O líder supremo do Afeganistão pediu esta sexta-feira à comunidade internacional que reconheça o Governo talibã, alegando que o mundo se tornou uma “pequena aldeia” e que o restabelecimento das relações diplomáticas ajudaria a resolver problemas do país.
Nenhum país reconheceu formalmente o novo regime afegão, instaurado pelos talibãs em agosto passado, depois dos militares norte-americanos e aliados se terem retirado do país.
Em mensagem divulgada esta sexta-feira, poucos dias antes do Eid al-Fitr, o “festival da quebra do jejum” que marca o fim do mês do Ramadão, o líder supremo, Hibatullah Akhundzada, fez um apelo ao mundo, mas sem dar garantias de cumprimento das exigências que o ocidente tem feito, como a reabertura das escolas secundárias para meninas.
O líder supremo referiu, aliás, acreditar que a prioridade é o reconhecimento do Governo “para que se possam resolver os problemas formalmente e de acordo com as normas e princípios diplomáticos”.
“Não há dúvidas de que o mundo se transformou numa pequena aldeia”, acrescentou Akhundzada, que vive recluso em Kandahar, o centro espiritual dos talibãs, e apareceu pela última vez em público em outubro.
O Afeganistão tem o seu papel a desempenhar na paz e estabilidade mundial. Como tal, o mundo deve reconhecer o Emirado Islâmico”, acrescentou.
Esta mensagem foi publicada numa altura em que a situação de segurança parece estar a deteriorar-se novamente no Afeganistão, depois de ter melhorado quando os talibãs chegaram ao poder.
Vários ataques bombistas, muitas vezes reivindicados pelo grupo autoproclamado Estado Islâmico e visando a minoria xiita Hazara, foram realizados nas últimas semanas em todo o país.
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Akhundzada não fez alusão direta à situação, mas congratulou-se com facto de o Afeganistão ter sido capaz de criar “um forte exército islâmico e nacional” e um “sólido serviço de inteligência”.
Grande parte da comunidade internacional tem feito depender o reconhecimento ao Governo e a atribuição de ajuda humanitária de que o Afeganistão precisa desesperadamente ao respeito pelos direitos das mulheres.
Quando voltaram ao poder, os talibãs prometeram ser mais flexíveis do que durante o seu primeiro regime (1996-2001), quando as mulheres foram privadas de quase todos os seus direitos.
No entanto, têm demonstrado que pretendem voltar ao mesmo regime, diminuindo gradualmente os direitos e a liberdade das mulheres.
Atualmente, as mulheres e raparigas afegãs não podem trabalhar em serviços públicos, estão proibidas de viajar sozinhas e são forçadas a vestir-se de acordo com uma interpretação restrita da sharia, a lei islâmica.