Apenas um em cada cinco portugueses (concretamente, 18,6%) cujos pais estudaram até ao 9.º ano conseguiram tirar um curso superior. Esta percentagem desce para os 10% nos casos em que a família tem uma má situação financeira.
As conclusões constam no boletim económico de maio do Banco de Portugal, onde o regulador procurou saber de que forma é que as qualificações dos pais “condicionam a obtenção de qualificações” pelos seus filhos. A instituição liderada por Mário Centeno olhou para os resultados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento do Eurostat, relativos a 2019, concluindo que é “evidente” o papel da educação dos progenitores na obtenção de graus de qualificação pelos filhos.
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Segundo o estudo, apresentado numa caixa do boletim, a grande maioria (73,2%) dos portugueses cujos progenitores tinham o ensino superior também completaram esse grau. Por outro lado, 55,9% dos filhos que tinham pais com escolaridade até ao 9.º ano não foram além do mesmo nível de escolaridade.
É, portanto, mais difícil para quem tem baixas qualificações conseguir transmitir aos filhos um grau de formação superior: menos de 20% dos portugueses com pais que têm até ao 9.º ano obtiveram um grau de ensino superior, uma das percentagens mais baixas entre os países analisados pelo Banco de Portugal (além de Portugal, Itália, Alemanha, Grécia, Bélgica e França).
Mas o Banco de Portugal junta uma outra variável à equação, além da educação: a situação financeira dos pais (e a sua capacidade de pagar os estudos dos filhos), que não está dissociada da escolaridade. “Sem surpresa, existe uma associação positiva entre a educação dos pais e a situação financeira quando os respondentes eram jovens”, indica a instituição. Por exemplo, no caso das famílias cujos pais tinham formação até ao 9.º ano, cerca de 36% reportaram terem passado por uma má situação financeira. Esta percentagem cai para os 6% nas famílias em que os progenitores têm ensino superior.
O Banco de Portugal aponta que a situação financeira “condiciona a progressão nos percursos escolares em todos os países” estudados: apenas 10% dos filhos de pais com o 9.º ano alcançaram o ensino superior quando a situação financeira era má — quase três vezes menos do que quando a situação era boa (27%). Portugal é mesmo um dos países estudados “em que o impacto da situação financeira sobre os percursos escolares é mais acentuado”. Para Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, estas desigualdades são “o maior entrave ao desenvolvimento de qualquer país”.
Ainda assim, Portugal tem registado um aumento das qualificações: em 2020, 79% das pessoas com 25 a 34 anos tinham, pelo menos, o ensino secundário, enquanto no grupo dos 55 aos 64 anos essa percentagem era de 35,1%.
O Banco de Portugal sublinha a necessidade de se estudarem os mecanismos de transmissão intergeracional da educação para que o país possa adaptar as políticas públicas.