Sete meses depois da derrota em Lisboa, Fernando Medina voltou esta noite noutro fato para falar aos socialistas da capital sobre o Orçamento do Estado que entregou na Assembleia da República. O ministro das Finanças viu-se “a jogar em casa” — ainda que a última memória não seja a mais feliz — e avisou que terá uma gestão orçamental de “passos seguros na proteção do país para um tempo que pode vir a ser mais exigente do que o que hoje vivemos”. Dos socialistas ouviu preocupações sobre o aumento de preços dos bens de consumo e as convulsões sociais que a situação pode (e já está a) suscitar.

A incerteza provocada por uma guerra na Europa cauciona o discurso de Medina que pretende “manter espaço de manobra” do ponto de vista orçamental, para “precaver, em épocas de maior crescimento, um futuro que possa ser mais incerto”, referindo-se à possibilidade de um aumento das taxas de juro.

Sérgio Cintra, presidente da concelhia de Lisboa do PS, recebeu Medina com “saudades”: “Tivemos saudades do Fernando”. E arrancou um longo aplauso à plateia socialista reunida no Hotel Roma para ouvir o agora ministro das Finanças apresentar o Orçamento. Uma proposta que “reforça a proposta política” do PS, garantiu com a “consciência de que não resolve todos os problemas, mas que é coerente no caminho de proteção das famílias, do investimento e de prossecução da trajetória de controlo do défice e da dívida”.

E neste capítulo levava uma tirada para a esquerda parlamentar onde Medina diz ver “pronunciamentos como se não houvesse dia de amanhã,  como se o défice e a dívida não tivessem influência na vida dos cidadãos”.

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Para a direita guardou críticas à acusação que tem feito a uma linha austeritária deste Orçamento. Medina diz que “apelidam de austeridade o que não tem sinal de austeridade, mas de responsabilidade das políticas que seguimos como se não tivéssemos memória do que há um tempo defendiam”.

Socialistas preocupados com aumento de preços e manifestações

Na parte fechada da reunião, os socialistas mostraram-se preocupados com o aumento dos preços dos bens essenciais que o ministro já explicou que não será acompanhado por um aumento de salários na mesma medida do aumento da inflação, segundo apurou o Observador. Grande parte das intervenções da noite dos militantes do PS foram sobre isto mesmo, com referências a receios que a situação seja “aproveitada em manifestações públicas“.

Um dos intervenientes apontou mesmo o caso concreto dos pensionistas e para a manifestação desta quarta-feira organizada pela organização de reformados da CGTP a Inter-Reformados, e pela Confederação de Reformados, Pensionistas e idosos (MURPI).

Medina respondeu com a estratégia orçamental de mitigar os aumentos dos preços de alguns bens (explicando o impacto que o aumento da energia tem em tudo isto) e apoiar rendimentos dos grupos sociais mais atingidos. Também repetiu a ideia de “transitoriedade” da situação, embora tenha sido cauteloso referindo que o diz de acordo com os dados atuais. O ministro acredita estar a “fazer o adequado”, embora saiba que “não resolvem tudo” — uma ideia que tinha deixado já na intervenção inicial.

O ministro socialista diz que a situação pode mudar e que o Governo estará preparado para se adaptar a uma situação diferente da atual, sublinhando mais do que uma vez que este é um fenómeno que não é nacional.

Artigo atualizado às 00h20 com mais informações sobre a parte da reunião à porta fechada.