Começou por ser apenas um entre tantos miúdos que aproveitavam as “boleias” de familiares ou amigos para agarrar no cachecol e rumar ao Campo da Constituição, o recinto que recebia os jogos do futebol do FC Porto nos anos 40. No entanto, poucos poderiam adivinhar que ali estava um diferente de todos os outros. Para ele, para o clube, para o desporto nacional. E ao longo de mais de seis décadas Jorge Nuno Pinto da Costa foi um pouco de tudo para os dragões, num trajeto que começou quando tinha apenas cerca de 20 anos.

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De vogal da secção de hóquei em patins, uma das suas modalidades preferidas, a responsável pelas secções de hóquei em campo ou boxe (onde conheceu o amigo Reinaldo Teles), Pinto da Costa foi subindo ano após ano na estrutura azul e branca. Em 1969 e durante dois anos tornou-se chefe de todas as modalidades do clube com Afonso Pinto de Magalhães no comando. Saiu por considerar que era necessário renovar as listas mas não resistiu ao desafio de voltar alguns anos depois, assumindo o departamento de futebol em 1976 quando Américo de Sá era o presidente tendo José Maria Pedroto como treinador. Quebrou o maior jejum sem vitórias de Campeonato mas voltou a sair, não gostando da forma como o então líder lidou com uma derrota na Taça de Portugal, no Jamor, frente ao Benfica. Mais uma vez, seria por pouco tempo.

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No final do ano de 1981, um grupo de sócios encontrou-se com Pinto da Costa para lhe pedir que liderasse uma lista às eleições do FC Porto. O “sim” não foi imediato mas lá surgiu, para um sufrágio onde avançou como candidato único. A 17 de abril de 1982, tornava-se presidente dos dragões. Até hoje. E até os recordes internacionais que muitos consideravam ser impossíveis de bater, como a duração da liderança do Real Madrid por Santiago Bernabéu, tornaram-se meros pontos de referência ao longo de quatro décadas.

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Olhando apenas para o futebol, o FC Porto contava com sete Campeonatos, quatro Taças de Portugal e uma Supertaça até à chegada de Pinto da Costa à presidência dos azuis e brancos; com ele, ganhou mais um total de 63 títulos, entre os quais sete internacionais (duas Taça dos Campeões Europeus/Champions, duas Taça UEFA/Liga Europa, duas Taças Intercontinentais e uma Supertaça Europeia) que se juntaram aos 22 Campeonatos, às 13 Taças de Portugal e às 21 Supertaças num currículo onde falta só a Taça da Liga. Nas modalidades, entre vários marcos, destacam-se os primeiros títulos do hóquei em patins (que mais tarde viria a ser campeão dez anos seguidos) ou as quebras dos longos jejuns no andebol e no basquetebol.

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Nessa eleição de 1982, Pinto da Costa não fazia muitas promessas mas aquelas que fazia eram concretas: trazer José Maria Pedroto de novo para o comando do futebol, resgatar Fernando Gomes ao Sp. Gijón para poder mais tarde aspirar a uma final europeia, rebaixar o estádio das Antas para aumentar a lotação em 20 mil lugares e publicar uma revista de grande qualidade do clube (a Dragões). Cumpriu. E, 40 anos depois, juntou a tudo isso o Estádio do Dragão, o Centro de Treinos do Olival, o Dragão Arena e o Museu, sonhando ainda com a Cidade do FC Porto anunciada no último sufrágio (o primeiro em que teve dois adversários), “um conjunto de instalações de ponta que será muito mais do que um centro de treinos ou de estágio”.

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