Pedimos aos Estados Unidos e aos seus aliados que parem com a militarização irresponsável da Ucrânia, que implica consequências imprevisíveis para a segurança regional e internacional”, lê-se na nota.

A nota surge depois de ter sido tornado público um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia no valor de 800 milhões de dólares (cerca de 740 milhões de euros). Entre as armas enviadas estão obuses de 155 mm, drones de defesa, veículos blindados e milhões de cartuchos de munições, entre outros.

“O que os russos nos estão a dizendo em particular é precisamente o que temos dito publicamente ao mundo – que a enorme quantidade de assistência que estamos a fornecer aos nossos parceiros ucranianos está a ser extraordinariamente eficaz”, disse ao jornal norte-americano um alto funcionário do governo, falando sob anonimato.