O governador do estado norte-americano de Oklahoma promulgou esta terça-feira uma nova lei que proíbe o aborto a partir do momento em que for possível detetar o batimento cardíaco do feto — uma lei praticamente decalcada do diploma aprovado no ano passado no Texas, que reabriu nos Estados Unidos o debate em torno do aborto.

A decisão acontece justamente num dia em que a possibilidade de o Supremo Tribunal dos EUA revogar a lei do aborto está novamente em cima da mesa, depois de o Politico ter divulgado um rascunho de uma decisão que poderá no futuro próximo proibir a maior parte dos abortos após as 15 semanas de gestação, sem quaisquer exceções para casos de violação ou incesto (uma polémica que o Observador explica esta terça-feira em oito perguntas e respostas).

“Abominável”. Supremo dos EUA pondera revogar lei do aborto que tem 50 anos. O que está em causa?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo a televisão norte-americana ABC, a lei estadual batizada com o nome “Lei do Batimento Cardíaco do Oklahoma” proíbe a generalidade dos abortos em situações em que o batimento cardíaco do feto já tenha sido detetado, algo que ocorre por volta das seis semanas de gestação, muitas vezes antes de a mulher saber que está grávida.

As únicas exceções previstas na lei dizem respeito a situações em que os médicos concluam que a vida da mãe está em risco. Não se prevê qualquer exceção para casos em que a gravidez resulta de uma violação ou de incesto.

Além disso, a nova lei também inclui a possibilidade de qualquer cidadão poder mover um processo civil contra qualquer pessoa que realize, pretenda realizar ou ajude uma mulher a realizar um aborto depois da deteção do batimento cardíaco. Quem move o processo pode pedir até 10 mil dólares em indemnizações por parte da pessoa que realizou o aborto — embora a lei não permita que a mulher cuja gravidez é interrompida seja processada, nem permita que a pessoa que engravidou a mulher em casos de violação ou incesto mova um processo contra a grávida.

Quero que o Oklahoma seja o estado mais pró-vida no país, porque represento todas as quatro milhões de pessoas dos Oklahoma que querem proteger os que ainda não nasceram”, escreveu no Twitter o governador Kevin Stitt, depois de assinar a promulgação da nova lei.

O Oklahoma é o segundo estado a copiar a polémica lei aprovado no ano passado no Texas — o Idaho já o tinha feito em março deste ano. Ainda de acordo com a ABC, a lei vai entrar em vigor imediatamente, uma vez que inclui uma cláusula de emergência.

Simultaneamente, o governador do Oklahoma já tinha assinado uma outra lei que classifica como crime qualquer aborto exceto em situações em que a vida da mãe esteja em causa — uma lei que tem sido alvo de duras críticas por parte de organizações de defesa dos direitos das mulheres.

Os direitos conquistados no caso “Roe contra Wade” há 50 anos estão em risco? O Texas pôs os Estados Unidos a discutir o futuro do aborto

Vários estados atualmente liderados por governadores republicanos têm vindo a aprovar leis estaduais que limitam o direito ao aborto, numa altura em que o Supremo Tribunal poderá vir a reverter a jurisprudência do célebre mas polémico caso “Roe contra Wade”, que atualmente permite às mulheres abortarem até às 23 semanas e proíbe os estados de legislarem de forma contrária.