A televisão russa está a divulgar excertos de um vídeo, editado, com uma pretensa entrevista a Shaun Pinner, o segundo ex-soldado britânico capturado pelas forças russas na cidade sitiada de Mariupol.
Nas imagens, Shaun, 48 anos, natural de Bedfordshire e a viver na Ucrânia, país-Natal da sua mulher, Larysa, há cerca de quatro anos, surge visivelmente cansado mas aparentemente sem sinais de violência. “Olá, sou o Shaun Pinner. Sou um cidadão do Reino Unido. Fui capturado em Mariupol. Faço parte da 36.ª Brigada do Primeiro Batalhão de Fuzileiros Ucranianos. Estive a lutar em Mariupol durante cinco ou seis semanas e agora estou na República Popular de Donetsk”, diz o ex-soldado do Regimento Anglicano Real, que, segundo a família, esteve em comissões na Irlanda do Norte e na Bósnia, com as Nações Unidas.
Another British Merc – 48 yr Shaun Pinner, was captured in #Mariupol by Russian forces.
So, will Zelenskyy and the British Gov fight his corner for a prisoner exchange deal? or will he rot there?Two things are infinite: the universe and the human stupidity.
— Albert Einstein, pic.twitter.com/JDHJMPoj9w— Johann Felsinger (@FelsingerJohann) April 17, 2022
A segunda parte das declarações que a televisão russa lhe imputa foi proferida não diretamente por Shaun Pinner, em inglês, mas surge apenas em russo, pela voz de Andrey Rudenko, o entrevistador, conhecido repórter pró-Kremlin, na pretensa tradução das suas palavras: “O militar da 36.ª Brigada diz que o comandante os mandou sair para serem mortos para depois poder fazer deles heróis”.
Shaun Pinner combatia noutra unidade mas na mesma cidade que o amigo Aiden Aslin, de 28 anos, o primeiro combatente estrangeiro, também britânico, a render-se às tropas russas em Mariupol na semana passada, e que entretanto surgiu igualmente numa entrevista conduzida em russo, mas com sinais evidentes de espancamento.
Britânico que se rendeu aos russos aparece espancado em vídeo
Em janeiro, ao Mail ao Sunday, Shaun Pinner explicou por que motivos estava a combater na Ucrânia: “Estou aqui a defender a minha família e a minha cidade de adoção. A Rússia começou esta guerra. É financiada pela Rússia e impulsionada pela Rússia, mas nós vamos combatê-los, não se enganem quanto a isso”. Questionado sobre o receio de ser capturado pelas forças inimigas, o soldado prenunciou o que agora lhe aconteceu: “Temo pela minha vida. Os russos vão tratar-nos de forma diferente se formos capturados porque somos britânicos. Isso está sempre na minha mente, que vou ser capturado”.
Agora, em declarações ao Guardian, o ex-marine americano Jayson Pihajlic, que lutou com Pinner e Aslin na Síria, contra o Estado Islâmico, fez questão de ressalvar que ambos os homens lutaram na Ucrânia “como voluntários, não como mercenários” e que devem ser considerados “porta-estandartes da democracia”. “É horrível de se ver. Estão obviamente a ser espancados e isso é o mínimo que podemos dizer — quem sabe o que mais se está a passar. Estão a ser rotulados como mercenários, mas estes tipos não são mercenários — são soldados ucranianos.”
Este domingo, a família de Shaun Pinner divulgou um comunicado, a contar a história do soldado e a exigir a intervenção imediata do governo britânico. “Em 2018, Shaun decidiu mudar-se para a Ucrânia para utilizar a sua experiência e formação no seio das forças armadas ucranianas. Shaun apreciou o estilo de vida ucraniano e considerou a Ucrânia como o seu país adotivo nos últimos quatro anos. Durante este tempo, ele conheceu a sua esposa ucraniana, que está muito concentrada nas necessidades humanitárias do país”, pode ler-se no texto, citado pelo Daily Mail.
“Progrediu para os fuzileiros ucranianos como um membro orgulhoso da sua unidade. No final de 2022, o seu contrato de 3 anos acaba e ele estava a planear enveredar por um papel humanitário dentro da Ucrânia”, continua a família de Shaun Pinner, que também faz questão de frisar que o soldado não é um mercenário mas um membro efetivo do exército de Kiev.
A família do amigo Aiden Aslin, que até há quatro anos trabalhava como assistente social perto de Nottingham, fez o mesmo e também deu início a uma campanha junto dos meios de comunicação para exigir a sua libertação “Ele parece ter sido duramente atingido, e é tempo de o governo britânico intervir para assegurar a sua libertação. Aiden tem dupla nacionalidade e servia atualmente no exército ucraniano como soldado. Ele não é um mercenário, mas um voluntário, e agora um prisioneiro de guerra que deve ser tratado com humanidade”, disse a mãe do soldado, Ang Wood, explicando que foi por causa da namorada, de Mykolaiv, que Aslin se mudou para aquele país e decidiu, em 2018, alistar-se no exército ucraniano.
Ambos os soldados britânicos pediram nos vídeos entretanto partilhados pela televisão estatal russa para serem trocados por Viktor Medvedchuk, o oligarga e político pró-russo e próximo de Vladimir Putin que foi, por seu turno, capturado pelas forças ucranianas.