Depois da vitória na primeira fase do playoff com dois triunfos frente à Suíça, Paulo Jorge Pereira explicara que seria mais fácil preparar a eliminatória decisiva com os Países Baixos tendo em conta a derrota no jogo decisivo da primeira fase do Europeu. E a justificação era simples: os pontos fortes estavam identificados, as reuniões individuais com os jogadores tinham versado os problemas detetados nesse mesmo encontro e era um momento que permitia uma “identificação do caminho” para voltar aos bons resultados. Na teoria, tudo certo e compreensível; na prática, um trajeto na mesma complicado. E a derrota na primeira mão que se realizou em Portimão, com uma desvantagem de três golos, foi um espelho dessa fronteira entre saber o que se deve fazer e fazer o que se sabe que tem de ser feito. Agora, sobravam 60 minutos para a redenção.

Gustavo deu-lhes a mão mas desta vez o milagre ficou a meio: Portugal perde com Países Baixos e está fora do Europeu

“Vai ser muito, muito difícil mas não é impossível e acreditamos no trabalho que temos vindo a fazer. Os Países Baixos são uma equipa que se estão a preparar muito ao longo destes anos, criaram uma grande estrutura e sabem o que estão a fazer. A nós compete-nos continuar a trabalhar e conquistar um resultado positivo, que é o mais importante, e dar essa reviravolta em que todos acreditamos. Para isso temos que estar concentrados, trabalhar e ser mais do que uma equipa, para podermos ganhar”, destacara Alexis Borges na antecâmara da decisão em Eindhoven, quase que puxando por aquele sentimento de Heróis do Mar que catapultou a Seleção Nacional para os melhores resultados em Europeus e Mundiais desde 2020.

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A “vingança” pode esperar mais uma hora: Portugal perde com Países Baixos mas ainda sonha com Mundial

“Eles têm uma transição muito boa e são muito fortes a jogar 1×1. Temos que melhorar a nossa finalização e fazer golos seguros para evitar um pouco a transição. Mas o importante é recuperar defensivamente, que foi onde eles aproveitaram o máximo. Se conseguimos parar essas duas coisas, tanto o 1×1 como o 2×2 e a transição deles, acho vão sentir muitas dificuldades pois essa é a chave do jogo deles”, acrescentara numa espécie de resumo dos pontos fortes dos neerlandeses que fizeram a diferença em Portimão e que apareciam como a principal ameaça a Portugal, que sentiu grandes dificuldades com o trabalho ofensivo da primeira linha dos Países Baixos mesmo tendo vantagem física e de estatura e com as saídas rápidas para procurar situações de remate rápidas que deram muitas vezes contra golo logo após as finalizações nacionais.

A eliminatória colocava em confronto duas das seleções que mais têm evoluído nos últimos anos no plano internacional mas apenas uma poderia estar presente no Mundial e a “final” de Eindhoven foi um autêntico hino à modalidade com muita emoção, incerteza e qualidade técnica. E a vaga foi mesmo para Portugal, que carimbou a quinta presença na fase final com uma exibição de sonho assente no brilho dos estreantes irmãos Costa e dos guarda-redes, primeiro Gustavo Capdeville e depois Miguel Espinha.

Portugal teve uma entrada que prometeu com algumas mexidas em relação ao que se passara em Portimão: Iturriza apenas a defender ficando Alexis Borges no ataque, uma primeira linha completamente renovada com os irmãos Martim e Francisco Costa com Miguel Martins, uma maior capacidade de atirar e marcar dos nove metros, um Gustavo Capdeville com cinco defesas a abrir. Foi assim que, de forma paciente, a Seleção chegou aos dez minutos iniciais com dois golos de vantagem (7-5), conseguindo em várias ocasiões travar as saídas rápidas dos neerlandeses e tendo sobretudo dificuldades com as rotações exteriores do pivô que foram dando vários livres de sete metros a Kay Smits. Continuava muito difícil mas não era impossível.

Erlingur Richardsson, islandês que tem liderado os Países Baixos nesta ascensão no panorama internacional, tentava de tudo para inverter o rumo da partida, apostando em sistemas defensivos 5:1 e 3:2:1 para provocar outras dificuldades à primeira linha portuguesa, a fazer uma primeira parte de sonho em Eindhoven não só a marcar mas a jogar com o pivô, fosse ele Alexis Borges ou Victor Iturriza. E foi assim que pela primeira vez Portugal passou para a frente da eliminatória com um golo de Kiko Costa a fazer o 11-7 antes de mais defesas espectaculares de Gustavo Capdeville que foram mantendo os três golos de avanço com apenas três golos de transições ou contra-ataques. O intervalo chegou com uma vantagem de 17-15, com o período menos conseguido até então com dois ataques seguidos falhados, mas com tudo em aberto e Capdeville como a principal figura com 40% de eficácia (nove defesas em 23 remates) e sete golos dos irmãos Costa (4+3).

A máxima vantagem da primeira parte tinha sido de cinco golos (14-9) mas as mexidas que os Países Baixos foram fazendo criaram um pouco mais de dificuldades à Seleção Nacional, que cumpria ainda assim a missão de levar a eliminatória para a segunda parte que começou com a segunda exclusão de Alexis Borges que iria deixar Portugal a ganhar por 18-16 jogando com menos um e que não provocou “mossa” logo aí apesar de um dos raros turnovers no ataque mas que daria pouco depois o empate a 19 antes de uma paragem técnica de Paulo Jorge Pereira que acalmou a equipa e recolocou de novo o avanço nos três golos (23-20). Chegava o momento de todas as decisões com os Países Baixos a andarem em desvantagens mais curtas de um/dois.

Depois de ter entrado apenas para tentar travar livres de sete metros na primeira parte, Miguel Espinha foi chamado para a parte final da partida e conseguiu um total de cinco defesas quase seguidas que mudaram por completo a partida, conferindo um avanço de seis golos (31-25) também com Martim Costa a voltar de novo aos remates certeiros quando Portugal mais precisava até a um triunfo fantástico por 35-28. Mesmo com várias baixas na equipa como André Gomes, Daymaro Salina, Luís Frade ou Salvador Salvador, a Seleção conseguiu aquela exibição de sonho que tanto procurava depois do Europeu e está no Mundial.